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25 de fevereiro de 1855
"Cesário Verde: O Realismo Poético na Lisboa do Século XIX"
José Joaquim Cesário Verde

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José Joaquim Cesário Verde - Biografia

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25 de fevereiro de 1855

"Cesário Verde: O Realismo Poético na Lisboa do Século XIX"

José Joaquim Cesário Verde

José Joaquim Cesário Verde, nascido a 25 de fevereiro de 1855 em Lisboa, viria a tornar-se numa das vozes mais singulares e influentes da poesia portuguesa do século XIX. Filho de José Anastácio Verde e Maria da Piedade David dos Santos, Cesário cresceu no seio de uma família abastada, cuja origem remontava a comerciantes genoveses de apelido Verdi, estabelecidos em Lisboa desde os primórdios do século XVIII. A família Verde era proprietária de uma loja de ferragens na Rua dos Fanqueiros, em pleno coração da capital, e de uma quinta em Linda-a-Pastora. Esta dualidade entre o urbano e o rural viria a marcar profundamente a obra do poeta. Cesário Verde era um de cinco irmãos, tendo a sua infância sido ensombrada pela perda precoce de duas irmãs: Adelaide Eufémia, falecida em 1859, e Maria Júlia, em 1872, ambas vítimas de doenças da época. Apesar de ter iniciado estudos em Letras, Cesário não concluiu o curso superior. A sua verdadeira formação deu-se nas ruas de Lisboa e nos campos da quinta familiar, onde desenvolveu um olhar aguçado para o quotidiano e uma sensibilidade única para captar a essência da vida urbana e rural. A tuberculose, flagelo do século XIX, não poupou a sua família. Além de Maria Júlia, também o irmão Joaquim Tomás sucumbiu à doença em 1882. Esta realidade trágica inspirou um dos poemas mais marcantes de Cesário, "Nós", publicado em 1884, onde o poeta explora temas de perda e mortalidade. Cesário Verde faleceu prematuramente a 19 de julho de 1886, aos 31 anos, também vítima de tuberculose. Apesar da sua curta vida, deixou um legado literário que revolucionou a poesia portuguesa. O seu único livro, "O Livro de Cesário Verde", foi publicado postumamente em 1887, organizado pelo seu amigo Silva Pinto. A obra de Cesário, inicialmente incompreendida pelos seus contemporâneos, viria a ser reconhecida como precursora do modernismo português. A sua poesia, caracterizada por uma observação minuciosa do quotidiano e por uma linguagem inovadora, influenciou gerações subsequentes de poetas, incluindo Fernando Pessoa, que o considerava um mestre.

Cesário Verde: Do Berço Lisboeta à Imortalidade Literária

"Nas nossas ruas, ao anoitecer, /Há tal soturnidade, há tal melancolia, /Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia /Despertam-me um desejo absurdo de sofrer." excerto do poema "O Sentimento dum Ocidental" (1880)

Excerto do poema "Num Bairro Moderno" Dez horas da manhã; os transparentes Matizam uma casa apalaçada; Pelos jardins estancam-se as nascentes, E fere a vista, com brancuras quentes, A larga rua macadamizada. Rez-de-chaussée repousam sossegados, Abriram-se, nalguns, as persianas, E dum ou doutro, em quartos estucados, Ou entre a rama dos papéis pintados, Reluzem, num almoço, as porcelanas. Como é saudável ter o seu conchego, E a sua vida fácil! Eu descia, Sem muita pressa, para o meu emprego, Aonde agora quase sempre chego Com as tonturas duma apoplexia. E rota, pequenina, azafamada, Notei de costas uma rapariga, Que no xadrez marmóreo duma escada, Como um retalho da horta aglomerada, Pousara, ajoelhando, a sua giga. "Num Bairro Moderno", publicado em 1878

Um dos temas fulcrais na poesia de Cesário Verde é o contraste entre o urbano e o rural. A cidade é frequentemente retratada como um espaço opressivo, doentio e mórbido. Nela, o poeta vê a ausência de amor e de vida, símbolos da injustiça e da industrialização galopante. Por outro lado, o campo surge como um local de vitalidade, alegria e trabalho produtivo. É no espaço rural que Cesário Verde encontra a fertilidade, a saúde e a liberdade que tanto aprecia. Na sua obra, a mulher é representada de duas formas distintas. Por um lado, temos a mulher fatal: altiva, aristocrática e intimamente ligada ao ambiente citadino. Por outro, surge a mulher angélica: natural, pura e associada às virtudes do campo. Esta dualidade reflete não só as complexidades das relações humanas, mas também os contrastes sociais da época. O poeta traz para os seus versos o real quotidiano do homem citadino, com uma observação minuciosa de cenas urbanas e descrições vívidas de trabalhadores e das suas condições. O estilo de Cesário Verde combina elementos do Realismo, Naturalismo e Parnasianismo, apresentando até traços precursores do Modernismo. Esta fusão única de estilos faz dele um poeta de transição, cuja influência se estendeu muito além do seu tempo. A sua abordagem inovadora aos temas do quotidiano, a sua sensibilidade social e a sua mestria na descrição sensorial abriram novos caminhos para a poesia portuguesa do século XX.

"Eu hoje estou cruel, frenético, exigente;/ Nem posso tolerar os livros mais bizarros./ Incrível! Já fumei três maços de cigarros/ Consecutivamente." do poema "Contrariedades" de publicado em 1887

Num Tripúdio De Corte Rigoroso Num tripúdio de corte rigoroso, Eu sei quem descobriu Vénus linfática, -Beleza escultural, grega simpática, Um tipo peregrino e luminoso.- Foi lâmpada no mundo cavernoso, Inspiradora foi de carta enfática, Onde a alma candente mas sem táctica, Se espraiava num canto lacrimoso. Mas ela em papel fino e perfumado, respondeu certas coisas deslumbrantes, Que o puseram, ó céus, desapontado! Eram falsas as frases palpitantes Pois que tudo, ó meu Deus, fora roubado Ao bom do Secretário dos Amantes!
“A Forca” Já que adorar-me dizes que não podes, 
 Imperatriz serena, alva e discreta, Ai, como no teu colo há muita seta E o teu peito é peito dum Herodes, Eu antes que encaneçam meus bigodes 
 Ao meu mister de ama-te hei-de pôr meta, 
O coração mo diz – feroz profeta, Que anões faz dos colossos lá de Rodes. 
E a vida depurada no cadinho 
 Das eróticas dores do alvoroço, 
Acabará na forca, num azinho, 
Mas o que há-de apertar o meu pescoço 
 Em lugar de ser corda de bom linho 
 Será do teu cabelo um menos grosso.

Em 12 de novembro de 1873, o Diário de Notícias publicou as primeiras obras conhecidas de Cesário Verde. Eduardo Coelho apresentou três poemas de Cesário Verde sob o título "Poetas Operários": "A Forca", "Num tripúdio de corte rigoroso" e "Ó áridas Messalinas" .

O Diário Ilustrado, um jornal monárquico dirigido por Pedro Correia, foi responsável por uma das críticas mais contundentes à poesia de Cesário Verde. Após a publicação do poema "Em Petiz" em 1878, o jornal publicou uma paródia intitulada "Pérolas Realistas", questionando a verosimilhança e o valor moral do poema. A crítica foi intensa, descrevendo os versos como "asquerosos" e "repugnantes". Esta reação reflete a incompreensão inicial da obra inovadora de Cesário Verde, que desafiava os cânones poéticos da época. A crítica do Diário Ilustrado contribuiu para o isolamento inicial do poeta no meio literário português.

Fialho de Almeida inicialmente expressou desconfiança em relação à originalidade de Cesário Verde, suspeitando de uma "mistificação ou quer que fosse antagónico da boa fé do artista". No entanto, após a morte de Cesário Verde, a opinião de Fialho de Almeida mudou significativamente.

Teófilo Braga censurou duramente o poema, focando-se principalmente no comportamento do eu lírico em relação à figura feminina retratada. Segundo ele, "um poeta amante e moderno devia ser trabalhador, forte e digno e não devia rebaixar-se assim"

O Sr. Cesário Verde, Que usa barrete encarnado, Escreve em estilo negro, Num papel amarelado. Que vê tudo cor-de-rosa Nos horizontes futuros, E que os frutos da república Ontem inda esverdeados Estão já hoje maduros."

"Entre a Crítica e a Inovação: O Caso Cesário Verde"

22 de março de 1874, publicou o poema "Esplêndida" no Diário de Notícias. Esta publicação gerou críticas negativas, com acusações de plágio a Baudelaire. No mesmo ano, Ramalho Ortigão escreveu em As Farpas a famosa crítica de que o poeta deveria "ser menos verde e mais Cesário". Esta frase tornou-se emblemática da incompreensão inicial da obra de Cesário Verde. A "Gazetilha" publicada no Diário Ilustrado em 18 de maio de 1874 é, de facto, uma crítica satírica a Cesário Verde. O poema ridiculariza o estilo e as supostas visões políticas do poeta.

"Contrariedades", publicado em 1876, é um dos poemas mais emblemáticos de Cesário Verde. Nesta obra, o poeta português oferece um retrato vívido da sua frustração pessoal e uma crítica mordaz à sociedade da época.
'Eu vim- não sabes tu? - para gozar em Maio, 'No campo, a quieteação banhada de prazer! 'Não vês, ó descarado, as vestes com que saio, 'E os júbilos que Abril acaba de trazer? 'Não vês, como a campina é toda abalsamada 'E como nos alegra em cada nova flor? 'Então porque é que tens na fronte consternada 'Um não-sei-quê tocante e de enternecedor? E eu só lhe respondia: - 'Escuta-me. Conforme 'Tu vibras os cristais da boca musical, 'Vai-nos minando o tempo, o tempo - o cancro enrome 'Que te há-de corromper o corpo de vestal. 'E eu calmamente sei, na dor que me amortalha, 'Que a tua cabecinha ornada à Rabagas, 'A pouco e pouco há-de ir tornando-se grisalha 'E em breve ao quente sol e ao gás alvejará! 'E eu que daria um rei por cada teu suspiro, 'Eu que amo a mocidade e as modas fúteis vãs, 'Eu morro de pesar, talvez. porque prefiro 'O teu cabelo escuro às veneráveis cãs!'
'Ironias Do Desgosto 'Onde é que te nasceu' - dizia-me ela às vezes - 'O horror calado e triste às coisas sepulcrais? 'Porque é que não possuis a verve dos Franceses 'E aspiras em silêncio os frascos dos meus sais? 'Porque é que tens no olhar, moroso e persistente, 'As sombras dum jazigo e as fundas abstracções, 'E abrigas tanto fel no peito, que não sente 'O abalo feminil das minhas expansões? 'Há quem te julgue um velho. O teu sorriso é falso; 'Mas quando tentas rir parece então, meu bem, 'Que estão edificando um negro cadafalso 'E ou vai alguém morrer ou vão matar alguém!

Entre 1874 e 1875, Cesário Verde publicou diversas poesias em revistas e jornais de pouca circulação, incluindo "Deslumbramentos", "Humorismos de Amor", "Ironias do Desgosto" e "Cadências Tristes" (esta última sob o pseudónimo de Margarida). Esta estratégia permitiu a Cesário Verde prosseguir a sua busca estética sem provocar escândalos nem arrelias familiares e pessoais. Ao optar por publicar em veículos de menor alcance, o poeta procurava uma forma de contenção e aperfeiçoamento do seu estilo. À medida que as palavras se lhe iluminavam de sentido e se lhe cristalizavam os versos, Cesário Verde desejava e procurava o silêncio e até mesmo o anonimato.

Noitada", publicado em 1879 sob o pseudónimo de Cláudio. Este poema, que Silva Pinto posteriormente designou por "Noite Fechada" e incluiu no ciclo "Naturais", retrata uma ruptura sentimental na Lisboa nocturna.

De tarde Naquele «pic-nic» de burguesas, Houve uma coisa simplesmente bela, E que, sem ter história nem grandezas, Em todo o caso dava uma aguarela. Foi quando tu, descendo do burrico, Foste colher, sem imposturas tolas, A um granzoal azul de grão-de-bico Um ramalhete rubro de papoulas. Pouco depois, em cima duns penhascos, Nós acampámos, inda o sol se via; E houve talhadas de melão, damascos, E pão de ló molhado em malvasia. Mas, todo púrpuro, a sair da renda Dos teus dois seios como duas rolas, Era o supremo encanto da merenda O ramalhete rubro das papoulas.

"Em Petiz" é um poema de Cesário Verde, publicado em 1878. O poema retrata a infância do poeta e suas memórias de Lisboa, combinando elementos realistas e impressionistas. Nele, Cesário Verde descreve cenas do quotidiano urbano e rural, contrastando a inocência da infância com a realidade social da época. O poema "Em Petiz" de Cesário Verde é composto por três partes: "De Tarde", "Nós" e "Setentrional". Cada uma destas partes explora diferentes temas e atmosferas, contribuindo para a riqueza e complexidade do poema como um todo.

Cesário Verde escreveu "Num Bairro Moderno" em 1877, mas só o publicou em 1878. O ponto central do poema é a "visão de artista" do sujeito poético, que transforma imaginativamente os vegetais e frutas do cesto da vendedeira num corpo humano. Esta transfiguração poética do real é descrita na terceira parte do poema, onde o poeta questiona: "Se eu transformasse os simples vegetais, / À luz do Sol, o intenso colorista, / Num ser humano que se mova e exista / Cheio de belas proporções carnais?!" .

O poema "Nós" de Cesário Verde foi, de facto, publicado em 1884 na revista "A Ilustração" em Paris. Neste poema, Cesário Verde evoca a morte de sua irmã (ocorrida em 1872) e de seu irmão Joaquim Tomás (falecido em 1882). "Nós" foi uma das últimas grandes obras de Cesário Verde, publicada quando o poeta tinha 29 anos.

"Cristalizações", poema emblemático de Cesário Verde escrito em 1878 e publicado no ano seguinte, é uma obra-prima que retrata com mestria a Lisboa do século XIX. O próprio poeta descreveu-o como "versos agudos, gelados", comparando-o a um "poliedro de cristal", uma metáfora que se reflete tanto no título como na estrutura do poema. "O Sentimento de um Ocidental" foi publicado pela primeira vez em uma edição especial do Jornal de Viagens , em 10 de junho de 1880, durante as comemorações oficiais do tricentenário da morte do poeta nacional Luís de Camões e posteriormente incluído na compilação póstuma da poesia de Cesário Verde ( O Livro de Cesário Verde , 1887). "O Sentimento de um Ocidental" de Cesário Verde está dividido em quatro partes: Ave-Marias, Noite Fechada, Ao Gás e Horas Mortas. Cada parte corresponde a um momento diferente do dia, desde o anoitecer até à noite profunda, acompanhando a deambulação do poeta pela cidade de Lisboa. O poema retrata a cidade e seus habitantes com um olhar crítico e observador, combinando elementos do Realismo, Naturalismo e influências parnasianas. Cesário Verde utiliza uma linguagem precisa e descritiva, criando imagens vívidas da vida urbana e das desigualdades sociais. Ao longo do texto, o poeta apresenta uma visão decadente e melancólica de Lisboa, focando-se na realidade urbana e nas dificuldades enfrentadas pelas pessoas comuns. Esta abordagem única distingue a obra de muitas outras produzidas na época para celebrar o tricentenário da morte de Camões.

Vaidosa Dizem que tu és pura como um lírio E mais fria e insensível que o granito, E que eu que passo aí por favorito Vivo louco de dor e de martírio. Contam que tens um modo altivo e sério, Que és muito desdenhosa e presumida, E que o maior prazer da tua vida, Seria acompanhar-me ao cemitério. Chamam-te a bela imperatriz das fátuas, a déspota, a fatal, o figurino, E afirmam que és um molde alabastrino, E não tens coração como as estátuas. E narram o cruel martirológio Dos que são teus, ó corpo sem defeito, E julgam que é monótono o teu peito Como o bater cadente dum relógio. Porém eu sei que tu, que como um ópio Me matas, me desvairas e adormeces És tão loira e doirada como as messes E possuis muito amor... muito "amor próprio".

"Nas nossas ruas, ao anoitecer,/Há tal soturnidade, há tal melancolia,/Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia/ Despertam-me um desejo absurdo de sofrer" é o primeiro verso do poema "O Sentimento dum Ocidental" , "Avé- Marias"

De tarde Naquele «pic-nic» de burguesas, Houve uma coisa simplesmente bela, E que, sem ter história nem grandezas, Em todo o caso dava uma aguarela. Foi quando tu, descendo do burrico, Foste colher, sem imposturas tolas, A um granzoal azul de grão-de-bico Um ramalhete rubro de papoulas. Pouco depois, em cima duns penhascos, Nós acampámos, inda o sol se via; E houve talhadas de melão, damascos, E pão de ló molhado em malvasia. Mas, todo púrpuro, a sair da renda Dos teus dois seios como duas rolas, Era o supremo encanto da merenda O ramalhete rubro das papoulas.

Poemas publicados postumamente em 1887 na obra " O Livro de Cesário Verde": "De Tarde", o poema retrata um piquenique burguês no campo, "De Verão" retrata uma excursão ao campo, "Provincianas" é um poema inacabado de Cesário Verde e outos.

"O Livro de Cesário Verde" é a obra que reúne as poesias de Cesário Verde, conhecido como o "Poeta Deambulatório". Esta designação deve-se ao seu estilo único de observação e escrita, onde o poeta passeia pelas ruas de Lisboa, captando e descrevendo em versos as cenas do quotidiano urbano e rural. Publicado postumamente em 1887, "O Livro de Cesário Verde" representa um marco incontornável na poesia portuguesa. Esta compilação póstuma, organizada por Silva Pinto, reúne poesias escritas entre 1873 e 1886, oferecendo um vislumbre único do génio poético de Cesário Verde. A edição princeps contém 22 composições, divididas em duas secções: "Crise romanesca" e "Naturais". Embora não se saiba se esta divisão foi determinada pelo autor ou pelo compilador, a obra apresenta uma amostra representativa das várias tendências que convergem na poética de Cesário. O seu estilo inovador e a sensibilidade única anteciparam tendências que se tornariam proeminentes na poesia portuguesa do século XX. Cesário Verde foi incompreendido pelos seus contemporâneos, sendo a sua obra inicialmente mal recebida. A publicação de "O Livro de Cesário Verde" em 1887, um ano após a sua morte prematura aos 31 anos, marcou o início do reconhecimento tardio do seu génio poético. Fernando Pessoa, um dos maiores poetas portugueses do século XX, referiu-se a Cesário Verde como "mestre", evidenciando a sua influência duradoura na literatura portuguesa. A sua obra continua a ser estudada e admirada, consolidando o seu lugar como um dos grandes nomes da poesia em língua portuguesa.

"O Livro de Cesário Verde": Uma Revolução Poética no Fim do Século XIX

"A Voz de Viegas, a Alma de Verde: Uma Simbiose Poética"

Este excerto corresponde à primeira estrofe do poema e ilustra o contraste entre o sujeito poético e a figura feminina, bem como o desejo de proteção que ela inspira.

"Eu, que sou feio, sólido, leal, A ti, que és bela, frágil, assustada, Quero estimar-te sempre, recatada Numa existência honesta, de cristal"

O poema situa-se num ambiente urbano descrito como uma "Babel tão velha e corruptora". Este cenário degradante contrasta fortemente com a pureza e inocência da "Débil", acentuando a sua singularidade e vulnerabilidade. "A Débil" representa uma importante faceta da exploração da figura feminina na poesia de Cesário Verde. Ao lado das mulheres fatais e das figuras populares como a "engomadeira" tísica, a "Débil" oferece uma visão alternativa da feminilidade no contexto urbano do final do século XIX.

Ao contrário da mulher fatal, altiva e aristocrática frequentemente associada à cidade, a "Débil" apresenta-se como uma figura que poderia ser associada ao meio rural. Esta caracterização estabelece um contraste marcante com as mulheres citadinas, geralmente retratadas como frívolas e calculistas na obra de Cesário Verde. "A Débil", poema escrito por Cesário Verde em 1875, destaca-se na obra do poeta português como uma representação única da figura feminina, contrastando com outras personagens femininas típicas da sua poesia. A protagonista deste poema sobressai no cenário urbano não pela sua excentricidade, mas pela sua pureza e simplicidade. Cesário Verde caracteriza-a como "bela, frágil, assustada" e "ténue, doce, recolhida", enfatizando a sua vulnerabilidade num ambiente citadino hostil. A fragilidade da "Débil" desperta no sujeito poético um desejo de proteção, em vez da admiração distante ou do desprezo frequentemente associados às figuras femininas urbanas. O poeta, que se descreve como "feio, sólido, leal", sente-se impelido a oferecer-lhe o braço e a estimá-la "numa existência honesta, de cristal".

"A Débil" de Cesário Verde: Contrastes entre Pureza e Urbanidade na Lisboa Oitocentista

"Nas nossas ruas, ao anoitecer, Há tal soturnidade, há tal melancolia, Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia Despertam-me um desejo absurdo de sofrer." excerto do poema "O Sentimento dum Ocidental"

Cesário Verde em "Nação Valente"

"Breve": Uma Viagem Animada pela Vida de Cesário Verde

Cesário Verde: Entre Animação e Documentário

O programa "Nação Valente" destaca Cesário Verde em um curto episódio animado de 1 minuto de duração (Infantil/Juvenil)

O filme de animação "Breve" é uma homenagem poética à vida e obra do poeta português Cesário Verde. Lançado em 2022, este curta-metragem em animação 2D digital foi produzido no âmbito de uma exposição organizada pela Câmara Municipal de Oeiras. Com uma duração de aproximadamente 3 minutos, o filme conta com o guião de André Oliveira e a direção artística de Bruno Caetano, do COLA - Colectivo Audiovisual. A narrativa explora a tumultuada vida e obra de Cesário Verde, nascido em 1855 em Lisboa. "Breve" retrata a visão inovadora do poeta, a sua rutura com a poesia contemporânea e o seu foco em temas quotidianos e prosaicos. O filme destaca ainda a rejeição inicial pela crítica e a morte prematura de Cesário Verde por tuberculose. Esta produção sublinha o papel de Cesário Verde como precursor do modernismo português, mostrando como ele tratou temas não convencionais na poesia e retratou Lisboa como personagem principal em muitos dos seus poemas. Quase 140 anos após a sua morte, "Breve" contribui para manter vivo o legado de Cesário Verde, apresentando-o de forma acessível e inovadora a um público contemporâneo.

"Lágrimas" Ela chorava muito e muito, aos cantos, Frenética, com gestos desabridos; Nos cabelos, em ânsias desprendidos Brilhavam como pérolas os prantos. Ele, o amante, sereno como os santos, Deitado no sofá, pés aquecidos, Ao sentir-lhe os soluços consumidos, Sorria-se cantando alegres cantos. E dizia-lhe então, de olhos enxutos: – “Tu pareces nascida da rajada, “Tens despeitos raivosos, resolutos: “Chora, chora, mulher arrenegada; “Lagrimeja por esses aquedutos... –“Quero um banho tomar de água salgada.” "O Livro de Cesário Verde"

"Julgo avistar, na treva, as folhas das navalhas E os gritos de socorro ouvir estrangulados" Cesário Verde

"A mim o que rodeia é o que me preocupa!"Cesário Verde

"Ao Entardecer" Ao entardecer, debruçado pela janela, E sabendo de soslaio que há campos em frente, Leio até me arderem os olhos O livro de Cesário Verde. Que pena que tenho dele! Ele era um camponês Que andava preso em liberdade pela cidade. Mas o modo como olhava para as casas, E o modo como reparava nas ruas, E a maneira como dava pelas cousas, É o de quem olha para árvores, E de quem desce os olhos pela estrada por onde vai andando E anda a reparar nas flores que há pelos campos ... Por isso ele tinha aquela grande tristeza Que ele nunca disse bem que tinha, Mas andava na cidade como quem anda no campo E triste como esmagar flores em livros E pôr plantas em jarros... "O Guardador de Rebanhos" Alberto Caeiro

"E eu passo, tão calado como a Morte, Nesta velha cidade tão sombria Chorando aflitamente a minha sorte"Cesário Verde

"'Cesário Verde" Quis dizer o mais claro e o mais corrente Em fala chã e em lúcida esquadria Ser e dizer na justa luz do dia Falar claro falar limpo falar rente Porém nas roucas ruas da cidade A nítida pupila se alucina Cães se miram no vidro da retina E ele vai naufragando como um barco Amou vinhas e searas e campinas Horizontes honestos e lavados Mas bebeu a cidade a longos tragos Deambulou por praças por esquinas Fugiu da peste e da melancolia Livre se quis e não servo dos fados Diurno se quis — porém a luzidia Noite assombrou os olhos dilatados Reflectindo o tremor da luz nas margens Entre ruelas vê-se ao fundo o rio Ele o viu com seus olhos de navio Atentos à surpresa das imagens in Ilhas (1989) Sophia de Mello Breyner Andresen

"Despertam-me um desejo absurdo de sofrer"Cesário Verde

'Em Lisboa com Cesário Verde' 'Nesta cidade, onde agora me sinto mais estrangeiro do que os gatos persas; nesta Lisboa, onde mansos e lisos os dias passam a ver as gaivotas, e a cor dos jacarandás floridos se mistura à do Tejo,em flor também, só o Cesário vem ao meu encontro, me faz companhia, quando de rua em rua procuro um rumor distante de passos ou aves, nem eu sei já bem. Só ele ajusta a luz feliz dos seus versos aos olhos ardidos que são os meus agora; só ele traz a sombra dum verão muito antigo, com corvetas lentas ainda no rio, e a música, o sumo do sol a escorrer da boca, ó minha infância, meu jardim fechado, ó meu poeta, talvez fosse contigo que aprendi a pesar sílaba a sílaba cada palavra, essas que tu levaste quase sempre, como poucos mais, à suprema perfeição da língua.' in 'Prosa e Poesia, II volume' (1986) Eugénio de Andrade

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