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"Almada Negreiros: Entre a Pintura e a Palavra"

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Created on March 19, 2025

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7 de abril de 1893

"Almada Negreiros: Entre a Pintura e a Palavra"

“Até hoje fui sempre futuro.”

José Sobral de Almada Negreiros, uma das figuras mais marcantes do modernismo português, nasceu a 7 de abril de 1893 em Trindade, São Tomé e Príncipe. Filho de António Lobo de Almada Negreiros, tenente de cavalaria e administrador do concelho de São Tomé, e de Elvira Sobral de Almada Negreiros, uma mestiça, Almada cresceu num ambiente que, embora distante do centro cultural europeu, moldou as suas primeiras perceções do mundo. A sua infância foi marcada por eventos que viriam a influenciar profundamente a sua vida e obra. Aos três anos de idade, Almada perdeu a mãe, que faleceu em 1896. Pouco tempo depois, o seu pai partiu definitivamente para Paris, deixando os dois filhos, José e António, aos cuidados de terceiros. Em 1900, com apenas sete anos, Almada foi enviado para Lisboa para continuar os seus estudos. Foi neste contexto que ingressou como aluno interno no Colégio Jesuíta de Campolide, onde permaneceu durante uma década. O período que Almada passou no Colégio Jesuíta (1900-1910) revelou-se crucial para a sua formação intelectual e artística. Apesar da rigidez e disciplina características da educação jesuíta, o jovem demonstrou desde cedo uma forte inclinação para as artes e a escrita. Durante estes anos, começou a dar os primeiros passos como criador, redigindo jornais manuscritos como República, Mundo e Pátria, nos quais já se podia observar o seu espírito crítico e inovador. Embora não tenha frequentado nenhuma escola formal de ensino artístico durante este período, Almada desenvolveu as suas habilidades artísticas de forma autodidata. O seu interesse pelas artes visuais começou a despontar ainda na juventude, com esboços e desenhos que refletiam a sua curiosidade pelo mundo que o rodeava. Esta combinação entre autodidatismo e criatividade precoce viria a ser uma constante ao longo da sua carreira. Em 1910, com a Implantação da República em Portugal, o Colégio Jesuíta de Campolide foi encerrado. Aos 17 anos, viu-se obrigado a procurar novos caminhos para continuar a sua formação e explorar as suas paixões artísticas. Este momento representou uma transição significativa na sua vida, preparando-o para os anos seguintes em que se afirmaria como uma figura central do modernismo português. Embora os primeiros anos da vida de Almada Negreiros tenham sido marcados por perdas pessoais e mudanças significativas, estes acontecimentos ajudaram a moldar o espírito resiliente e criativo que caracterizaria toda a sua obra.

A Vida e Obra de Almada Negreiros: 1893-1910

“Dói-me tanto vê-los parvos!” ― José de Almada Negreiros, K4 O Quadrado Azul

Em 1911, com apenas 18 anos, participou na primeira exposição de humoristas portugueses. Isto foi só o começo da sua aventura no mundo da arte! Em 1915, aconteceu algo muito importante: Almada ajudou a criar a revista "Orpheu". Esta revista era como um livro cheio de poemas e desenhos modernos, muito diferentes do que as pessoas estavam habituadas a ver. Foi um grande choque para muitos, mas para os artistas jovens como Almada, era o início de uma nova era na arte portuguesa. Nesse mesmo ano, Almada escreveu um texto muito famoso chamado "Manifesto Anti-Dantas". Era como se fosse uma carta aberta onde ele criticava as ideias antigas sobre arte e cultura. Foi um momento em que Almada mostrou que não tinha medo de dizer o que pensava, mesmo que isso chocasse as pessoas. Entre 1916 e 1917, Almada ficou muito entusiasmado com uma nova ideia artística chamada Futurismo. Este movimento celebrava coisas modernas como máquinas e velocidade. Almada até fez um discurso público sobre isso, chamado "Ultimatum Futurista", onde falava sobre as suas ideias para o futuro da arte em Portugal. Mas Almada não parou por aí! Nos últimos anos desta década, começou a interessar-se por teatro e dança. Em 1919, escreveu uma peça de teatro chamada "Antes de Começar". Também trabalhou em espetáculos de dança, criando histórias, coreografias e até os fatos para os bailarinos. Durante estes dez anos, Almada Negreiros transformou-se num verdadeiro artista completo. Ele escrevia, desenhava, fazia teatro e pensava sobre arte de formas novas e emocionantes. O seu trabalho ajudou a mudar a forma como as pessoas em Portugal viam a arte e a cultura. Almada mostrou que ser artista não significava fazer sempre as mesmas coisas da mesma maneira. Ele experimentou, arriscou e nem sempre agradou a todos. Mas foi assim que ajudou a trazer novas ideias para a arte portuguesa, tornando-se numa das figuras mais importantes da cultura do seu país no século XX.

Almada Negreiros: Uma Década de Revolução Artística (1910-1920)

"O preço de uma pessoa vê-se na maneira como gosta de usar as palavras. Lê-se nos olhos das pessoas. As palavras dançam nos olhos das pessoas conforme o palco dos olhos de cada um."

Em 1921, ele publicou dois livros de poesia: "O Menino de Olhos de Gigante" e "A Invenção do Dia Claro". Estes livros mostravam como ele gostava de brincar com as palavras e as ideias de uma forma nova e divertida. Em 1924, escreveu uma peça chamada "Pierrot e Arlequim". No ano seguinte, começou a escrever um romance muito importante chamado "Nome de Guerra", embora só o tenha publicado muitos anos depois. Em 1925, pintou um autorretrato para o café A Brasileira do Chiado, onde se retratou junto com outros artistas seus amigos. No ano seguinte, fez um nu feminino para o Bristol Club. Durante este tempo, Almada participou em várias exposições importantes e colaborou em revistas de arte e literatura. Em 1927, Almada decidiu mudar-se para Madrid, em Espanha. Lá, conheceu muitos outros artistas e escritores, o que o ajudou a desenvolver ainda mais as suas ideias sobre arte. A forma como Almada desenhava e pintava também mudou durante estes anos. Os seus desenhos tornaram-se mais parecidos com pinturas, com linhas menos definidas e mais jogos de luz e sombra. Ele começou a usar ideias do cubismo, um estilo de arte que mostra as coisas de formas geométricas e de vários ângulos ao mesmo tempo. Em 1932 e 1933, fez palestras importantes em Lisboa, onde explicou as suas ideias sobre arte e o papel dos artistas na sociedade. A 31 de março de 1934, ele casou-se com Sarah Affonso, que também era uma pintora muito talentosa. Este casamento foi muito especial para Almada, não só na sua vida pessoal, mas também na sua carreira artística. Sarah e Almada inspiravam-se um ao outro e trabalhavam juntos em muitos projetos. No final deste período, em 1935, Almada pintou uma obra chamada "Maternidade", que mostra como o seu estilo artístico tinha evoluído ao longo dos anos.

Almada Negreiros: Uma Vida de Arte e Inovação (1921-1935)

Em 1940, ele pintou as paredes do edifício do jornal Diário de Notícias em Lisboa e dos Correios de Aveiro. Estas pinturas eram tão bonitas que as pessoas paravam para as admirar. Entre 1945 e 1948, Almada fez algo muito especial. Ele pintou grandes murais nas Gares Marítimas de Alcântara e da Rocha do Conde de Óbidos. Estas são as estações onde os barcos chegam a Lisboa. As suas pinturas contavam histórias sobre a vida em Portugal e eram tão bonitas que ainda hoje as pessoas vão lá para as ver. Nos anos 50 e 60, ele continuou a fazer grandes obras de arte para edifícios importantes. Por exemplo, entre 1957 e 1961, ele criou painéis decorativos para os edifícios da Universidade de Lisboa. Em 1968, Almada fez uma das suas obras mais famosas: o painel "Começar" para o edifício da Fundação Calouste Gulbenkian. Este painel é como um grande quebra-cabeças cheio de símbolos e formas geométricas. É tão interessante que as pessoas ainda hoje tentam descobrir todos os seus significados. Em 1942 e 1946, ganhou prémios importantes por suas pinturas e desenhos. Em 1963, quando fez 70 anos, foi homenageado com um livro especial sobre a sua vida e obra. E em 1967, recebeu uma condecoração muito importante do governo português. À medida que ficava mais velho, o estilo de Almada mudava um pouco. As suas pinturas tornaram-se mais suaves e poéticas, mas continuavam a ser muito criativas e originais. Ele adorava trabalhar com arquitetos, ajudando a decorar edifícios novos com a sua arte. Infelizmente, Almada Negreiros faleceu em 15 de junho de 1970. Mas deixou-nos um tesouro de arte: desenhos, pinturas, livros e muitas obras em edifícios por todo o país. A vida de Almada Negreiros mostra-nos que ser artista é muito mais do que apenas pintar ou escrever. É sobre ver o mundo de formas diferentes e partilhar essas ideias com os outros através da arte. Almada fez isso durante toda a sua vida, deixando Portugal mais bonito e interessante com as suas criações.

Almada Negreiros: O Grande Artista Português (1936-1970)

O Povo completo será aquele que tiver reunido no seu máximo todas as qualidades e todos os defeitos. Coragem portugueses, só vos faltam as qualidades.

Dois anos depois, em 1959, ganhou o Prémio Nacional das Artes, que era um dos maiores reconhecimentos que um artista podia receber em Portugal. Perto do final da sua vida, em 1966, Almada recebeu o Prémio Diário de Notícias, mostrando que o seu trabalho continuava a ser muito importante e apreciado. Em 1967, Almada recebeu uma honra muito especial do governo português. Foi condecorado com o grau de Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada. Todos estes prémios e participações em revistas mostram como Almada Negreiros foi um artista muito importante e respeitado durante toda a sua vida. Ele não só criava arte incrível, como também partilhava as suas ideias em muitas revistas diferentes, ajudando a inspirar outras pessoas e a mudar a forma como as pessoas pensavam sobre arte em Portugal.

Almada Negreiros começou a escrever para revistas muito cedo. Em 1915, participou numa revista muito importante chamada "Orpheu". Esta revista ajudou a trazer novas ideias artísticas para Portugal. Dois anos depois, em 1917, escreveu para outra revista chamada "Portugal Futurista", que falava sobre ideias modernas e do futuro. Ao longo dos anos, Almada continuou a escrever para muitas outras revistas portuguesas. Algumas delas eram a "Contemporânea", a "Athena" e a "Presença". Ele até criou a sua própria revista em 1935, chamada "Sudoeste"! Quando viveu em Espanha, também escreveu para revistas espanholas. Algumas delas eram "La Gaceta Literaria", "Nuevo Mundo" e "El Sol". Isto mostra como as ideias de Almada eram importantes não só em Portugal, mas também noutros países. Em 1942, ganhou o Prémio Columbano, que era dado a artistas muito talentosos. Quatro anos depois, em 1946, recebeu o Prémio Domingos Sequeira pelo seu trabalho em desenho e aguarela. Em 1957, Almada participou numa grande exposição de arte organizada pela Fundação Calouste Gulbenkian.

Almada Negreiros: Um Artista em Muitas Páginas e Prémios

“Mas eu andei a procurar por todas as vidas uma para copiar e nenhuma era para copiar.” ― José de Almada Negreiros, A Invenção do Dia Claro

Aqui está uma lista das principais obras literárias de José de Almada Negreiros:

"A Palavra e o Traço: As Obras Literárias de José de Almada Negreiros"

“As palavras dançam nos olhos das pessôas conforme o palco dos olhos de cada um.” ― Almada Negreiros

“Entrei numa livraria. Pus-me a contar os livros que há para ler e os anos que terei de vida. Não chegam! Não duro nem para metade da livraria! Deve haver certamente outras maneiras de uma pessoa se salvar, senão… estou perdido.” ― Almada Negreiros, A Invenção do Dia Claro

"A Palavra e o Traço: As Obras Literárias de José de Almada Negreiros"

“Eu sou o resultado consciente da minha própria experiência.”

"Cenários e Palavras: A Contribuição de Almada Negreiros para o Teatro"

José de Almada Negreiros foi um artista português muito talentoso que viveu de 1893 a 1970. Ele era bom em muitas coisas, como pintura, escrita e teatro. O teatro era muito importante para Almada Negreiros. Ele começou a escrever peças de teatro em 1912 e continuou até 1965. Almada não só escrevia as peças, mas também desenhava os cenários e os fatos para as personagens. Ele via o teatro como uma "arte total", ou seja, uma forma de arte que juntava todas as outras. Uma das peças mais famosas de Almada Negreiros chama-se "Deseja-se Mulher". Foi escrita em 1928 e é considerada muito moderna para a sua época. Nesta peça, Almada fez algo diferente: em vez de contar uma história normal, ele usou uma escrita mais fragmentada e não tinha muita ação. Isto era uma forma de fazer o público pensar e participar mais no espetáculo. Almada Negreiros não era só um escritor de teatro. Ele também gostava de atuar e de se apresentar em público. Uma vez, ele deu uma palestra vestido de operário num teatro em Lisboa. Noutra ocasião, já com mais idade, ele apareceu num programa de televisão chamado Zip-Zip, onde mostrou que era muito bom a comunicar com as pessoas. O teatro de Almada Negreiros era diferente do que as pessoas estavam habituadas a ver. Ele gostava de experimentar coisas novas e de fazer as pessoas pensar de formas diferentes. Por isso, às vezes era difícil para as companhias de teatro profissionais apresentarem as suas peças. Mesmo quando Almada não estava a fazer teatro, ele usava ideias do teatro no resto do seu trabalho. Por exemplo, nas suas pinturas e desenhos, as figuras muitas vezes parecem estar a fazer poses de teatro. Isto mostra como o teatro estava sempre presente na mente de Almada Negreiros.

O Manifesto Anti-Dantas é um texto polémico escrito por José de Almada Negreiros em 1915. Foi publicado por ocasião da estreia da peça de teatro "Soror Mariana Alcoforado" de Júlio Dantas, e representa uma reação veemente contra o conservadorismo artístico da época. Este manifesto surgiu num contexto de grande agitação cultural em Portugal. A revista Orpheu, marco inicial do Modernismo Português, havia sido publicada no mesmo ano, causando escândalo junto da burguesia lisboeta conservadora. Júlio Dantas, um crítico literário e defensor dos padrões estéticos tradicionais, atacou ferozmente os vanguardistas da Orpheu. Almada Negreiros, então com 23 anos, respondeu com o Manifesto Anti-Dantas, um texto virulento impresso em papel de embrulho e escrito inteiramente em maiúsculas. O manifesto não se limitava a atacar Dantas, mas visava toda uma geração literária que ele representava. O texto é caracterizado por uma linguagem provocadora, insultuosa e iconoclasta. é: "UMA GERAÇÃO, QUE CONSENTE DEIXAR-SE REPRESENTAR POR UM DANTAS É UMA GERAÇÃO QUE NUNCA O FOI!" O Manifesto Anti-Dantas causou grande escândalo e polémica na época, esgotando rapidamente a primeira edição. Diz-se que o próprio Júlio Dantas tentou comprar o maior número possível de cópias. Hoje, é considerado um marco importante na história do modernismo português e um exemplo da ousadia criativa de Almada Negreiros.

"Almada Negreiros: O Manifesto Anti-Dantas e a Luta pelo Modernismo"

No dia 14 de abril de 1917, no Teatro República, em Lisboa (hoje conhecido como Teatro São Luiz), aconteceu um dos momentos mais marcantes da história da arte em Portugal: a 1ª Conferência Futurista. Este evento foi organizado por Almada Negreiros, que aproveitou a ocasião para ler o seu provocador texto intitulado "Ultimatum Futurista às Gerações Portuguesas do Século XX". Na conferência, apresentou-se vestido de aviador, algo completamente inesperado e ultrajante para a época. Este gesto simbolizava a modernidade e a vontade de romper com as tradições. Almada queria desafiar as mentalidades do público e provocar uma mudança na forma como os portugueses viam a arte e a cultura. Durante o evento, foram também lidos manifestos futuristas de artistas internacionais, como Filippo Tommaso Marinetti (Le Music-Hall) e Valentine de Saint-Point (Manifeste Futuriste de la Luxure). Estes textos exaltavam valores como a velocidade, a aventura e o progresso, características centrais do movimento futurista. O "Ultimatum Futurista" No seu manifesto, Almada Negreiros fez duras críticas à sociedade portuguesa da época. Ele acreditava que Portugal estava preso ao passado e precisava urgentemente de se modernizar. No "Ultimatum", Almada apelava à criação de uma nova pátria portuguesa no século XX, baseada na inovação e na coragem. Algumas das suas frases mais marcantes incluem: "É preciso criar a pátria portuguesa do século XX." "Se sois homens sede Homens, se sois mulheres sede Mulheres da vossa época." O artista exaltava valores como a aventura, o recorde e a ousadia, defendendo que só assim seria possível construir um futuro digno. A Reação do Público A conferência não foi bem recebida por todos. O público presente, habituado a eventos literários mais tradicionais, ficou chocado com as afirmações ousadas de Almada. O jornal A Capital descreveu o evento como "O Elogio da Loucura", referindo-se ao caráter extravagante da apresentação. Apesar das críticas, Almada respondeu com humor, agradecendo à imprensa pela "camaradagem futurista". O Legado do "Ultimatum" . Embora tenha causado polémica na altura, o "Ultimatum Futurista" tornou-se um marco na história da arte portuguesa. Almada Negreiros mostrou que era possível romper com as tradições e criar algo novo e revolucionário. Ele não queria apenas criticar; queria construir um futuro melhor para Portugal através da arte. Hoje, este episódio é lembrado como um exemplo da coragem criativa de Almada Negreiros. Ele não tinha medo de arriscar ou de ser incompreendido, porque acreditava profundamente no poder transformador da arte. Para os jovens artistas e estudantes, o "Ultimatum Futurista" continua a ser uma inspiração para pensar fora da caixa e lutar por aquilo em que acreditam.

Almada Negreiros e o "Ultimatum Futurista": Uma Revolução na Arte Portuguesa

"As palavras dançam nos olhos das pessoas conforme o palco dos olhos de cada um".

"Almada Negreiros em Movimento: Uma Viagem Audiovisual pela Vida e Obra do Artista Modernista"

Mãe! Ata as tuas mãos às minhas e dá um nó-cego muito apertado! Mãe! Passa a tua mão pela minha cabeça! Quando passas a tua mão na minha cabeça é tudo tão verdade!

"Almada Negreiros em Movimento: Uma Viagem Audiovisual pela Vida e Obra do Artista Modernista"

"Tu, que descobriste o cabo da Boa-Esperança; e o Caminho Marítimo da Índia; e as duas Grandes Américas, e que levaste a chatice a estas Terras e que trouxeste de lá mais chatos p'raqui e qu'inda por cima cantaste estes Feitos..." - in A Cena do Ódio"

Almada Negreiros - Nome de Guerra: A Invenção do Inventado

Almada Negreiros na gare marítima de alcântara, Lisboa

O homem que se procura. Almada Negreiros

José de Almada-Negreiros : Manifesto Anti-Dantas e Por Extenso-Poeta d'Orpheu Futurista e Tudo

José de Almada-Negreiros : Ultimatum Futurista - As Geracoes Portuguesas do Seculo XX

"Almada Negreiros em Movimento: Uma Viagem Audiovisual pela Vida e Obra do Artista Modernista"

"Quando eu nasci, as frases que hão-de salvar a humanidade já estavam todas escritas, só faltava uma coisa – salvar a humanidade".

"A Pintura de Almada Negreiros: Formas, Cores e Movimento"

“Não tenho culpa de ter nascido em Portugal, e exijo uma pátria que me mereça.”

"A Família de Almada Negreiros: Uma História em Imagens"

CANÇÃO DA SAUDADE Se eu fosse cego amava toda a gente. Não é por ti que dormes em meus braços que sinto amor. Eu amo a minha irmã gemea que nasceu sem vida, e amo-a a fantazia-la viva na minha edade. Tu, meu amor, que nome é o teu? Dize onde vives, dize onde móras, dize se vives ou se já nasceste. Eu amo aquella mão branca dependurada da amurada da galé que partia em busca de outras galés perdidas em mares longissimos. Eu amo um sorriso que julgo ter visto em luz do fim-do-dia por entre as gentes apressadas. Eu amo aquellas mulheres formosas que indiferentes passaram a meu lado e nunca mais os meus olhos pararam nelas. Eu amo os cemiterios - as lágens são espessas vidraças transparentes, e eu vejo deitadas em leitos florídos virgens núas, mulheres bellas rindo-se para mim. Eu amo a noite, porque na luz fugida as silhuetas indecisas das mulheres são como as silhuetas indecisas das mulheres que vivem em meus sonhos. Eu amo a lua do lado que eu nunca vi. Se eu fosse cego amava toda a gente. (Almada Negreiros, in 'Frisos - Revista Orpheu nº1)
FÉRIAS Nas ruas da aldeia as casas fechadas nos seus segredos (como mudos que só não têm fala para dizer) como figuras d´altar aureoladas pelo fluido de cada destino e a brisa avoluma-se de mistério e a paisagem pinta-se de cores parecidas com o que podia ter sido a tingirem os pensamentos em cadeia ou em girândola de glória ao Deus-dará a fingirem significação connosco pessoalmente a animarem-nos a ajudarem-nos a levarmos o peso do corpo uns dias mais uns anos mais até quando for até se engelhar a carne e terminar o serviço e não ter acontecido o que afinal vivemos e ficar uma coluna lisa no ar, sem nenhum tecto apoiado ou uma pedra rasa do chão sem um sentido senão para cada qual um sinal para não pisarem ali josé de almada negreiros
Mãe! Mãe! a oleografia está a entornar o amarelo do Deserto por cima da minha vida. O amarelo do Deserto é mais comprido do que um dia todo! Mãe! eu queria ser o árabe! Eu queria raptar a menina loira! Eu queria saber raptar. Dá-me um cavalo, mãe! Até a palmeira verde está esmeralda! E o anel?! A minha cabeça amolece ao sol sobre a areia movediça do Deserto! A minha cabeça está mole como a minha almofada! Há uns sinais dentro da minha cabeça, como os sinais do Egípcio, como os sinais do Fenício. Os sinais destes já têm antecedentes e eu ainda vou para a vida. Não há muros para que haja estrada! Não há muros para pôr cartazes! Não está a mão de tinta preta a apontar — por aqui! Só há sombras do sol nas laranjeiras da outra margem, e todas as noites o sono chega roubado! Mãe! As estrelas estão a mentir. Luzem quando mentem. Mentem quando luzem. Estão a luzir, ou mentem? Já ia a cuspir para o céu! Mãe! a minha estrela é doida! Coube-me nas sortes a Estrela-doida! Mãe! dá-me um cavalo! Eu já sou o galope! Há uma palmeira, Mãe! O que quer dizer um anel? Tem uma esmeralda. Mãe! eu quero ser as três oleografias! Almada Negreiros, in 'Antologia Poética'
CONFIDÊNCIAS Mãe! Vem ouvir a minha cabeça a contar histórias ricas que ainda não viajei! traze tinta encarnada para escrever estas coisas! tinta cor de sangue, sangue! verdadeiro, encarnado! Mãe! passa a tua mão pela minha cabeça! Eu ainda não fiz viagens e a minha cabeça não se lembra senão de viagens! Eu vou viajar. Tenho sede! Eu prometo saber viajar. Quando voltar é para subir os degraus da tua casa, um por um. Eu vou aprender de cor os degraus da nossa casa. Depois venho sentar me a teu lado. Tu a coseres e eu a contar te as minhas viagens, aquelas que eu viajei, tão parecidas com as que não viajei, escritas ambas com as mesmas palavras. Mãe! ata as tuas mãos às minhas e dá um nó cego muito apertado! Eu quero ser qualquer coisa da nossa casa. Como a mesa. Eu também quero ter um feitio que sirva exactamente para a nossa casa, como a mesa. Mãe! passa a tua mão pela minha cabeça! Quando passas a tua mão na minha cabeça é tudo tão verdade! Este poema faz parte da obra "A invenção do dia claro", publicada em 1921
José de Almada Negreiros / A Varina Lá na Ribeira Nova onde nasce Lisboa inteira na manhã de cada dia há uma varina e se não fosse ela ai não sei não sei que seria de mim! Por ela fiz dois versos a todas as varinas: E vós varinas que sabeis a sal e trazeis o mar no vosso avental! Acho parecidos estes versos com as varinas de Portugal. Uma vez falei-lhe para ouvi-la e vê-la ao pé. A voz saborosa os olhos de variar castanhos de variar castanhos-escuros de variar com reflexos de variar desde a rosa até ao verde desde o verde até ao mar. Num reflexo reflecti: não dar aquele destino ao meu destino aqui. Escrito em 1926- Inédito José de Almada Negreiros
MOMENTO DE POESIA Se escrevo ou leio ou desenho ou pinto, logo me sinto tão atrasado no que devo à eternidade, que começo a empurrar pra diante o tempo e empurro-o, empurro-o à bruta como empurra um atrasado, até que cansado me julgo satisfeito. (Tão gémeos são a fadiga e a satisfação!) Em troca, se vou por aí sou tão inteligente a ver tudo o que não é comigo, compreendo tão bem o que não me diz respeito, sinto-me tão chefe do que está fora de mim, dou conselhos tão bíblicos aos aflitos de uma aflição que não é minha, que, sinceramente, não sei qual é melhor: se estar sozinho em casa a dar à manivela da vida, se ir por aí a ser o Rei de tudo o que não é meu. "Obras Completas" de José de Almada Negreiros,

..."Começo por Fernando Pessoa. Não recordo ter estado alguma vez com Fernando Pessoa e mais outros. Ou lembro vagamente. Lembro-me apenas de ter estado anos com ele e mais ninguém connosco. O poeta Américo Durão lembra-se de ser eu o único do "Orpheu" tu-cá-tu-lá com Fernando Pessoa. Sou comovidamente grato a este testemunho público daquele poeta, tanto mais que devo não ter sido o mais assíduo companheiro de Fernando Pessoa, e o facto de os do "Orpheu" não se tratarem por tu, torna bem significativo o da sua aberta recordação. Há verificável impossível salvo do poeta. Devo a Fernando Pessoa (repito: pela primeira vez na minha vida) a alegria de ver noutrem a oposição e não o costumado contrário nosso alheio. Obrigado, Fernando. Não há aqui de quê agradecer. Também o sei. Desculpe. É a afetividade. Carinho. De parte a parte, em ambos nós nada havia de contrários pois que nenhum dependia dessas classificações engendradas a título social para o sossego e a comodidade de uns tantos. Não. Éramos poetas. Perdão: apresentávamo-nos para poetas. Antes de bons ou maus poetas bebíamos já ambos o delirante veneno de não pertencermos a nada e sermos cá. Partíamos logo desde o respeito muito bem pesado por tudo quanto a outros lhes era forçoso participar no quotidiano. Não ter este forçoso era o nosso carimbo de poetas. Mas para melhor fazer entender o carimbo, direi que isenção que significa poeta tem arrumo na nomenclatura social e na mesma palavra que faz de réu em desclassificado. Foi neste momento que dei a Fernando Pessoa um pequeno papel muito dobrado e que ainda o dobrei mais diante dele. Desdobrou-o com o mesmo cuidado com que o dobrei, e leu: Quer o queiramos quer não, nós (o artista) estamos muito longe de pertencer à comunidade". Assinado: Cézanne."... Texto retirado do livro de Almada Negreiros "Orpheu", edição Ática

Almada Negreiros era um verdadeiro "homem dos sete ofícios" no mundo das artes. Ele não se contentava em ser apenas um pintor ou um escritor. Ao longo da sua vida, experimentou e destacou-se em muitas áreas diferentes. Foi pintor, escritor, poeta, dramaturgo e até mesmo bailarino! Esta versatilidade fez dele uma figura única na cultura portuguesa. Como escritor e poeta, Almada causou sensação com obras provocadoras. O seu "Manifesto Anti-Dantas", publicado em 1915, criticava de forma humorística e irreverente um famoso escritor da época, Júlio Dantas. Este manifesto mostrava o lado rebelde de Almada, que não tinha medo de desafiar as ideias estabelecidas. Na pintura, Almada criou obras que ainda hoje podemos admirar em vários locais de Lisboa. Se fores à Gare Marítima de Alcântara, por exemplo, podes ver os seus famosos murais que retratam cenas da vida portuguesa. O seu estilo era moderno e muitas vezes usava formas geométricas e cores vivas. Almada também deixou a sua marca no teatro. Não só escreveu peças, como também criou cenários e figurinos. Ele acreditava que o teatro era uma forma de arte completa, onde podia juntar todas as suas paixões artísticas. Uma das coisas mais interessantes sobre Almada era a sua ligação ao movimento modernista em Portugal. Ele fazia parte de um grupo de artistas que queria trazer novas ideias e formas de expressão para a arte portuguesa. Estes artistas queriam romper com as tradições antigas e criar algo novo e ousado. Hoje em dia, Almada Negreiros é lembrado como um dos grandes nomes da arte portuguesa do século XX. A sua obra continua a ser estudada e admirada, não só pela sua qualidade, mas também pela forma como representa um período de grandes mudanças na cultura portuguesa. Se tiveres oportunidade, vale a pena visitar o Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa, onde podes ver algumas das obras de Almada. É uma excelente forma de conhecer melhor este artista que conseguiu ser tantas coisas ao mesmo tempo: pintor, escritor, poeta e muito mais.

"Almada Negreiros: Entre Pincéis e Palavras, um Legado Artístico"