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Início

Memorial do convento

José Saramago

10. Para além da obra

9. Estilo/Linguagem

8. Intertextualidade

7. Críticas

6. Os espaços

5. As Personagens

4. As referências históricas

3. Linhas de ação

2. O título

1. O autor

Índice

  • José Saramago nasceu em 1922, na aldeia de Azinhaga;
  • Passava as noites na biblioteca pública do Palácio Galveias, em Lisboa, que foram fundamentais para a sua formação;
  • Em 1947 publicou o seu primeiro livro que intitulou "A Viúva";
  • No final dos anos 50 tornou-se responsável pela produção na Editorial Estúdios Cor, função que conjugaria com a de tradutor;
  • Em 1971 assumiu funções de editorialista no Diário de Lisboa;
  • Em abril de 1975 é nomeado director-adjunto do Diário de Notícias.

José SAramago

José Saramago

José Saramago recebeu:

  • O prémio: Comendador da Ordem Militar de Santiago de Espada (1985);
  • O prémio: Cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras Francesas (1991);
  • Prémio Camões (1995);
  • Prémio Nobel de Literatura (1998);
  • Doutor Honoris Causa (1999), pela Universidade de Nottinghan, na Inglaterra;
  • Doutor Honoris Causa (2004), pela Universidade de Coimbra.

  • O título do romance sugere que o seu protagonista seja o Convento de Mafra, ou o processo da sua edificação desde o voto régio para o nascimento da sua primeira filha e o início dos trabalhos em 1716 até à sua consagração (estando ainda incompleto) em 1730.
  • Mas o colosso arquitetónico aparece claramente como expressão e produto de um dado absolutismo monárquico, de uma dada sociedade exteriormente pomposa, magnificente ou megalómana, e interiormente corroída de fraquezas, conflitos, hipocrisias, vícios ou podridões e assente na faraónica exploração e coação da grande maioria.

Significados

O título

11

10

  • Factos que são considerados históricos por poderem ser comprovados em livros e crónicas da época:

As referências ao Convento de Mafra, na generalidade correspondem à verdade histórica, por exemplo, a benção da primeira pedra do convento, cujas cerimónias tiveram início às 7h da manhã do dia 17 de Novembro de 1717.

As referências históricas

Linhas de Ação

  • Era uma vez um rei que fez a promessa de levantar um convento em Mafra.
  • Era uma vez gente que construiu esse convento.
  • Era uma vez um soldado maneta e uma mulher que tinha poderes.
  • Era uma vez um padre que queria voar e morreu doido.

Linhas de ação

SARAMAGO, José,2015. Memorial do Convento, 56.ªed.Porto: Porto Editora (Capítulo XII)

“...e foi confirmado pelo vigário no sermão, que vinha el-rei a inaugurar a obra da raiz dos caboucos para cima, colocando com as suas reais mãos a primeira pedra. Primeiro se anunciou que seria aos tantos de Outubro, mas não houve tempo para cavar os alicerces até à sua conveniente fundura, apesar de serem seiscentos os homens, apesar dos muitos tiros de pólvora que a todas as horas do dia vão atroando os ares, será então em Novembro, meados dele, depois não pode ser, que já seria como de Inverno, andar aí el-rei enterrado na lama até às ligas das pernas.”

Inauguração da Primeira Pedra

  • Era uma vez gente que construiu esse convento.

Linhas de ação

SARAMAGO, José,2015. Memorial do Convento, 56.ªed.Porto: Porto Editora (Capítulo XVII)

“Sabia já Baltasar que o sítio onde se encontrava era conhecido pelo nome de Ilha da Madeira, e bem posto lhe fora, porque, tirando umas poucas casas de pedra e cal, todo o mais era de tabuado, mas construído para durar. Havia oficinas de ferreiros, bem que podia Baltasar ter mencionado a sua experiência de forja, nem tudo lembra, e outras artes de que nada sabia, mais tarde se juntarão as dos latoeiros, dos vidraceiros, dos pintores, e quantas mais. Muitas das casas de madeira tinham sobrados, em baixo acomodavam-se as bestas e os bois, em cima as pessoas de muita ou alguma distinção, os mestres da obra, os matriculadores e outros senhores da vedoria-geral, e oficiais da guerra que governavam os soldados.”

Visita de Baltasar à “Ilha da Madeira”

  • Era uma vez gente que construiu esse convento.

Linhas de ação

SARAMAGO, José,2015. Memorial do Convento, 56.ªed.Porto: Porto Editora (Capítulo XIX)

“Distraiu-se talvez Francisco Marques, ou enxugou com o antebraço o suor da testa, ou olhou cá do alto a sua vila de Cheleiros, enfim se lembrando da mulher, fugiu-lhe o calço da mão no preciso momento em que a plataforma deslizava, não se sabe como isto foi, apenas que o corpo está debaixo do carro, esmagado, passou-lhe a primeira roda por cima, mais de duas mil arrobas só a pedra, se ainda estamos lembrados.”

Morte de um dos trabalhadores

SARAMAGO, José,2015. Memorial do Convento, 56.ªed.Porto: Porto Editora (Capítulo XIX)

“Estava Baltasar há pouco tempo nesta sua nova vida, quando houve notícia de que era preciso ir a Pêro Pinheiro buscar uma pedra muito grande que lá estava, destinada à varanda que ficará sobre o pórtico da igreja tão excessiva a tal pedra que foram calculadas em duzentas as juntas de bois necessárias para trazê-la, e muitos os homens que tinham de ir também para as ajudas.”

Epopeia da pedra

  • Era uma vez gente que construiu esse convento.

Linhas de ação

De Portugal não se requeira mais que pedra, tijolo e lenha para queimar, e homens para a força bruta, ciência pouca. Se o arquitecto é alemão, se italianos são os mestres dos carpinteiros e dos alvenéus e canteiros, se negociantes ingleses, franceses, holandeses e outras reses todos os dias nos vendem e nos compram”

“Deve-se a construção do convento de Mafra ao rei D. João V, por um voto que fez se lhe nascesse um filho, vão aqui seiscentos homens que não fizeram filho nenhum à rainha, e eles é que pagam o voto, que se lixam, com perdão da anacrónica voz”

SARAMAGO, José,2015. Memorial do Convento, 56.ªed.Porto: Porto Editora (Capítulo XIX)

“ [...] que a laje tem de comprimento trinta e cinco palmos, de largura quinze, e a espessura é de quatro palmos, e, para ser completa a notícia, depois de lavrada e polida, lá em Mafra, ficará só um pouco mais pequena, trinta e dois palmos, catorze, três, pela mesma ordem e partes, e quando um dia se acabarem palmos e pés por se terem achado metros na terra, irão outros homens a tirar outras medidas e encontrarão sete metros, três metros, sessenta e quatro centímetros, tome nota, e porque também os pesos velhos levaram o caminho das medidas velhas, em vez de duas mil cento e doze arrobas, diremos que o peso da pedra da varanda da casa a que se chamará de Benedictione é de trinta e um mil e vinte e um quilos, trinta e uma toneladas em números redondos, senhoras e senhores visitantes, e agora passemos à sala seguinte, que ainda temos muito que andar.”

Críticas do narrador

  • Era uma vez gente que construiu esse convento.

Linhas de ação

SARAMAGO, José,2015. Memorial do Convento, 56.ªed.Porto: Porto Editora (Capítulo XX)

“Fatigosos dias, mal dormidas noites. Por estes barracões repousam os operários, passam de vinte mil, acomodados em beliches toscos, para muitos, em todo caso, melhor cama que a nenhuma das suas casas, só a esteira no chão, o dormir vestido, a capa por inteiro agasalho, ao menos, em tempo de frio, se aquecem aqui os corpos uns aos outros, pior é quando vem o calor, com o bichedo de pulga e percevejo a chupar o sangue, e também o piolho da cabeça, o outro do corpo, os torturantes pruridos.”

Condições de vida dos operários

  • Era uma vez gente que construiu esse convento.

Linhas de ação

“Ai as culpas de Maria Bárbara, o mal que já fez, só porque nasceu, nem é preciso ir muito longe, bastam aqueles quinze homens que além vão”

“D. Maria Bárbara ordenou que mandasse saber que homens eram aqueles e o que tinham feito,[...] Saiba vossa alteza que aqueles homens vão trabalhar para Mafra, nas obras do convento real, são do termo de Évora, gente de ofício, E vão atados porquê, Porque não vão de vontade, se os soltam fogem [...]”

SARAMAGO, José,2015. Memorial do Convento, 56.ªed.Porto: Porto Editora (Capítulo XII)

“D. Maria Bárbara [...] , acordou com um grande arrepio, como se um dedo gelado lhe tivesse tocado na testa, e, virando os olhos ensonados para os campos crepusculares, viu parado um pardo ajuntamento de homens, alinhados na beira do caminho e atados uns aos outros por cordas, seriam talvez uns quinze. Afirmou-se melhor a princesa, não era sonho nem delírio, e turbou-se de tão lastimoso espectáculo de grilhetas, em véspera das suas bodas, quando tudo devia ser ledice e regozijo[...]”

Visita da Princesa Maria Bárbara

  • Era uma vez gente que construiu esse convento.

Linhas de ação

SARAMAGO, José,2015. Memorial do Convento, 56.ªed.Porto: Porto Editora (Capítulo XIX)

“Ordeno que a todos os corregedores do reino se mande que reúnam e enviem para Mafra quantos operários se encontrarem nas suas jurisdições, sejam eles carpinteiros, pedreiros ou braçais, retirando-os, ainda que por violência, dos seus mesteres, e que sob nenhum pretexto os deixem ficar, não lhes valendo considerações de família, dependência ou anterior obrigação, porque nada está acima da vontade real, salvo a vontade divina.Foram as ordens, vieram os homens. De sua própria vontade alguns, aliciados pela promessa de bom salário, por gosto de aventura outros, por desprendimento de afectos também, à força quase todos [...] ao fim do dia juntava dez, vinte, trinta homens, e quando eram mais que os carcereiros atavam-nos com cordas, variando o modo, ora presos pela cintura uns aos outros, ora com improvisada pescoceira, ora ligados pelos tornozelos, como galés ou escravos [...] ”

Trabalho forçado dos homens

  • Era uma vez gente que construiu esse convento.

Linhas de ação

SARAMAGO, José,2015. Memorial do Convento, 56.ªed.Porto: Porto Editora (Capítulo XX)

“Ó doce e amado esposo, e outra protestando, ó filho, a quem eu tinha só para refrigério e doce amparo desta cansada já velhice minha, não se acabavam as lamentações, tanto que os montes de mais perto respondiam, quase movidos de alta piedade, enfim já os levados se afastam, vão sumir-se na volta do caminho, rasos de lágrimas os olhos, em bagadas caíndo aos mais sensíveis e então uma grande voz se levanta, é um labrego de tanta idade já que o não quiseram, e grita subido a um valado que é púlpito de rústicos, Ó glória de mandar, ó vã cobiça, ó rei infame, ó pátria sem justiça, e tendo assim clamado, veio dar-lhe o quadrilheiro uma cacetada na cabeça, que ali mesmo o deixou por morto.”

Sofrimento das mães e mulheres

  • Era uma vez gente que construiu esse convento.

Linhas de ação

SARAMAGO, José,2015. Memorial do Convento, 56.ªed.Porto: Porto Editora (Capítulo XXIV)

“Enfim, chegou o mais glorioso dos dias, a data imorredoira de vinte e dois de Outubro do ano da graça de mil setecentos e trinta, quando el-rei D. João V faz quarenta e um anos e vê sagrar o mais prodigioso dos monumentos que em Portugal se levantaram, ainda por acabar, é verdade, mas pela catadura se conhece o catacego. [....] já se armou a procissão solene que dará a volta à igreja, el-rei vai nela, atrás os infantes e a fidalgaria, conforme as suas precedências, mas o principal da festa é o patriarca, benze o sal e a água, atira água benta às paredes,[...].”

Sagração do convento

  • Era uma vez gente que construiu esse convento.

Linhas de ação

As personagens

  • Apresentado como uma figura caricatural, sobretudo quando são descritas as suas facetas menos dignificantes, representa o poder absoluto, no exercício do qual os fins justificam os meios.
  • É sob as suas ordens que se inicia o projeto megalómano da construção do convento de Mafra, com o pretexto de ser esta obra uma promessa feita ao clero para garantir a sucessão do trono.

D. João V

  • Jovem mulher do povo, tem a capacidade de ver as pessoas por dentro e perceber as suas vontades.
  • Afirma o narrador que estes poderes excecionais a heroína de “Memorial do Convento” ganhou na barriga da mãe, onde esteve o tempo todo de olhos abertos. Conheceu Baltasar num auto-de-fé e logo ali nasceu um amor para a vida.

Blimunda de Jesus ou Blimunda Sete Luas

  • Marcado pelo espírito científico, este padre não se revê nos fanatismos religiosos da época. Alimenta o sonho de construir uma máquina voadora, algo que lhe valeu a alcunha de “Voador”.
  • De início goza da proteção real para avançar com tão arrojado projeto mas depois fica só, apenas dependente da colaboração dos seus fiéis amigos Baltasar e Blimunda. Consegue subir aos céus mas acaba perseguido pela Inquisição, que o acusa de bruxaria. Foge para Espanha onde acaba por morrer.
  • Ao contrário de outros personagens de “Memorial do Convento”, Bartolomeu de Gusmão existiu na vida real.

Padre Bartolomeu de Gusmão

  • Exerceu as funções de mestre-de-capela e professor da Casa Real de 1720 a 1729.
  • Apesar de contratado pelo rei, revela liberdade de espírito suficiente para acompanhar em segredo o projeto da passarola voadora e numa ocasião consegue até, com a sua música, curar Blimunda, de quem se tornou amigo.
  • Tal como Bartolomeu de Gusmão, esta figura, embora ficcionada em “Memorial do Convento”, existiu na vida real.

Domenico Scarlatti

  • Descendente de cristãos-novos, foi perseguida e condenada pela Inquisição.
  • Acusada de blasfémias e heresias, levaram-na para um auto-de-fé, no Rossio, para ser açoitada e depois deportada para Angola.
  • Despede-se então de sua filha Blimunda, mas por telepatia, para não a embaraçar em público. É por seu intermédio que ela conhece Baltasar.

Sebastiana Maria de Jesus

  • É uma mulher do seu tempo: casou por conveniência com D. João V e nessa união sem amor o seu único meio de afirmação é a maternidade.
  • Por isso vive obcecada com a sua fertilidade e quando engravida, passadas longas e ansiosas novenas, até se julga grávida de Deus.
  • Tem pensamentos pecaminosos com o cunhado, o que a faz sentir culpada e redobrar as suas intermináveis rezas.

D. Maria Ana de Áustria

  • É o elo mais fraco. Constituído por gente sem recursos, exposto às provas mais duras, por vezes dele emergem figuras surpreendentes, feitas de coragem e resiliência, animadas por sentimentos tão puros como o amor e a amizade desinteressados.
  • É este o caso de Blimunda e Baltasar, exemplos do que há de mais nobre na natureza humana.

Povo

  • José Saramago é implacável relativamente à Igreja Católica, entidade que é visada em várias das suas obras.
  • Em “Memorial do Convento”, cuja ação decorre no auge da Inquisição, o rasto de perdição dos poderosos é bem visível.
  • O Clero emerge de um quadro de crueldade, hipocrisia e sede de poder verdadeiramente avassaladores.

Clero

Os espaços

Espaços Físicos

Relacionados com a Capital:

  • Terreiro do Paço;
  • Rossio;
  • S. Sebastião da Pedreira;
  • Odivelas;
  • Azeitão.

Espaços Físicos

Relacionados com Mafra:

  • Alto da Vela;
  • Pêro Pinheiro;
  • Aldeia de Cheleiros;
  • Serra do Barregudo;
  • Serra de Monte Junto;
  • Torres Vedras.

  • O espaço psicológico é constituído pelo conjunto de elementos que traduz a interioridade das personagens. Revela-se através dos sonhos e dos pensamentos.
  • Ex.: Sonhos de D. Maria Ana (com infante D. Francisco); de Baltasar quando andava a lavrar o alto da Vela; pensamentos do padre Bartolomeu relativamente ao voo da passarola.

Espaço psicológico

Espaço social

  • O Espaço Social – Lisboa e Mafra – é construído através do relato de determinados momentos e do percurso de personagens que tipificam um determinado grupo social.
  • Lisboa é uma cidade que ilustra bem as injustiças sociais, onde uma minoria tem tudo e o povo nada tem, vivendo na miséria, bem como as condições sanitárias da cidade.

“Lisboa cheira mal, cheira a podridão, o incenso dá um sentido à fetidez (...)” (Cap. III, p. 28)

“a cidade é imunda, alcatifada de excrementos, de lixo, de cães lazarentos e gatos vadios (...)”(Cap. III, p. 28)

“a tropa andava descalça e rota, roubava os lavradores(...)” (Cap. IV, p. 36)

“Mas esta cidade, mais que todas, é uma boca que mastiga de sobejo para um lado e de escasso para outro (...)” (Cap. III, p. 27)

  • Este romance apresenta-se como uma crítica cheia de ironia ao que se passava no início do séc. XVIII. É criticada a opulência do rei e da nobreza, por oposição à extrema miséria do povo:

As críticas

As críticas

  • Nas classes altas não escapam à crítica os padres, os frades que levam as mulheres para dentro das celas e com elas se gozam (Cap. VIII, p. 86), nem o próprio rei que considera que as freiras o recebem nas suas camas (Cap. XIII, p. 163), nomeadamente a madre Paula de Odivelas.
  • A sátira está presente nos casos de adultério e corrupção de costumes. Surge a crítica à mulher que entre duas igrejas se foi encontrar com um homem, a uns tantos maridos cucos que são ingénuos ou que fingem sê-lo. (Cap. III, pág. 31)
  • Em Mafra a sátira abrange os trabalhadores que eram tratados como tijolos. É criticado o rei que manda recrutar os homens válidos sem contemplações nem humanidade e também o príncipe D. Francisco que se entretém a espingardear os marinheiros só para se divertir e quer seduzir a cunhada só para se divertir e quer seduzir a cunhada só para chegar ao trono.
  • Há uma constante denúncia dos métodos usados pela Inquisição e da repressão exercida sobre o povo, mas também uma crítica a esse povo que dançava à volta das fogueiras onde se queimavam os condenados e que assistia aos autos de fé como se fosse um divertimento como as touradas.

As críticas

Bíblia
Padre António Vieira
Fernando Pessoa
Luís de Camões

~~

Intertextualidade

“Qual vai dizendo: «Ó filho, a quem eu tinha Só pera refrigério e doce emparo Desta cansada já velhice minha, Que em choro acabará, penoso e amaro, Porque me deixas, mísera e mesquinha? Porque de mi te vás, ó filho caro, A fazer o funéreo enterramento Onde sejas de pexes mantimento?» Qual em cabelo: «Ó doce e amado esposo, Sem quem não quis Amor que viver possa, Porque is aventurar ao mar iroso Essa vida que é minha e não é vossa? Como, por um caminho duvidoso, Vos esquece a afeição tão doce nossa? Nosso amor, nosso vão contentamento, Quereis que com as velas leve o vento?»” Os Lusíadas ,Canto IV, est. 90-91

José Saramago

“Já vai andando a récua dos homens de Arganil, acompanham-nos até fora da vila as infelizes, que vão clamando, qual em cabelo, Ó doce e amado esposo, e outra protestando, Ó filho, a quem eu tinha só para refrigério e doce amparo desta cansada já velhice minha […]” p. 402

Luís de Camões

“Mas um velho, de aspeito venerando, Que ficava nas praias, entre a gente, Postos em nós os olhos, meneando Três vezes a cabeça, descontente, A voz pesada um pouco alevantando, Que nós no mar ouvimos claramente, Cum saber só de experiências feito, Tais palavras tirou do experto peito: «Ó glória de mandar! Ó vã cobiça Desta vaidade, a quem chamamos Fama! Ó fraudulento gosto, que se atiça Cũa aura popular, que honra se chama! Que castigo tamanho e que justiça Fazes no peito vão que muito te ama! Que mortes, que perigos, que tormentas, Que crueldades neles esprimentas!” Os Lusíadas, Canto IV, est. 94-95

“Ó glória de mandar, ó vã cobiça […]” p. 402

“[…] mas a este velho de aspeto venerando, ainda que sujo, qualquer criado de cavalariça entende dever resposta […]” p. 413

José Saramago

Luís de Camões

“Assi contava; e, cum medonho choro, Súbito de ante os olhos se apartou. Desfez-se a nuvem negra, e cum sonoro Bramido muito longe o mar soou. Eu, levantando as mãos ao santo coro Dos Anjos, que tão longe nos guiou, A Deus pedi que removesse os duros Casos, que Adamastor contou futuros.” Os Lusíadas, Canto V, est. 60

“[…] Onde pode acolher-se um fraco humano, Onde terá segura a curta vida, Que não se arme e se indigne o Céu sereno Contra um bicho da terra tão pequeno?” Os Lusíadas, Canto I, est. 106

“[…] foi como o sopro gigantesco de Adamastor, se Adamastor soprou, quando lhe dobravam o cabo dos seus e dos nossos trabalhos […]” p. 179

“[…] e, assim como o homem, bicho da terra, se fez marinheiro por necessidade, por necessidade se fará voador […]” p. 83

José Saramago

Luís de Camões

“Eu o vi certamente (e não presumo Que a vista me enganava): levantar-se No ar um vaporzinho e sutil fumo, E, do vento trazido, rodear-se; […]” Os Lusíadas, Canto V, est. 19

“Vi, claramente visto, o lume vivo Que a marítima gente tem por Santo, Em tempo de tormenta e vento esquivo, De tempestade escura e triste pranto. Não menos foi a todos excessivo Milagre, e cousa, certo, de alto espanto, Ver as nuvens, do mar com largo cano, Sorver as altas águas do Oceano.” Os Lusíadas, Canto V, est. 18

“[…] por isso se lhes aperta o coração tanto, quem sabe que perigos os esperam, que adamastores, que fogos de Santelmo, acaso se levantam do mar, que ao longe se vê, trombas d’água que vão sugar os ares e o tornam a dar salgado.” p. 271

José Saramago

Luís de Camões

O Infante D. Henrique “Em seu trono entre o brilho das esferas, Com seu manto de noite e solidão, Tem aos pés o mar novo e as mortas eras – O único imperador que tem, deveras, O globo mundo em sua mão.” in Mensagem, Ática, 12.ª ed., 1978

“Em seu trono entre o brilho das estrelas, com seu manto de noite e de solidão, tem aos seus pés o mar novo e as mortas eras, o único imperador que tem, deveras, o globo mundo em sua mão, este tal foi o infante D. Henrique, consoante o louvará um poeta por ora ainda não nascido […]” p. 307

José Saramago

Fernando pessoa

“Vem, Noite antiquíssima e idêntica, Noite Rainha nascida destronada, Noite igual por dentro ao silêncio. Noite Com as estrelas lantejoulas rápidas No teu vestido franjado de Infinito. […]” “Dois excertos de odes (fins de duas odes, naturalmente)”, in Poesias de Álvaro de Campos, Ática, s/d

“[…] bendita sejas tu, noite, que cobres e proteges o belo e o feio com a mesma indiferente capa, noite antiquíssima e idêntica, vem.” p. 250

José Saramago

Fernando pessoa

“Da sua gaiola de madeira pregou o celebrante ao mar de gente, se fosse o mar de peixes, que formoso sermão se podia ter repetido aqui, mas com a sua doutrina muito clara, muito sã, mas, peixes não sendo, foi a pregação como a mereciam homens e só a ouviram os fiéis que mais ao perto estavam […]” p. 313

José Saramago

Padre António Vieira

“[…] parece não ser mais que uma declaração solene para a história, como aquela, tão conhecida, Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito […]” p. 399

“Atire-lhes a segunda pedra quem não caiu nunca em pecados afins, o mesmo Cristo favoreceu a Pedro e amimou a João, e eram doze os apóstolos. Um dia se averiguará que Judas traiu por ciúme e abandono.” p. 377

“[…] Há um tempo para construir e um tempo para destruir […]” p. 228

José Saramago

Bíblia

  • Ao longo da obra está presente um narrador que não é participante, é omnisciente e teima em tornar-se bem visível estabelecendo uma comunicação activa com o leitor.
  • Saramago encontra-se, portanto, dentro do romance como ser vivo, criticando, explicando e sentenciando.

Estilo e Linguagem

  • A sátira, com recurso à ironia, à linguagem depreciativa e humorística, à subversão de citações bíblicas e de provérbios

Estilo e linguagem

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  • A ruptura com as regras de pontuação introduzindo um peculiar discurso direto sem utilizar os sinais gráficos, ao abolir os dois pontos, os travessões e os pontos de interrogação e ao utilizar a maiúscula após uma vírgula.
  • O uso de formas verbais no presente e no futuro.
  • A presença do narrador-autor com comentários, apartes e frases sentenciosas.

Estilo e linguagem

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  • A intertextualidade frequente, sobretudo com Os Lusíadas de Luís de Camões.
  • A inclusão de um discurso argumentativo e reflexivo.
  • https://www.escolahenriquemedina.org/bibdigital/view/1395/Memorial%20do%20Convento%20-%20Jose%20Saramago.pdf;
  • https://www.josesaramago.org/biografia/;
  • https://www.ebiografia.com/jose_saramago/;
  • https://www.esqm.pt/documentos/BE/emar12_ppt_memorial_intertextos.pdf;
  • https://memorialdoconvento.wordpress.com/2014/05/20/classificacao-tipologica-e-estrutura-da-obra/;
  • https://www.visitlisboa.com/pt-pt/lisbon-stories/rota-do-saramago-2/personagens-5?page=2;
  • https://ensina.rtp.pt/dossie/memorial-do-convento-era-uma-vez-o-romance-de-jose-saramago/as-personagens-do-convento-ou-do-convento-de-mafra-as-personagens-de-saramago/;
  • https://taniacharruaportefolio.webnode.pt/memorial-do-convento/;
  • https://www.esqm.pt/documentos/BE/memorial.convento_s%EDntese.pdf.

referências bibliográficas