Dia Mundial da Língua Portuguesa
Biblioteca da EB 2,3 José Saraiva
Created on April 29, 2021
Cerca de 40 elementos da comunidade escolar responderam ao desafio da Biblioteca Escolar José Saraiva para comemorar o Dia Mundial da Língua Portuguesa 2021.
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Transcript
O Dia Mundial da Língua Portuguesa vai ser assinalado com mais de 150 atividades em 44 países. Depois das línguas oficiais das Nações Unidas, a língua portuguesa foi há dois anos (novembro 2019) a primeira a ser distinguida pela UNESCO com um Dia Mundial.
Este ano, a Biblioteca Escolar aderiu à iniciativa do PNL2027 com a atividade EU CONTO. Assim, desafiámos alguns elementos da comunidade escolar a criarem podcasts de narração oral - lendas e contos tradicionais.Também surgiram trava-línguas (enrola língua ou parlenda), uma arma utilíssima para contornar dificuldades de expressão.
Em 2021 a rede do ensino de Português no estrangeiro (EPE) está presente em 18 países (14 rede oficial e 4 rede apoiada), através de 978 professores, abrangendo 1.445 escolas e 66.055 alunos dos níveis de ensino pré-escolar, básico e secundário.
Lendas
Lenda de Dornes - lida por Simão Pereira, do 9.º F, no âmbito da atividade EU CONTO. Diz a lenda que um feitor da Rainha Santa Isabel, Guilherme de Pavia, andava um dia numa caçada pelas terras que administrava quando começou a ouvir uns gemidos insistentes, idênticos ao choro de uma pessoa. Incomodado com os gemidos, Guilherme de Pavia pediu ajuda a quem o acompanhava para tentar descobrir de onde vinham. Depois de vasculhar a Serra Vermelha de uma ponta à outra durante vários dias mas nada encontrar, o feitor decidiu ir a Coimbra contar o sucedido à Rainha Santa. Mas a Rainha já sabia ao que Guilherme de Pavia ia e, mesmo antes de ele lhe justificar a viagem, falou-lhe de um sonho que a perseguia há algum tempo, de alguém a chorar na Serra Vermelha. Santa Isabel sabia até o exacto local de onde provinha o choro, indicando o caminho ao seu feitor. As instruções da Rainha levaram Guilherme de Pavia ao encontro de uma imagem da Virgem Maria, chorosa, com o filho nos braços. Santa Isabel deslocou-se às suas terras para admirar a descoberta e erguer uma capela junto à torre pentagonal existente no local a que decidiu dar o nome de Vila das Dores, nome que mais tarde evoluiu para Dornes. A notícia de que tinha sido encontrada uma imagem da Virgem e que a tinham colocado na capela de Dornes propagou-se de terra em terra, com as gentes das aldeias vizinhas a deslocarem-se em romarias para rezar e pedir ajuda a Nossa Senhora do Pranto. Hoje, a imagem, exposta junto ao altar mor da igreja, continua a ser visitada por centenas de turistas, com a pequena capela situada no ponto mais alto de Dornes a virar santuário. Todos os domingos o santuário de Nossa Senhora do Pranto enche-se de fiéis para assistirem à missa e olhar de perto a Virgem com o seu filho no regaço. A par do turismo religioso, que muito tem contribuído para o desenvolvimento da aldeia, Dornes foi recentemente descoberta por outro tipo de turistas. Grupos de hippies à moda dos anos 60, de “roupa estranha e cabelos desalinhados”, têm aparecido na aldeia, não por acreditarem nos milagres de Nossa Senhora do Pranto mas por considerarem que a terra “tem muitas energias positivas”. Vêm geralmente no Verão mas não dormitam em Dornes. “Procuram sempre por uma casa do silêncio que nós nem sequer sabíamos existir nesta zona”, refere um habitante de Dornes. Afinal, a Casa do Silêncio parece mesmo existir, ali para os lados de Vale Serrão. E, ao que se sabe, nem mesmo um gemido costuma de lá vir... Outra lenda A Lenda de Dornes explica a etimologia do lugar, apesar de existirem provas documentais de que até ao século XV foi conhecida por Dornas, sendo que um velho manuscrito existente na Biblioteca Nacional de Lisboa nos concede essa explicação. “Há muitos séculos atrás, as terras desta região pertenciam à Rainha Santa Isabel, mulher de el-rei D. Dinis. Era feitor da Rainha, na região, um cavaleiro chamado Guilherme de Pavia, ao qual atribuíam proezas milagrosas. Conta-se deste homem que, certa vez, passou a pé enxuto o rio Zêzere, caminhando de uma margem para a outra sobre a sua capa, que lançara sobre as águas. Um dia, andava Guilherme de Pavia atrás de um veado na banda de além do Zêzere, onde só havia brenhas e matos espessos, quando ouviu uns gemidos muito dolorosos. Tentou saber de que sítio provinham e, apesar de perder algumas horas nesta busca, nada conseguiu achar, pois os gemidos pareciam provir dos mais diversos locais. No dia seguinte voltou ali e de novo os gemidos se espalharam à sua volta, vindo agora de um tufo espesso de mato, depois de um rochedo, numa ciranda sem fim. Guilherme de Pavia sofria espantado, partilhando a dor daquele alguém que parecia fazer parte do universo. Ao terceiro dia tudo se repetiu como antes. Tomou, pois, a decisão de partir para Coimbra onde estava a sua senhora, a fim de lhe relatar aqueles estranhos factos. Assim que chegou à cidade dirigiu-se imediatamente à pousada real e solicitou a sua visita a D. Isabel. Esta, mal o viu, e depois das saudações devidas, disse-lhe: – Vindes por via dos gemidos, Guilherme?– …!– Não precisais espantar-vos! Três noites a fio sonhei com eles e sei do que se trata.– O que é então, Senhora? Procurei por todo o lado e nada vi!…– Bem sei. Deus contou-me tudo nos sonhos. Agora vais voltar ao local e procurar onde te vou dizer: aí acharás uma imagem santa de Nossa Senhora, com o Filho morto em seus braços.– Assim farei, minha senhora Dona Isabel! Mas, e depois, que faço eu dessa imagem?– Guardá-la-ás contigo até me veres chegar junto a ti! Despediu-se Guilherme de Pavia da Rainha Santa, levando na memória a localização exacta da moita onde a imagem de Nossa Senhora o aguardava gemendo, e partiu de Coimbra. Já de volta a terras do Zêzere, o cavaleiro dirigiu-se à serra de Vermelha, como lhe dissera D. Isabel, e foi milagrosamente direito a determinada moita onde achou enrodilhada em urzes a imagem da Virgem pranteando a morte de seu Filho. Durante algum tempo manteve-a consigo, na sua própria casa. Os gemidos haviam cessado e assim Guilherme de Pavia tinha a Santa Imagem na sua câmara, com um archote aceso de cada lado. Um dia, a Rainha Santa foi, finalmente, às suas terras do Zêzere resolver o caso da imagem. Assim, junto a uma velha torre pentagonal que já aí existia, mandou erigir uma ermida para a Virgem achada nas moitas. E nessa torre – que provavelmente foi construída pelos Templários -, ordenou que se instalassem os sinos da ermida. Em breve o povo começou a construir casas em redor da capela e da torre e, diz a lenda, a Rainha Santa deu a essa vila nascente o nome de Vila das Dores, nome que com o tempo se teria corrompido até dar Dornes. É isto o que conta a lenda transcrita no velho manuscrito. A capela com a sua torre sineira ainda hoje existem, e a imagem achada há muitos séculos atrás é venerada sob a designação de Nossa Senhora do Pranto.”
A professora Natália Oliveira lê a Lenda de Timor. «Em tempos que já lá vão, vivia na ilha de Celebes um crocodilo muito velho, tão velho que não conseguia caçar os peixes do rio. Certo dia, morto de fome, decidiu aventurar-se pelas margens em busca de algum porco ou cão distraído que lhe servisse de refeição. Andou, andou, até cair exausto e desesperado, sem forças para regressar à água. Quem lhe valeu foi um rapaz simpático e robusto que teve pena dele e o arrastou pela cauda. Em retribuição pelo serviço prestado, o crocodilo ofereceu-se para o transportar às costas sempre que ele quisesse navegar. Foi assim que começaram a viajar juntos. Mas, apesar da amizade que sentia pelo rapaz, quando o crocodilo teve novamente fome lembrou-se de o comer. Antes, porém, quis ouvir a opinião dos outros animais e todos se mostraram indignados. Devorar quem o salvara? Que terrível ingratidão! Envergonhado e cheio de remorsos, o crocodilo resolveu partir para longe e recomeçar a sua vida onde ninguém o conhecesse. Como o rapaz[1] era o único amigo que tinha, chamou-o e disse-lhe assim: – Vem comigo à procura de um disco de ouro, que flutua nas ondas perto do sítio onde nasce o Sol. Quando o encontrarmos seremos felizes. Mais uma vez viajaram juntos, agora sulcando o mar que parecia não ter fim, mas a certa altura o crocodilo percebeu que não podia continuar. Exausto, deteve-se na intenção de descansar apenas um instante mas, logo que parou, o corpo transformou-se numa ilha maravilhosa! O rapaz, que se viu homem feito de um momento para o outro, verificou, encantado, que trazia ao peito o disco de ouro com que o crocodilo sonhara. Percorreu então as praias, as colinas e as montanhas e compreendeu que aquela era a ilha dos seus sonhos. Instalou-se e escolheu o nome para a ilha. Chamou-Timor, que significa “Oriente”».
Lenda de Valongo e Susão - lida por Miguel Ângelo, do 9.º F, no âmbito da atividade EU CONTO. Os nomes de Valongo e Susão têm origem nesta lenda que remonta à época em que alguns cristãos perseguidos no Oriente se refugiaram em Cale, foz do rio Douro. Entre eles estava o rico negociante judeu Samuel, recém convertido ao Cristianismo, e a sua filha Susana. Pensavam os fugitivos estarem já livres de perseguições quando foram obrigados a defender-se dos árabes que dominavam a região. Com astúcia, prepararam uma armadilha e capturaram o jovem Domus de cujo resgate esperavam obter a paz. Enquanto decorriam as negociações, Domus e Susana apaixonaram-se e o mouro pediu para ser baptizado para poder casar-se com a jovem. O acordo com os muçulmanos era assim impossível e decidiram todos fugir, deixando Portucale (Porto) em direcção ao Oriente. Chegados ao topo da Serra de Santa Justa depararam com uma paisagem lindíssima e a apaixonada Susana exclamou um elogio sincero ao vale longo que sob os seus olhos se estendia. Desceram ao vale e nele decidiram ficar para sempre, edificando as primeiras casas de uma povoação que se veio a chamar Susão, em memória da bela Susana. O vale que Susana tinha achado belo e longo ficou conhecido como Valongo.
Lenda de Alcácer do Sal - lida por Diogo Freire, do 9.º G, no âmbito da atividade EU CONTO. Em Alcácer do Sal, conta-se a lenda de uma bela moura encantada. Os velhos dizem que em certas noites de luar, encostados aos muros do antigo castelo, ainda podemos ouvir a triste Almira suspirar, cantando, pelo seu D. Gonçalo… Conta a lenda que, quando Afonso II conseguiu penetrar em Alcácer, os mouros fugiram apavorados ante a sanha dos cristãos. Naquela precipitação, uns atiraram-se das torres, outros fugiram de roldão pelas portas escancaradas e alguns utilizaram antigos subterrâneos só deles conhecidos. Na debandada geral, porém, uma menina ficou esquecida, ou, quem sabe, seus pais terão perecido. Mal falava, ainda. Sabia que se chamava Almira, mas pouco mais conseguia dizer. Às perguntas que lhe faziam, esbugalhava os olhitos negros, sem compreender por que razão não estava ali a mãe ou a ama. E, de repente, virava-se de costas para aquela gente que a interrogava, escondia a cara nas mãos e soluçava baixinho, sacudindo levemente os cabelos negros de noite como um manto de veludo. Almira foi recolhida no castelo e criada como cristã. Parecia ter esquecido a sua ascendência e provavelmente esqueceu-a, porque ninguém lha lembrava. Foi crescendo rodeada de amor e, como era dotada para a música, aprendeu alaúde, que tocava como mais ninguém. O seu espírito irrequieto e sonhador pregou-lhe a partida de a fazer poetisa. E assim, com o alaúde e a sua poesia, rivalizava com qualquer trovador que pousasse no castelo, tirando sempre a vantagem do esquisito sentir que a tornava diferente. Havia nela uma tristeza ausente, feita de saudades do que não lembrava mas amava. E essa tristeza ausente fazia do seu corpo, espiga dourada, um desejo doloroso de quantos cavaleiros por ali passassem. E Almira deixava-os ir e vir. Observava os seus feitos guerreiros com um sorriso gentil. Honrava-os nos seus poemas, mas continuava sentada no seu trono invisível, sorrindo um sorriso longínquo, intocável, sempre. Até que um dia D. Gonçalo chegou a Alcácer do Sal. Como qualquer outro cavaleiro, chegou em busca de honra e serviço. E como qualquer outro, também, veio para conhecer Almira e o seu sorriso. D. Gonçalo era assim, nem bonito nem feio. Tinha olhos, uns olhos tais que Almira desapareceu dos salões e nunca mais voltou a sorrir a ninguém do divã onde se sentava cantando tristezas ausentes. Uma dor estranha instalara-se como uma rosa desabrochando eternamente no seu corpo, na sua alma, em si inteira. Encostada ao parapeito da sua torre, Almira soltava no ar gritos de amor em cânticos melodiosos: Pois é mais vosso que meu,Senhor, o meu coraçãoPois vossos cativos sãoMeus olhos, lembro-vos eu. Lembro-vos minha tristeza,Que jamais nunca me deixa,Lembro-vos com quanta queixaSe queixa minha firmeza. Lembro-vos que não é meuO meu triste coraçãoPois tendes tanta razão,Meus olhos, lembro-vos eu. D. Gonçalo ouvia, mas não se atrevia. Bem sabia D. Gonçalo que aqueles “meus olhos” eram seus. Até que, uma noite, D. Gonçalo ouviu e atreveu-se. Almira tocava alaúde baixinho, quase em surdina, como um suspiro interior. O cavaleiro, encostado às ameias do terraço da torre, ergueu timidamente a voz e os olhos, e cantou: Mais digna de ser servidaQue senhora deste mundo,Vós sois o meu deus segundoVós sois meu bem desta vida.Vós sois aquela que amoPor vosso merecimento,Com tanto contentamentoQue por vós a mim desamo.A vós só é mais devidaLealdade neste mundoPois sois o meu deus segundoE meu prazer desta vida. Almira ouviu. Sentiu a vida fugir-lhe por um instante sem tempo. Depois, quando conseguiu voltar a si, endireitou seu corpo de espiga, olhou o cavaleiro e, sussurrando como um vento que mal toca a copa das árvores, disse, apenas: - Oh! Meu senhor D. Gonçalo! O resto não conta a lenda, mas diz quem sabe que, em certas noites de luar de Agosto, se ouve os sussurros dos dois amantes, que eternamente se quiseram encantados nas muralhas da velha Salacia Romana.
O Curupira - Lenda do Brasil lida pela Júlia, do 5.º F, natural da região S. Paulo O Curupira é um personagem do folclore conhecido por proteger as florestas. Sua lenda tem origem nas histórias de povos indígenas, sendo muito famosa no Norte do Brasil. Segundo a lenda, o Curupira é um menino baixinho de cabelos vermelhos, cuja característica principal são os pés virados para trás, que servem para enganar invasores que erram o caminho ao seguir suas pegadas na floresta. Os indígenas acreditavam que o curupira aterrorizava aqueles que entravam na floresta para caçar ou derrubar árvores. Uma forma do Curupira atormentar os caçadores é assoviar sem parar. Para fugir dele, é preciso dar um nó em um pedaço de cipó. Agora, achar o Curupira por conta própria na floresta é quase impossível, já seus pés ao contrário sempre enganam sobre seu caminho.
Eduardo Camarate, do 9.º F, lê a lenda de Coimbra, no âmbito da atividade EU CONTO. “Diz essa lenda que em tempos houve na cidade uma princesa que era muito amada por um esforçado cavaleiro. Este tinha tentado por todos os meios ao seu alcance casar com ela, mas os pais da jovem não consentiram, porque nenhum feito até então realizado era considerado suficientemente honroso e merecedor da princesa! O moço estava já a desesperar quando, de súbito, um pavor enorme tomou conta da cidade: apareceu, vinda dos céus, uma terrível e grande serpente que ameaçava destruir tudo o que encontrasse à sua frente. Conta a lenda que o povo chamava à serpente Coluber, sem contudo nos deixar dito porquê. A princesa, ansiando que o cavaleiro – que sabia corajoso como poucos – mostrasse o seu valor aos pais, inventou um estratagema para tornar possível a aproximação do rapaz. Pediu aos pais que mandassem anunciar na cidade que ela casaria com o cavaleiro que matasse a serpente. Os soberanos aceitaram a aposta e os arautos anunciaram por todo o lado a vontade da princesa. Muitos foram os cavaleiros que se apresentaram. Contudo, só o enamorado da princesa teve coragem suficiente de se aproximar da toca de Coluber. Desmontou do cavalo e acendeu à boca da gruta uma fogueira. Com o manto fez entrar todo o fumo que pôde, para obrigar a serpente a sair, e de facto, pouco tempo depois, o monstro saia meio sufocado. De espada em punho, o cavaleiro tentou cortar-lhe a cabeça, mas falhou, ao mesmo tempo que o instinto de defesa da serpente despertava. Deu-se então uma luta fantástica, em que o cavaleiro esteve por várias vezes a pontos de sucumbir apertado pelos anéis de Coluber. Num golpe de sorte e perícia, porém, conseguiu cortar a cabeça da serpente, quando estava já a atingir o desespero. Os pais da jovem cumpriram o prometido e foi assim que o cavaleiro matador de Coluber conseguiu a mão da sua amada princesa. Acrescenta a lenda que, no local onde a serpente foi morta, fundou-se uma povoação a que deram o nome de Columber Briga, que significa «Batalha da Cobra».”
Contos
Comida sem sal - Conto tradicional de Portugal - lido por José Tavares, do 9.º F, no âmbito da atividade EU CONTO. Era uma vez um rei que tinha três filhas. Certo dia, resolveu perguntar a cada uma delas qual era a mais sua amiga. A mais velha respondeu: – Quero mais a meu pai do que à luz do Sol! Respondeu a do meio: – Gosto mais de meu pai do que de mim mesma. A mais nova respondeu: – Quero-lhe tanto como a comida quer o sal. O rei entendeu, por isto, que a filha mais nova o não amava tanto como as outras e pô-la fora do palácio. Ela partiu mergulhada em tristeza e, depois de caminhar muitos dias, chegou ao palácio de um rei, onde se ofereceu para ser cozinheira. Um dia veio para a mesa um pastel muito bem feito e o rei, ao parti-lo, encontrou dentro um anel pequeno e de grande valor. Perguntou então a todas as damas da corte de quem seria aquele anel. E logo todas quiseram ver se lhes servia. O anel foi passando de mão em mão, até que chamaram a cozinheira, e só a esta servia na perfeição. Quando o príncipe isto viu, ficou logo apaixonado por ela, desconfiando que a menina era de família nobre. Começou então a espreitá-la, porque ela só cozinhava às escondidas, e viu-a vestida com trajes de princesa. Foi então chamar o rei, seu pai, e ambos testemunharam o caso. Foi assim que o soberano deu licença ao filho para casar com ela, mas a menina pôs uma condição: seria ela a cozinhar pela sua mão o jantar do dia da boda. Para as festas de noivado convidaram o rei que tinha três filhas, e que pusera fora de casa a mais nova. A princesa cozinhou o jantar, mas, nos manjares que haviam de ser postos ao seu pai, não deitou sal de propósito. Já todos comiam com vontade, só o rei convidado é que não. Por fim, perguntou-lhe o dono da casa porque é que não comia. Respondeu ele, não sabendo que assistia ao casamento da filha: – É porque a comida não tem sal. O pai do noivo fingiu-se raivoso e mandou que a cozinheira viesse ali dizer porque não deitara sal na comida. Veio então a menina vestida de princesa, mas, assim que o pai a viu, reconheceu-a logo; e logo confessou ali a sua culpa, por não ter percebido quanto era amado por sua filha. E assim se fez o casamento dessa menina que a seu pai dissera: «Quero-lhe tanto como a comida quer o sal», e que, depois de tanto sofrer, nunca se queixara da injustiça de que fora vítima. Contos e Lendas de Portugal e do Mundo - Seleção, adaptação e reconto de João Pedro Mésseder e Isabel Ramalhete ; ilustrações de Fátima Afonso.
“A gaita milagrosa” – Conto tradicional lido por Ângelo Mendes, Débora Faria, Guilherme Alves, Maria Cordeiro, Matilde Santos – 6.ºE, no âmbito da atividade EU CONTO. Havia numa terra um indivíduo que possuía uma gaita com a virtude de fazer bailar os ouvintes quando tocava. De uma ocasião, passava um sujeito com um jumento carregado de louça e o dono da gaita pôs-se a tocá-la.Tanto o dono do jumento como este puseram-se logo a bailar, e com tantos saltos, que em pouco tempo toda a louça se fez em cacos.Gritava o dono da louça ao tocador da gaita que não tocasse, mas este só tirou a gaita dos lábios quando já não havia uma única peça de louça inteira. Exasperado, o pobre homem foi queixar-se ao juiz e o tocador foi chamado à sua presença.- És acusado de ter quebrado a louça deste homem - disse o juiz ao gaiteiro.- Eu não sou culpado. Toquei a minha gaita, e esse senhor e o seu jumento puseram-se a dançar.- Tens contigo a gaita? - Tenho.- Toca - ordenou o juiz, sentado na sua poltrona.O gaiteiro tirou a gaita do bolso e pôs-se a tocar. O dono da louça, que a esse tempo estava encostado a uma cadeira, pegou na cadeira e bailou com ela. O juiz, qui ia tomar uma pitada de rapé da sua caixa de ébano, começou a pular, batendo com os dedos na tampa à maneira de castanholas. A mãe do juiz, que estava entrevada na cama, no quarto próximo, levantou-se imediatamente, bailando, batendo as palmas e cantando:Vá de folia,Vá de folia,Que há sete anosMe não mexia!E assim se converteu o escritório do juiz numa animada sala de baile, pois que até as cadeiras, os tinteiros e todos os mais móveis se puseram a saltar e a bailar.Passados momentos, pediu o juiz ao tocador que cessasse de tocar a gaita, e o homem obedeceu imediatamente, pois viu que tanto o dono da louça como o juiz e a mãe suavam com abundância.O juiz, depois de limpar o suor disse para o tocador:- Podes-te ir embora sem culpa nem pena, porque és um homem que até curou a minha mãe, que há muitos anos se não podia mexer na cama.E o tocador saiu da presença do juiz muito contente e satisfeito.Não diz a história se a mãe do juiz voltou para a cama. «Contos e Lendas de Portugal e do Mundo» de João Pedro Mésseder, Isabel Ramalhete
“A menina dos brincos de ouro” – Conto tradicional lido por Dinis Ferreira, Emanuel Langer, Gonçalo Carreira – 6.ºE, no âmbito da atividade EU CONTO. Era uma vez uma pobre viúva, que tinha só uma filha que nunca saía da sua beira; outras raparigas da vizinhança foram-lhe pedir, que na véspera de S. João deixasse ir a sua filha com elas para se banharem no rio. A rapariga foi com o rancho; antes de se meterem no banho, disse-lhe uma amiga:– Tira os teus brincos e põe-nos em cima duma pedra, porque te podem cair na água.Assim fez; quando estavam a brincar na água passou um velho, e vendo os brincos em cima de uma pedra, pegou neles e deitou-os para dentro do surrão.A rapariga ficou muito aflita quando viu aquilo, e correu atrás do velho que já ia longe. O velho disse-lhe que entregava os brincos, com tanto que ela os fosse buscar dentro ao surrão. A rapariga foi procurar os brincos, e o velho fechou o surrão, com ela dentro, botou-o às costas e foi-se de vez. Quando as outras moças apareceram sem a sua companheira, a pobre viúva lamentou-se sem esperança de tornar a achar a filha. O velho, ao passar a serra, abriu o surrão e disse para a pequena:– Daqui em diante hás de me ajudar a ganhar a vida; eu ando pelas ruas, a pedir, e quando disser:Canta surrão,Senão levas com o bordão…– Tens de cantar por força. Toma tento.Por toda a parte onde o velho passava todos ficavam admirados daquela maravilha. Chegou a uma terra, aonde já chegara a notícia de um velho que fazia cantar um surrão, e muita gente o cercou para se certificar. O velho depois que viu que já estavam bastantes curiosos, levantou o pau e disse:– Canta surrão,Senão levas com o bordão…Ouviu-se então um canto que dizia:– Estou metida neste surrão,Onde a vida perderei;Por amor dos meus brinquinhosQue eu na fonte deixei.As autoridades tiveram conhecimento daquele caso, e trataram de ver onde é que o velho pousava; foram ter com uma vendeira, que se prestou a deixar examinar o surrão quando o velho estivesse dormindo. Assim se fez; lá encontraram a pobre rapariga, muito triste e doente, que contou tudo, e então é que soube do caso da viúva a quem tinham furtado a filha. A pequena saiu com as autoridades, que mandaram encher o surrão de todas as porcarias, de sorte que quando o velho foi ao outro dia mostrar o surrão, este não cantou; deu-lhe com o bordão, e então derramou-se pelo chão toda aquela porcaria que o povo lhe obrigou a lamber, sendo dali levado para a cadeia, e a menina foi para casa de sua mãe.
“O príncipe com orelhas de burro” – Conto tradicional lido por João Sarraipa, Guilherme Wilson, Santiago Gomes, Raquel Rama – 6.ºF Era uma vez um rei que vivia muito triste por não ter filhos e mandou chamar três fadas para que fizessem com que a rainha lhe desse um filho. As fadas prometeram-lhe que os seus desejos seriam satisfeitos e que elas viriam assistir ao nascimento do príncipe. Ao fim de nove meses, deu a rainha à luz um filho e as três fadas fadaram o menino. A primeira fada disse: «Eu te fado para que sejas o príncipe mais formoso do mundo.» A segunda fada disse: «Eu te fado para que sejas muito virtuoso e entendido.» A terceira fada disse: «Eu te fado para que te nasçam umas orelhas de burro.» Foram-se as três fadas e logo apareceram ao príncipe as orelhas de burro. O rei mandou sem demora fazer um barrete que o príncipe devia sempre usar para lhe cobrir as orelhas. Crescia o príncipe em formosura e ninguém na corte sabia que ele tinha as tais orelhas de burro. Chegou a idade em que ele tinha de fazer a barba, e então o rei mandou chamar o seu barbeiro e disse-lhe: «Farás a barba ao príncipe, mas se disseres a alguém que ele tem orelhas de burro, morrerás.» Andava o barbeiro com grandes desejos de contar o que vira, mas com receio de que o rei o mandasse matar, calava consigo. Um dia foi-se confessar e disse ao padre: «Eu tenho um segredo que me mandaram guardar, mas eu se não o digo a alguém morro, e se o digo o rei manda-me matar; diga, padre, o que eu hei de fazer.» Responde-lhe o padre que fosse a um vale, que fizesse uma cova na terra e que dissesse o segredo tantas vezes até ficar aliviado desse peso e que depois tapasse a cova com terra. O barbeiro assim fez; e, depois de ter tapado a cova, voltou para casa muito descansado. Passado algum tempo, nasceu um canavial onde o barbeiro tinha feito a cova. Os pastores, quando ali passavam com os seus rebanhos, cortavam canas para fazer gaitas, mas quando tocavam nelas saíam umas vozes que diziam: «Príncipe com orelhas de burro.» Começou a espalhar-se esta notícia por toda a cidade e o rei mandou vir à sua presença um dos pastores para que tocasse na gaita; e saíam sempre as mesmas vozes que diziam: «Príncipe com orelhas de burro.» O próprio rei também tocou e sempre ouvia as vozes. Então o rei mandou chamar as fadas e pediu-lhes que tirassem as orelhas de burro ao príncipe. Então elas mandaram reunir a corte toda e ordenaram ao príncipe que tirasse o barrete; mas qual não foi o contentamento do rei, da rainha e do príncipe ao ver que já lá não estavam as tais orelhas de burro! Desde esse dia as gaitas que os pastores faziam das canas do tal canavial deixaram de dizer: «Príncipe com orelhas de burro.» .
“A comida sem sal” – conto tradicional lido por Inês Simões, António Mendes, Rodrigo Oliveira – 6.ºF, no âmbito da atividade "Eu Conto". Um rei tinha três filhas; perguntou a cada uma delas por sua vez, qual era a mais sua amiga. A mais velha respondeu: - Quero mais a meu pai, do que à luz do Sol. Respondeu a do meio: - Gosto mais de meu pai do que de mim mesma. A mais moça respondeu: - Quero-lhe tanto, como a comida quer o sal. O rei entendeu por isto que a filha mais nova o não amava tanto como as outras, e pô-la fora do palácio. Ela foi muito triste por esse mundo, e chegou ao palácio de um rei, e aí se ofereceu para ser cozinheira. Um dia veio à mesa um pastel muito bem feito, e o rei ao parti-lo achou dentro um anel muito pequeno, e de grande preço. Perguntou a todas as damas da corte de quem seria aquele anel. Todas quiseram ver se o anel lhes servia: foi passando, até que foi chamada a cozinheira, e só a ela é que o anel servia. O príncipe viu isto e ficou logo apaixonado por ela, pensando que era de família de nobreza. Começou então a espreitá-la, porque ela só cozinhava às escondidas, e viu-a vestida com trajos de princesa. Foi chamar o rei seu pai e ambos viram o caso. O rei deu licença ao filho para casar com ela, mas a menina tirou por condição que queria cozinhar pela sua mão o jantar do dia da boda. Para as festas de noivado convidou-se o rei que tinha três filhas, e que pusera fora de casa a mais nova. A princesa cozinhou o jantar, mas nos manjares que haviam de ser postos ao rei seu pai não botou sal de propósito. Todos comiam com vontade, mas só o rei convidado é que não comia. Por fim perguntou-lhe o dono da casa, porque é que o rei não comia? Respondeu ele, não sabendo que assistia ao casamento da filha: -É porque a comida não tem sal. O pai do noivo fingiu-se raivoso, e mandou que a cozinheira viesse ali dizer porque é que não tinha botado sal na comida. Veio então a menina vestida de princesa, mas assim que o pai a viu, conheceu-a logo, e confessou ali a sua culpa, por não ter percebido quanto era amado por sua filha, que lhe tinha dito, que lhe queria tanto como a comida quer o sal, e que depois de sofrer tanto nunca se queixara da injustiça de seu pai.
“Os quatro músicos” - Conto tradicional lido por “Os quatro músicos” - Conto tradicional lido por Adriana Neves, Gabriel Menezes, Luís Costa, Nikita Miroshnyk, Matilde Ribeiro – 6.ºD, no âmbito da atividade EU CONTO. Versão Os músicos da cidade de Bremen - Um conto de fadas dos Irmãos Grimm Houve, uma vez, um homem que possuía um burro, o qual, durante longos anos, tinha carregado assiduamente os sacos de farinha ao moinho, mas, por fim, as forças o abandonaram e, de dia para dia, tornava-se menos apto para o trabalho.O patrão, então, resolveu tirar-lhe a ração para que morresse; mas o burro percebeu em tempo as más intenções do dono e decidiu fugir, tomando a estrada de Bremen. Lá, pensava ele, teria possibilidade de ingressar como músico na banda municipal. Assim, pois, tendo caminhado um bom trecho, encontrou um cão de caça deitado na estrada, ofegando como se tivesse corrido muito.- Por quê estás tão ofegante, Mastim? - perguntou-lhe o burro.- Ah, - respondeu tristemente o cão, - como já estou velho e cada dia mais fraco, custando-me ir à caça, meu patrão decidiu matar-me. Então fugi, mas agora que farei para ganhar o pão de cada dia?- Queres saber uma coisa? - disse o burro; - eu vou a Bremen, onde terei a profissão de músico; vem tu, também, e arranja-te para entrar na banda. Eu toco alaúde e tu bates os tímpanos.A proposta agradou ao cão; então continuaram o caminho juntos. Depois de andar bom trecho, encontraram, à margem da estrada, um gato com a cara anuviada como em dia de chuva.- Que é isso, algo te foi de atravessado, velho Limpa-Barbas? - perguntou-lhe o burro.- Como é possível estar alegre quando se está pelos colarinhos? - rosnou o gato. - Como já estou velho e meus dentes não estão mais afiados como antes, preferindo, além disso, ficar tranquilamente roncando junto do fogo em vez de correr atrás dos ratos, minha patroa tentou afogar-me. Consegui escapulir, é verdade, mas agora surge a complicação: aonde irei?- Vem conosco para Bremen; como és entendido em serenatas, poderás entrar na banda municipal!O gato achou a ideia excelente e foi com eles. Pouco depois, os três fugitivos passaram diante de um terreiro e viram um galo, empoleirado no portão, a cantar desbragadamente.- Gritas a ponto de fazer quebrar os tímpanos da gente; que te sucede? - perguntou-lhe o burro.- Pois é, - disse o galo; - eu anunciei bom tempo, porque é dia de Nossa Senhora lavar as camisinhas do Menino Jesus e precisa que enxuguem. Mas, como amanhã é domingo e teremos hóspedes, minha patroa, impiedosamente, disse à cozinheira que deseja fazer uma canja comigo; assim, hoje à noite, terei de deixar-me cortar o pescoço. Então berro até não poder mais,- Deixa disso, Crista-Vermelha, - disse o burro; - fazes melhor vindo conosco, que vamos a Bremen; qualquer coisa, melhor do que a morte, sempre hás de encontrar. Tens uma bela voz e, juntando-nos todos para fazer música, tudo irá maravilhosamente.O galo interessou-se pela proposta e aceitou. Os quatro, então, puseram-se a caminho.Mas não podiam chegar a Bremen num dia; portanto, quando já estava escurecendo, chegaram a uma floresta e aí resolveram pernoitar. O burro e o cão deitaram-se debaixo de uma árvore muito alta; o gato e o galo treparam nos galhos. O galo voou até ao galho mais alto por lhe parecer mais seguro. Antes de adormecer, porém, correu os olhos em todas as direções e pareceu-lhe distinguir ao longe uma luzinha brilhando. Então gritou aos companheiros que, não muito longe, dali, devia encontrar-se alguma casa, pois estava vendo uma luz a brilhar.- Então levantemo-nos e vamos até lá, - disse o burro, - porque o alojamento aqui é bastante ruim.O cão, por seu lado, pensava que um osso com alguma carne grudada, viria a calhar. Por conseguinte, tomaram o rumo em direção à luzinha; não demorou muito, viram-na brilhar mais claramente e cada vez mais perto, até que descobriram uma casa fartamente iluminada, mas que não passava de um covil de ladrões. O burro, que era o mais alto, aproximou-se da janela e espiou dentro.- Que vês, Rabicâo? - perguntou o galo.Que estou vendo? - respondeu o burro - umamesa posta, cheia das melhores iguarias e, sentados em volta dela, um bando de ladrões regalando-se!- Ah! viria a calhar para nós, - disse o galo.- Ah, se estivéssemos lá dentro! - tornou o burro.Então os quatro animais reuniram-se em conselhopara estudar a maneira de enxotar os ladrões; finalmente, chegaram a uma conclusão. O burro teve de apoiar as patas dianteiras no beirai da janela; o cão saltou em cima das costas do burro; o gato trepou no cão, e o galo, com um largo voo, foi pousar na cabeça do gato. Em seguida, dado o sinal, prorromperam todos juntos em concerto: o burro zurrava com toda a força de seus pulmões; o cão latia furiosamente; o gato miava de causar medo e o galo cocoricava sonoramente. Com essa algazarra toda, pularam para dentro da janela e foram cair em cheio no centro da sala, fazendo tinir os vidros.Ante esse barulho ensurdecedor, os ladrões pularam das cadeiras; julgando que um fantasma vinha entrando e, cegos pelo terror, fugiram em carreira desabalada para a floresta. Os quatro companheiros, então refestelaram- se em volta da mesa e avançaram no que tinha sobrado, comendo tanto como se não tivessem comido há quatro semanas.Quando terminaram de comer, os quatro músicos apagaram as luzes e procuraram um lugar confortável para dormir, cada qual de acordo com a própria natureza. O burro deitou-se na estrumeira, o cão deitou-se atrás da porta, o gato enrolou-se na cinza ainda quente do fogão e o galo empoleirou-se na trave mestra. Sentindo- se muito cansados pela longa caminhada, adormeceram logo.Passada a meia-noite, os ladrões viram de longe que na casa não brilhava mais luz alguma e tudo parecia mergulhado na calma e no silêncio. Então, o chefe da quadrilha disse:- Fomos tolos, não deveríamos ter-nos deixado espantar.Resolveu mandar um de seus homens explorar a casa.O homem foi; encontrando tudo calmo, dirigiu-se à cozinha para acender uma luz; aí viu no fogão os olhos brilhantes do gato e, confundindo-se com brasas, pegou um pedaço de cavaco e enfiou-o neles para acender. Mas o gato não gostou da brincadeira e pulou-lhe na cara, cuspindo e arranhando-o todo. Assustadíssimo, o homem tratou de fugir pela porta do fundo, mas o cão, deitado na soleira, deu um salto e mordeu-lhe a perna; quis fugir pelo terreiro mas, ao passar correndo perto da estrumeira, o burro atirou-lhe um solene coice com a pata traseira, e o galo, que tinha acordado com todo esse tumulto, pôs-se a berrar freneticamente do alto da trave: Qui qui ri qui qui!O ladrão, meio morto de susto, saiu a correr até perder o fôlego e foi contar ao chefe o que lhe acontecera.- Lá na casa está uma bruxa medonha, que me soprou cinza em cima e me arranhou todo o rosto com as garras aduncas. Na soleira da porta está sentado um homem, que me feriu a perna com sua faca. No terreiro, então, há um monstro negro que me agrediu com uma tora de madeira, enquanto que, em cima do telhado, estava o juiz a gritar: "Tragam-me esse bandido aqui!" Então tratei de me salvar e nem sei como consegui chegar até aqui!Desde esse dia, os ladrões nunca mais se arriscaram a entrar na casa, o que foi ótimo para os quatro músicos de Bremen, que nela se instalaram, vivendo tão regaladamente que nunca mais quiseram sair.E quem por último a contou, ainda a boca não lhe esfriou.
“A menina dos brincos de ouro” – Conto tradicional lido por Bruno Costa – 9.º G Era uma vez uma pobre viúva, que tinha só uma filha que nunca saía da sua beira; outras raparigas da vizinhança foram-lhe pedir, que na véspera de S. João deixasse ir a sua filha com elas para se banharem no rio. A rapariga foi com o rancho; antes de se meterem no banho, disse-lhe uma amiga:– Tira os teus brincos e põe-nos em cima duma pedra, porque te podem cair na água.Assim fez; quando estavam a brincar na água passou um velho, e vendo os brincos em cima de uma pedra, pegou neles e deitou-os para dentro do surrão.A rapariga ficou muito aflita quando viu aquilo, e correu atrás do velho que já ia longe. O velho disse-lhe que entregava os brincos, com tanto que ela os fosse buscar dentro ao surrão. A rapariga foi procurar os brincos, e o velho fechou o surrão, com ela dentro, botou-o às costas e foi-se de vez. Quando as outras moças apareceram sem a sua companheira, a pobre viúva lamentou-se sem esperança de tornar a achar a filha. O velho, ao passar a serra, abriu o surrão e disse para a pequena:– Daqui em diante hás de me ajudar a ganhar a vida; eu ando pelas ruas, a pedir, e quando disser:Canta surrão,Senão levas com o bordão…– Tens de cantar por força. Toma tento.Por toda a parte onde o velho passava todos ficavam admirados daquela maravilha. Chegou a uma terra, aonde já chegara a notícia de um velho que fazia cantar um surrão, e muita gente o cercou para se certificar. O velho depois que viu que já estavam bastantes curiosos, levantou o pau e disse:– Canta surrão,Senão levas com o bordão…Ouviu-se então um canto que dizia:– Estou metida neste surrão,Onde a vida perderei;Por amor dos meus brinquinhosQue eu na fonte deixei.As autoridades tiveram conhecimento daquele caso, e trataram de ver onde é que o velho pousava; foram ter com uma vendeira, que se prestou a deixar examinar o surrão quando o velho estivesse dormindo. Assim se fez; lá encontraram a pobre rapariga, muito triste e doente, que contou tudo, e então é que soube do caso da viúva a quem tinham furtado a filha. A pequena saiu com as autoridades, que mandaram encher o surrão de todas as porcarias, de sorte que quando o velho foi ao outro dia mostrar o surrão, este não cantou; deu-lhe com o bordão, e então derramou-se pelo chão toda aquela porcaria que o povo lhe obrigou a lamber, sendo dali levado para a cadeia, e a menina foi para casa de sua mãe.
Contos e lendas
Rodrigo Marcelino, do 9.º G, lê a Lenda do Bicho Cidrão, no âmbito da atividade EU CONTO. O Bicho Cidrão é um ser imaginário das lendas portuguesas na região da Madeira que assombra uma montanha, na freguesia do Curral das Freiras, chamada o Montado do Cidrão. O bicho Cidrão seria, segundo a lenda, a alma penada de um pastor. Conta-se que quando o bicho Cidrão berra é presságio de chuva ou tempestade e que o bicho Cidrão conduz o rebanho sem que ninguém veja. A LENDA DO BICHO CIDRÃO O som é aterrador e toma conta do corpo e do espírito de quantos o ouvem, num misto de desassossego e angústia, num desejo de fugir e de ficar, numa ânsia indizível de despenhamento. Parece um uivo mas é também um grito, profundo e rouco que devia vir das entranhas da terra mas surge inesperado do alto da serra. São centenas de gargantas escancaradas e escarpadas gemendo alto uma dor qualquer que é natural, e por isso mesmo, sem tempo e sem fuga. (...)O Pico Cidrão é uma serra quase inacessível ao homem. Habitam-no o vento e a águia. Constituído por rocha basáltica, negra e dura, é todo ele recoberto de cavernas abertas como bocas escancaradas.Conta-se que há tempos habitou aquelas paisagens abruptas e quase inexpugnáveis um pastor. Esse homem tinha um cão que era o único e fiel amigo de muitas solidões. Habituado àquelas lonjuras feitas de escarpas, o cão tornara-se quase tão bom saltador quanto as cabras que guardava.Um dia, recolhia o pastor o seu rebanho, o cão, que andava atrás de um animal extraviado, calculou mal o salto e despenhou-se no vácuo, resvalando de escarpa em escarpa. Rolou; rasgou-se nas lâminas de pedra num uivo de dor imensa e acabou sendo ele mesmo um pouco de cada rocha.Como sempre ante o irremediável, o ser humano segue um de dois caminhos: ou se fecha num castelo inexpugnavelmente seco e silencioso, ou retribui à Natureza o golpe inexplicável e sempre tão aparentemente inútil que é a morte, num grito feroz de lágrimas.E o pastor fez-se eco do uivo do cão:- Que mãe és tu, que me rouba o irmão, o amigo!...Tu, que tudo me tens negado, tu, vens tirar-me o companheiro da minha vereda!! Maldita sejas! Maldita... e só, para sempre! Ah! Antes o tivesse um dia oferecido ao Demo!...O vento tomou conta do uivo e da maldição, e das palavras fez sibilações. Enquanto o pastor viveu, guardou-as nas cavernas do Pico, escondidas e secretas, onde só a águia penetrava para as limpar da poeira do tempo. Quando, por fim, o pastor se foi juntar ao companheiro de outrora, o vento ordenou à águia que soltasse o uivo e a maldição que num eterno jogo de escondidas habitam desde então as alturas do Pico Cidrão.Dizem as gentes da região que aquele grituivo aterrorizante provém do ser híbrido e demoníaco que são os espíritos dos dois amigos, finalmente um só, o Bicho Cidrão.
Afonso Fereira e Rafael Gonçalves, do 6.º H, leem "A Lenda do Galo de Barcelos", no âmbito da atividade "Eu Conto". Certo dia, apareceu um galego que se tornou suspeito. As autoridades resolveram prendê-lo e apesar dos seus juramentos de inocência, ninguém acreditou que o galego se dirigisse a Santiago de Compostela, em cumprimento de uma promessa, e que fosse ferveroso devoto de Santiago, S.Paulo e Nossa Senhora. Por isso, foi condenado à forca. Antes de ser enforcado, pediu que o levassem à presença do juiz que o condenara. Concedida a autorização, levaram-no à residência do magistrado que, nesse momento, se banqueteava com alguns amigos. O galego voltou a afirmar a sua inocência e, perante a incredulidade dos presentes, apontou para um galo assado que estava sobre a mesa, exclamando: “É tão certo eu estar inocente, como certo é esse galo cantar quando me enforcarem”. Risos e comentários não se fizeram esperar mas, pelo sim pelo não, ninguém tocou no galo.O que parecia impossível tornou-se, porém, realidade! Quando o peregrino estava a ser enforcado, o galo assado ergueu-se na mesa e cantou. Já ninguém duvidou das afirmações de inocência do condenado. O juiz correu à forca e viu, com espanto, o pobre homem de corda ao pescoço. Todavia, o nó lasso impedia o estrangulamento. Imediatamente solto foi mandado em paz. Passados alguns anos, voltou a Barcelos e fez erguer o monumento em louvor a Santiago e à Virgem.
Miguel Guerreiro, do 5.º C, lê a Lenda da Boca do Inferno, no âmbito da atividade EU CONTO. Na zona de Cascais, em tempos existiu um castelo habitado por um bruxo que escolheu a mais bela donzela da zona para se casar, mas por ciúmes decidiu prendê-la escondida. A donzela ficou confinada a uma torre solitária, com um cavaleiro de guarda, sem nunca se poderem ver. Os anos passaram e os dois conversavam e faziam-se companhia, até que o cavaleiro decidiu subir à torre para ver a sua amiga. Diz a lenda que se enamoraram e fugiram a cavalo. O bruxo invocou uma forte tempestade que atingiu os rochedos por onde os amantes fugiam, abrindo-se como uma boca, que engoliu o casal. Esse buraco nunca mais fechou, e a população começou a chamar-lhe de a Boca do Inferno. (fonte: National Geographic)
Raúl Esteves, Rita Mota, Santiago Santos e Vicente Ferrão, do 6.º H, leem o conto tradicional "O dia em que choveram chouriços", no âmbito da atividade "Eu Conto".
A professora Magda Carvalho lê a lenda "Os dois amigos". Diz uma lenda árabe que dois amigos viajavam pelo deserto. Numa determinada altura da viagem, discutiram e um acabou por dar uma bofetada no outro. O outro, ofendido, sem nada poder fazer, escreveu na areia: Hoje, o meu melhor amigo deu-me uma bofetada no rosto. Seguiram adiante e chegaram a um oásis onde resolveram tomar banho. O que tinha sido esbofeteado, começou a afogar-se, mas acabou por ser salvo pelo amigo. Ao recuperar, pegou um canivete e escreveu numa pedra: Hoje, o meu melhor amigo salvou a minha vida. Intrigado, o amigo perguntou: - Por que é que depois de te magoar, escreveste na areia e agora, escreves na pedra? Sorrindo, o outro amigo respondeu: - Quando um grande amigo nos ofende, devemos escrever onde o vento do esquecimento e do perdão se encarreguem de esmorecer e apagar a lembrança. Por outro lado, quando nos acontece algo grandioso, devemos gravar isso na pedra da memória do coração... Onde nunca se possa esquecer!"
Trava-Línguas
Trava-línguas – Ana Macunge, Gabriel Menezes, Luís Costa, Nikita Miroshnyk, Matilde Ribeiro, Maria Rita Ferreira – 6.ºD
Trava-línguas – Ana Macunge, Gabriel Menezes, Luís Costa, Nikita Miroshnyk, Matilde Ribeiro, Maria Rita Ferreira – 6.ºD
Trava-línguas – Ana Macunge, Gabriel Menezes, Luís Costa, Nikita Miroshnyk, Matilde Ribeiro, Maria Rita Ferreira – 6.ºD
A professora Magda Carvalho lê alguns trava-línguas com repetição do som R. O rato roeu a rolha da garrafa do rei da Rússia. O raio do rato roeu a rolha do rei da Rússia. O raio do rato roeu a rolha da garrafa de rum do rei da Rússia. O raio do rato roeu a rolha redonda da garrafa de rum do rei da Rússia. O raio do rato roeu a rolha redonda da garrafa de rum de Roberto, o rei da Rússia. O raio do rato roeu raivoso a rolha redonda da garrafa de rum de Roberto, o rei da Rússia. O raio do rato roeu raivoso e rápido a rolha redonda da garrafa de rum de Roberto, o rei da Rússia. O raio do rato roeu raivoso e rápido a rolha redonda da garrafa de rum de Roberto, o ruidoso rei da Rússia.- Raio! – ralhou o rei. – rato rapace!- Raça! – rugiu o rato. – é rija a rolha!
Alguns dos 40 participantes
agradece a todos os participantes
O desafio do PNL foi aceite e o resultado, a nível nacional, ouve-se aqui. Alguns alunos da José Saraiva, também.
O desafio do PNL foi aceite e o resultado, a nível nacional, ouve-se aqui. Alguns alunos da José Saraiva, também.