Want to create interactive content? It’s easy in Genially!

Get started free

Marcella, Ernst Kirchner

Tatiana Soares

Created on October 26, 2024

Start designing with a free template

Discover more than 1500 professional designs like these:

Akihabara Microsite

Essential Microsite

Essential CV

Practical Microsite

Akihabara Resume

Tourism Guide Microsite

Online Product Catalog

Transcript

A arte expressionista de

Ernst Ludwig Kirchner

Trabalho realizado por Laura Barbosa e Tatiana Soares, 12ºC

expressionismo

Ernst Ludwig Kirchner

A PINTURA : Marcella

Bibliografia

eXPRESSIONISMO

Rua, Kirchner (1908/1909)

A corrente artística nasce quase ao mesmo tempo em algumas cidades alemãs, como Dresden, e até noutras cidades do norte da Europa devido á celebração da cor usada pelos fauves para novas profundidades emocionais e psicológicas. O Expressionismo trata-se, portanto, de uma corrente artística em que o artista procura descrever os sentimentos humanos através da utilização de cores irreais, do uso de traços vigorosos de vivo cromatismo, da distorção e exageração da figura, do primitivismo e da fantasia dos seus elementos (sendo o psíquico o mais importante de todas as formas e regras de composição). Por vezes, as figuras apresentam um aspeto ameaçador, com um caráter quase caricaturesco, o que significa a destruição deliberada dos arquétipos tradicionais da beleza. Recorrendo a todas essas características, o Expressionismo dá forma ao amor, ao ciúme, ao medo, etc. Para além da pintura, o Expressionismo também se estendeu à literatura, à música, à dança, ao teatro, ao cinema, à arquitetura, e às artes plásticas, que se desenvolveram através das tendências simbolistas e expressivas da arte do final do século XIX.

Dresden

"A arte traz-nos uma uma superioridade interior, pois nela há espaço para todas as sensações que o ser humano é capaz de sentir."

Ernst Ludwig Kirchner

O termo Expressionismo começou por ser utilizado mais amplamente a vários movimentos da vanguarda, como por exemplo, entre 1910-1912, “Expressionismo”, que foi usado por Roger Fry nas Exposições de Londres para se referir às obras Pós-Impressionistas. Só mais tarde é que a definição de Expressionismo foi usada para se referir a artistas e arquitetos aos quais são aplicados nos dias atuais. Poderá dizer-se que o Expressionismo permaneceu um movimento marcadamente alemão, embora também tenha tido influências com pintores de Paris. O expressionismo surgiu, portanto, para se abalar o conservadorismo, um grito de revolta individual contra uma sociedade excessivamente moralista e hierarquizada, de forma a tentar normalizar a expressão das inquietações da alma humana, alvos de preconceitos por parte das classes dominantes.

Expressionismo

xx/xx/xxxx-xxxx

Dois homens à mesa, Erich Heckel (1912)

dIE Brücke

Existem duas datas muito importantes para o movimento: o ano da origem do grupo Die Brücke, em 1905, e o fim dos distúrbios revolucionários do pós-guerra, aproximadamente em 1920. Estas datas são vistas como o início e o fim da corrente expressionista na Alemanha. Apesar disso, as datas são discutíveis, e existem diversas opiniões sobre a veracidade da afirmação. Foi em 1905 (data em que se marca o início do expressionismo clássico), que na cidade alemã de Dresden, cinco jovens estudantes de arquitetura se juntaram para fundar um grupo artístico “Die Brücke”, inspirados pela frase de Nietzsche em “Assim Falou Zaratustra”: “O que há de grande no homem, é que ele é uma ponte e não um fim: o que se pode amar no homem, é que ele é uma passagem e um declínio [...].” Este grupo começou por contar com quatro pessoas: Ernst Ludwig Kirchner (o líder), Fritz Bleyl, Erich Heckel e Karl Schmidt-Rottluff, anterior à adesão de outros membros, como Emil Nolde e Otto Mueller.

Ernst Ludwig Kirchner em Chemnitz com os trabalhos que tinha feito em Munique, 1904
O poço de barro, Kirchner (1906)

Os artistas deste grupo foram fortemente influenciados por diversas fontes, como a arte “tribal” da África e da Oceânia, como também das gravuras de Matthias Grunewald, e da arte expressiva de três grandes artistas: Paul Gauguin, Vincent Van Gogh e Edvard Munch. O grupo defendia uma arte impulsiva e fortemente individual, desprezando a técnica, já que para eles o verdadeiro fim da arte não poderia ser ensinado. Este grupo artístico, seguindo alguns dos princípios do fauvismo, utilizava grandes manchas de cores intensas aplicadas livremente na tela. Porém, os seus temas diferenciavam-se do Fauvismo, retratando temáticas pesadas que priveligiavam sentimentos como a angústia, o desespero, o sexo, a miséria social, e até a morte. Justamente correspondendo às angústias e inquietações do pintor, que, como mencionamos mais cedo, servia para castigar o conservadorismo da época, abalando a moral burguesa através do choque que provocavam. Para além disso, ao contrário dos fauves, que apesar da sua rebeldia mantinham um sentido de harmonia e estilo nas suas obras, Die Brücke abandonou esse travão, com figuras distorcidas, cores estridentes, sensações de violência, etc. Apesar das semelhanças, o grupo dizia não ter qualquer conexão com artistas ou grupos fauvistas.

Apesar de não terem formação artística, este grupo de jovens estudantes pretendia revolucionar a arte e afrontar o naturalismo da pintura do final do século XIX para que pudessem pintar de maneira a expressar as emoções do pintor. Para o fazer, o grupo Die Brücke estudaram os acontecimentos recentes da arte moderna internacional e desenvolveram as suas habilidades no desenho, na pintura e nas gravuras. O programa do grupo de 1906 apela a que todos os artistas progressivos, alemães ou estrangeiros, se juntem para realizar um existencialismo revolucionário. Assim, os fundadores de Die Brücke acabam por ganhar novos membros oriundos de outros países, como Cuno Amiet, suíço, ou Kees van Dongen, um fauvista holandês que foi membro de honra durante mais de um ano. Edvard Munch, um artista muito apreciado pelo grupo, concorda em tornar-se um membro passivo, dos amigos e dos apoios da associação de Die Brücke. Durante os anos ativos do grupo, Kirchner e os seus companheiros pintam modelos em sessões comuns no atelier, passam um verão nos lagos de Moritzburg, e, apesar de se quererem livrar das tradições, pesquisam fascinados sobre os grandes nomes e mestres da história da arte, entregando-se sobretudo às impressões pós-impressionistas e fauves e ao seu fascínio pelas madeiras gravadas medievais.

Por esta altura, podemos caracterizar o Expressionismo da seguinte forma:

  • reduzindo o seu vocabulário estético de forma proposital, os artistas expressionistas usavam formas primitivas e simples;
  • os pintores distorciam e acentuavam o desenho de forma caricatural para obterem uma maior expressividade;
  • devido às formas distorcidas e cores intensas, era originada uma forte tensão emocional que se faz ver nos quadros (fazendo com que o espetador sentisse uma sensação de desconforto, repulsa e até mesmo angústia);
  • era feita uma pesquisa extensa no domínio psicológico, já que predominavam os valores emocionais sobre os intelectuais;
  • eram usadas cores resplandecentes, vibrantes, fundidas ou separadas, e pasta grossa, martelada e áspera;
  • ênfase no sentimento objetivo e não na observação objetiva;
  • a técnica usada era violenta: o pincel ou espátula vai e vem, fazendo e refazendo, empastando ou provocando explosões.

Expressionismo

xx/xx/xxxx-xxxx

A deposição no túmulo, Emil Nolde (1915)

Der Blaue Reiter

Por outro lado, em 1911 foi fundado o grupo Der Blaue Reiter (O Cavaleiro Azul), originado em Munique por Vassily Kandinsky e Franz Marc, contando com outros membros como Jawlensky, Malevitch, Kubin e Oswaldo Goeldi. Este grupo tinha objetivos semelhantes aos de Die Brücke, porém, foram grupos com bastantes diferenças, como o ênfase dado pelo grupo liderado por Kandinsky e Franz Marc na busca da espiritualidade harmoniosa. Este grupo tinha também uma ideia diferente do Expressionismo, sendo que se apoiavam num desenho menos pesado e evidenciaram um nível de intelectualização maior, ao contrário do grupo Die Brücke. O grupo Der Blaue Reiter integrava entusiasticamente a teoria da cor do Orfismo de Delaunay nas suas obras. Apesar de se tratar da mesma corrente artística, como explicamos, existiam diferenças entre estes dois grupos, entre as quais podemos destacar o facto de só em Die Brücke é que podemos falar de uma comunidade de artistas que trabalhavam e até chegaram a viver juntos, por exemplo. Outro exemplo inclui o nome do grupo fundado por Franz Marc e Vassily Kandinsky. O nome Der Blaue Reiter nunca fora previsto como designação escolhida pelos próprios artistas para um grupo, era apenas um título, algo pragmático, o que indica a vertente mais intelectual do Expressionismo com os seus manifestos e declarações escritas por artistas do sul da Alemanha. Por outro lado, o grupo Die Brücke, as suas ações e objetivos de cada membro era menos refletido, já que cada um tentava exprimir de forma pictórica e o mais espontaneamente possível as suas experiências sensuais e as suas impressões visuais. Esta variante da corrente Expressionista teve uma duração muito curta, porém, foi considerada como sendo a mais lírica e foi uma influência grande na evolução da arte.

Expressionismo

xx/xx/xxxx-xxxx

Grandes cavalos azuis, Franz Marc (1911)

a NOVA OBJETIVIDADE

A rua, Kirchner (1913)

Com o início da primeira guerra mundial, vários artistas expressionistas como Franz Marc, Max Beckmann, Heckel, Otto Dix, Kokoschka, Macke e Kirchner, voluntariam-se ao alistar-se para o exército, esperando encontrar novas e inutilizadas impressões para a sua pintura. Porém, outros artistas expressionistas não partilharam o mesmo entusiasmo pela guerra, como George Grosz, ou Ludwig Meidner. Entretanto, até os que se encontravam entusiasmados no início, começam a mudar a sua perspetiva, como Otto Dix, quando a sua pintura se começa a transformar numa acusação ao militarismo e à burguesia. Kirchner, Beckmann e Kokoschka não aguentaram as atrocidades da guerra, adoecendo e voltando para os seus países de origem. Infelizmente, outros artistas jovens como Franz Marc, Macke e Wilhelm Morgner, acabam por morrer em combate.

No final da Grande Guerra, e com a derrota da Alemanha, a corrente expressionista ganhou novas características mais duras e provocadoras. Otto Dix, George Grosz ou Max Beckamn são alguns dos artistas que deixaram um retrato bastante amargo da sociedade pós-guerra, marcada sobretudo pelos contrastes sociais e pela agitação política. Portanto, o legado da corrente artística expressionista continuou a ser sentida na Alemanha, com obras dos artistas mencionados e de outros, que se preocupavam sobretudo com a crítica social e a sátira do mundo externo, sem interesse em retratar o mundo interior do artista. Ainda assim, as suas formas pronunciadas e a intensidade de expressão mostravam a influência de Kirchner e dos seus colegas. A Nova Objetividade trouxe, porém, algumas mudanças. Começaram a ser usados novos materiais com recurso à técnica da colagem, e havia ainda a tendência para a geometrização das formas representadas na pintura. Esta nova corrente expressionista foi uma característica do início da década de 20 e que durou até 1933, anos da queda da República de Weimar e a posse do poder por parte do partido Nazi. Esta nova face do Expressionismo surge como reação às atrocidades da primeira guerra mundial e recebe o nome de Nova Objetividade.

oTTO DIX

max beckamn

george grosz

Ofensiva de soldados com máscara contra gás, 1924
Rua perigosa, 1918
A noite, 1919

Ernst Ludwig Kirchner

Xx

Ernst Ludwig Kirchner nasceu no dia 6 de maio de 1880 na cidade independente de Aschaffenburg do estado da Baviera. O seu pai chamava-se Ernst Kirchner e era engenheiro e químico da indústria de papel. A sua mãe, Maria Elise Kirchner era filha de pais mercantes. Quando criança, Kirchner começou a exibir sinais de uma imaginação viva e uma certa receptividade ao estímulo visual, porém, era propenso para ataques de pânico, algo que o acompanharia para o resto da sua vida.

Em 1887 a família muda-se para a Suíça, vivendo perto de Lucerna durante três anos onde o pai de Kirchner se tornou vice-presidente de uma empresa de papel. Em 1890 os Kirchner voltaram a mudar-se para a Alemanha, Chemnitz, para que o pai de Ludwig se tornasse o primeiro professor universitário em pesquisa de papel na universidade local. Foi em Chemnitz que Ludwig Kirchner fez a escola básica e secundária, tal como os seus primeiros desenhos. Sabemos através de Ludwig, que o seu pai lhe proporcionou aulas regulares de desenho na infância, e ainda um professor inglês de aguarelas contratado pelo pai, independentemente das despesas. (Como o filho, que se viria revelar um talentoso artista, Ernst também era um desenhador talentoso.) Apesar do seu dote artístico, o seu pai não aprovava uma carreira artística. Foi uma surpresa quando Ludwig revelou o seu desejo de se tornar aviador aos pais, apesar do seu dom para a arte. Este fascínio deveu-se à visita que Ludwig terá feito a um amigo de infância, Otto Lilienthal, famoso engenheiro e aviador pioneiro. Porém, como a arte, o seu pai recusou essa carreira também.

Ernst Kirchner e Marie Elise Kirchner, foto tirada por Ernst Ludwig Kirchner, 1917

Sem querer contrariar o pai, Ludwig estudou arquitetura na universidade de Dresden (Technische Hochschule) a partir de 1901, concluindo o curso em 1905, acabando como arquiteto licenciado apesar das suas preferências. Porém, entre 1903 e 1904, Ludwig interrompeu os seus estudos para passar um semestre em Munique. Lá dedicou-se a tempo inteiro à arte, estudando numa escola particular de arte dirigida por Wilhelm von Debschitz e Hermann Obrist.

Fundadores do grupo "Die Brücke"

No dia 7 de junho de 1905, Kirchner co-fundou um grupo de artistas em Dresden, cujo nome era “Die Brücke” (A ponte). O nome advém da metáfora de Nietzsche. “O que é grande no Homem é que ele é uma ponte e não uma finalidade; o que pode ser adorável no Homem é que ele é a transição e destruição…”. Os membros fundadores do grupo foram também Fritz Bleyl, Erich Heckel e Karl Schmidt de Rottluff. A partir daí o grupo continuou a trabalhar unido no estúdio adquirido por Heckel no nº60 da Berliner Strasse.

Technische Hochschule

Expressionismo

Grupo de artistas,Pintura de Ernst Ludwig Kirchner

O grupo Die Brücke foi convidado a participar em diversas exposições ao longo dos anos, sendo influenciados por diversas correntes artísticas, como o fauvismo e o pós-impressionismo. Vincent Van Gogh acabou por tornar-se uma influência muito grande no ano de 1908 para Kirchner depois do mesmo ter visitado uma das exposições de Van Gogh. Nesta época, os seus temas preferidos para desenhar eram cenas urbanas de Dresden e Berlim, pintando também prostitutas, modelos e até os seus amigos. Porém, após Kirchner escrever uma crônica sobre Die Brücke, o grupo acaba por se dissolver devido à resistência dos seus colegas, ainda em 1913. No mesmo ano, Kirchner faz a sua primeira exposição individual, e em outubro vai para o seu novo estúdio em Berlim.

xx/xx/xxxx-xxxx

No ano seguinte, o começo da primeira grande guerra obriga Kirchner, com 35 anos na altura, a voluntariar-se para o serviço militar, que se descreveu a si próprio como “Involuntário Voluntário”, esperando poder escolher o seu próprio destacamento. Kirchner acabou por escolher ser condutor num regimento de artilharia devido ao perigo menor, e foi nessa altura que as suas célebres séries de pinturas de cenas de rua atingiram o seu clímax. Porém, após o início do seu treino básico no Regimento de Artilharia 75, em Halle, as suas obras começaram a tornar-se mais melancólicas. O seu auto-retrato, intitulado como “O Bebedor”, foi feito ainda antes do seu recrutamento, e é uma imagem na qual a ansiedade existencial é retratada, com traços macilentos, tristes, e a sua cara parece muito uma das máscaras na qual os Cubistas se inspiraram, sendo que a sua pessoa se encontra de frente a um copo cheio de um líquido verde e insalubre. Trata-se do absinto, uma bebida alcóolica que nos finais do século XIX em França representava a quintessência das tendências autodestrutivas do artista.

Expressionismo

xx/xx/xxxx-xxxx

O seu estado mental continua a deteriorar-se devido à guerra e ao seu papel, o que deu origem a diversas pinturas e auto retratos feitos por Kirchner que retratam o seu estado de pânico e angústia mental provocadas pela máquina militar. Em setembro de 1915, Kirchner acabou por ser temporariamente dispensado do exército para se submeter a tratamento psiquiátrico, e em Novembro foi dispensado de vez por ter sido declarado como incapaz para o serviço militar. Em dezembro, Kirchner entra para um sanatório em Königstein, onde esteve pelo menos três vezes até 1916. Foi nessa altura que foi diagnosticado com uma depressão nervosa induzida por excessivo consumo de nicotina, álcool e Veronal, ou barbital, um medicamento usado para dormir. Em maio de 1917, Kirchner volta para Davos de vez, onde se encontrou preso a uma cama devido a paralisia nervosa nas mãos e nas pernas. Foi nesse período que Kirchner começou a fazer desenhos e xilogravuras dedicados à experiência nos Alpes. Estes desenhos evidenciaram ainda a sua hipernervosidade e as mesmas linhas febris que nos primeiros anos de guerra.

A torre vermelha em Halle, Kirchner (1915)

Após o fim da guerra, o medo que Kirchner sentia de ter de voltar a combater dissipou-se, e a sua vida finalmente começou a endireitar-se. Ainda em Davos, durante os próximos anos os seus quadros começaram progressivamente a mudar de tema. Os seus quadros retratavam paisagens ou locais. A partir de 1921, o seu estilo tornou-se mais calmo e ponderado, e sua expressividade deu lugar a um equilíbrio decorativo. Foi por aí que, como nunca antes, Kirchner entrou em competição com nomes maiores da sua geração, como Kandinsky ou Picasso.

1921

1934

Porém, em 1934, um dos projetos de Kirchner foi obrigado a parar depois das autoridades nazis o impediram de continuar a trabalhar. Uma vez mais, a doença começou a assombrar a sua vida, mentalmente como fisicamente.

1937

Em 1937, seiscentos e trinta e nove trabalhos de Kirchner que se encontravam em museus alemães foram confiscados por serem “decadentes”. Desses todos, trinta e dois foram incluídos numa exposição itinerante feita pelos Nazis, de suposta arte degenerada.

Tanto a doença, como a situação política decadente da Alemanha e o facto de ter sido expulso do panteão da arte alemã, agravou a sua depressão e o sentimento de solidão, o que culminou num final trágico. No dia 15 de junho de 1938, Kirchner destruiu diversas das suas obras, e lá pelas dez da manhã, no exterior da sua casa, Kirchner suicidou-se com um tiro no coração, sendo enterrado três dias mais tarde no cemitério de Waldfriedhof em Davos.

1938

15/06

Marcella

Expressionismo

Esta obra foi realizada por Ernst Ludwig Kirchner no ano de 1910, e foi intitulada “Marcella”. A obra foi pintada em 1910, possivelmente sendo realizada no seu primeiro estúdio em Wilmersdorf. A técnica utilizada por Kirchner foi óleo sobre a tela, sendo a dimensão do quadro 75 x 59 cm. Neste momento, a obra encontra-se exposta no Museu Nacional de Estocolmo.

Sobre o pintor

xx/xx/xxxx-xxxx

Tema DA OBRA E INSPIRAÇÃO

Para começar, falaremos da figura principal do quadro, uma menina prostituta ainda muito jovem, sentada na cama com os braços cruzados. A adolescente tem peitos planos, provavelmente porque ou ainda não entrou na sua fase de puberdade ou ainda está na transição. A menina tem um laço branco no cabelo, símbolo de inocência. Os seus olhos são muito grandes e pintados de preto, e parecem olhar para além do quadro, em busca dos olhos do pintor ou do próprio espectador. Marcella, a menina representada, é vista como uma figura extremamente depressiva, como se condenada a um mal-estar constante, caracterizada pelo pessimismo, um traço típico da corrente expressionista. Sabemos que como inspiração, tanto em relação à modelo como também a localização, Kirchner inspirou-se num quadro do precursor do expressionismo, Edvard Munch, e intitulado “A puberdade”, de 1895. Como se pode notar, as obras são semelhantes, já que (como dissemos anteriormente), Munch foi o precursor do expressionismo, e Kirchner o fundador do expressionismo alemão. Porém, embora parecidos, o tema é completamente diferente.

Puberdade, Edvard Munch (1895)
Marcella, Kirchner (1910)

Porém, para além de Edvard Munch, Kirchner também se inspirou bastante nas pinturas de Vincent Van Gogh que teve a oportunidade de ver durante os seis meses que passou em Munique. O sentimento de angústia, que na opinião de Kirchner se encontrava presente em diversas obras de Van Gogh, e a discordância das cores nas pinturas de Vincent, inspiraram o jovem Kirchner, e são claramente palpáveis em “Marcella”. Na composição, também podemos encontrar dois traços característicos de Van Gogh: o estofamento do assento e a tela japonesa na parte esquerda do quadro; à direita, uma linha de cor discordante, cinzenta azulada, separa o chão da parede.

como é que o expressionismo está presente nesta pintura?

fORMA DE REPRESENTAÇÃO E TÉCNICA

Paleta crOMÁTICA E USO DA COR

fORMA DE REPRESENTAÇÃO E TÉCNICA

Para além das cores usadas, o tratamento do corpo não é feito de forma naturalista mas sim de uma forma mais simples, já que Kirchner não teve nenhum cuidado de fazer pesquisas anatômicas prévias, mostrando-nos não só a inspiração retirada da técnica utilizada nas xilogravuras, um tipo de arte muito realizada por Kirchner e pelos restantes membros do grupo Die Brücke, como também o facto de o naturalismo e a representação rigorosa da realidade não ser uma prioridade para os expressionistas. Kirchner também usa pinceladas violentas, possivelmente derivadas das técnicas usadas para as xilogravuras, ou como forma de transmitir a violência do quadro ao espectador. Kirchner também reforça o contorno ao desenhar a menina representada, e é notável a subversão tanto das proporções, como podemos notar ao reparar que a cabeça da menina parece um pouco desproporcional em relação ao corpo, e da perspetiva, com o exemplo da linha azul que separa o chão da parede.

"A forma é um mistério para nós, pois é a expressão de poderes misteriosos."

Auguste Macke, Der Blaue Reiter Almanach, 1912

PALETA CROMÁTICA E USO DA COR

A pintura é assombrosamente direta e violenta devido às cores fortes e brilhantes usadas por Kirchner, que não procura qualquer tipo de balanço ou equilíbrio, consequência do contraste entre as cores. O tratamento violento é caracterizado por: uso de cores que não são totalmente naturais; linhas fortes e escuras usadas para delinear a jovem Marcella; a representação de Marcella quase como se estivesse doente por ação da cor usada no seu rosto pálido. As cores utilizadas no seu rosto dão-nos a ver a forte maquilhagem usada pela jovem, mas, por outro lado, também serve para transformar o seu rosto, quase como se fosse uma máscara (influência da escultura Africana) e que cria um rosto deformado que comunica um estado de mal-estar ou de má saúde. O tom levemente rosado do seu rosto e avermelhado do corpo foram feitas através de poucas mas grossas pinceladas, dando destaque aos flashes fugazes de um verde intenso usado poucas vezes no tronco e nas pernas, encontrando-se mais presente na parte do rosto. Os traços verdes por baixo dos seus olhos dão-nos uma ideia de maturidade, que chega antes do tempo, muito provavelmente devido ao seu ofício.

como é que o expressionismo está presente nesta pintura?

Expressionismo

Em algumas das obras de Kirchner, as figuras femininas são muitas vezes escolhidas para retratar a decadência da sociedade e uma situação humana que não é ideal, chocando os espectadores. Kirchner quer então comunicar este tipo de angústia e crítica direcionada à sociedade da época através de muitas das suas pinturas, inclusive em "Marcella". O tema é então um indicador da corrente artística em que Kirchner se encaixa. Para além do tema deste quadro, o uso de cores fortes e contrastantes que nem correspondem à realidade é muito comum em relação aos quadros que se enquadram na corrente expressionista. A forma simples e pouco naturalista de Marcella, retratada no quadro, é outro exemplo da inovação na técnica e forma usada pelos artistas expressionistas.

xx/xx/xxxx-xxxx

Expressionismo

Bibliografia

“O Livro da Arte - Grandes ideias de todos os tempos”, Marcador “Expressionismo”, escrito por Dietmar Elger, TASCHEN “Kirchner”, escrito por Norbert Wolf, TASCHEN e Público “Expressionismo”, escrito por Norbert Wolf, TASCHEN e Público “A grande história da arte - vol.14 (Século XX: Cubismo, Expressionismo e Surrealismo)”, escrito por Giulia Marruchi, Riccardo Belcari ; Paulo Pereira, Manuel Chave, Público “História da Pintura”, Wendy Beckett, Selecções do Reader's Digest

xx/xx/xxxx-xxxx

Fim

O grupo de artistas acaba por se dissolver devido não só a divergências artísticas e outras crescentes tensões, como também por causa da crónica que Kirchner escreveu (Chronik der KG Brücke). Os membros de Die Brücke acharam a crónica muito subjetiva e pragmática, além do facto de que aparentemente, Kirchner escreveu de forma exagerada sobre a sua importância para o desenvolvimento do grupo.

"[...] Lá fora, o fantástico e grandioso ruído da batalha. Saí, caminhando por multidões de soldados feridos e extenuados, que voltavam do campo de batalha, e ouvia essa música estranha e horripilantemente grandiosa. Gostava de poder pintar esses sons. [...]" Este pequeno texto é um excerto de uma carta escrita por Beckmann para a sua mulher em 1914, mostrando justamente o seu entusiasmo pela guerra e pelas oportunidades que muitos artistas expressionistas julgavam existir no início da primeira guerra mundial.

A puberdade, Edvard Munch

A pintura de Munch retrata a transição da infância para a puberdade, mostrando a modelo com os braços cruzados, na forma de x, tentando não revelar muito, quase como se tentasse esconder-se e conservar a sua imagem, passando uma ideia de inocência. Alguns dos traços desta pintura típicos da vanguarda expressionista são:

  • o uso de cores fortes e contrastantes;
  • pinceladas rápidas e grossas.
Marcella, Ernst Kirchner

Porém, no caso de Marcella, a jovem tem uma postura mais relaxada e casual, as pernas cruzadas e os braços em cima delas, o que torna tudo mais dramático, uma vez que Marcella se apresenta ao espectador como se fosse normal/habitual. A maneira como Marcella nos é apresentada serve para Kirchner explorar o tema dramático da prostituição, neste caso agravado, já que se trata de uma menor. O tema da prostituição, incluindo a de menores, destaca as contradições de uma sociedade em que o assunto é de certa forma consentido, e, até chega a ser permitido e visto como normal. O próprio tema já é uma característica clara da vanguarda expressionista, que denuncia e crítica os valores e ideias protegidos pela sociedade da época.