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A duna e a onda

Maria Sara Ribeiro 3

Created on October 24, 2024

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Transcript

A duna e a onda

Uma história de José Jorge Letria

A onda chegou de mansinho ao pé da duna e disse-lhe: - Queres vir comigo? A duna, que nunca tinha ouvido a voz da onda e nem sequer sabia que ela falava, levou algum tempo a responder, mas por fim disse-lhe: - Gostava de ir contigo, mas infelizmente não posso sair daqui.

- Porquê? - quis saber a onda. - Olha, porque eu pertenço ao areal como tu pertences ao mar. Por isso não posso sair do sítio onde estou. É nele que vivo. É dele que faço parte. Mas a onda insistiu: - Se pudesses vir comigo mostrava-te coisas fantásticas: as algas, os corais, os peixes prateados, as ilhas e os continentes, as grandes cidades que ficam do outro lado do oceano.

A duna ficou fascinada com o que acabara de ouvir, mas teve de lembrar à onda que, mesmo assim, não podia sair dali. A onda, que era muito viajada e tinha amigos em todas as partes do mundo, ganhara pela duna, nas mudanças da maré, uma amizade grande que a levava a tentar de novo: - Se pudesses vir comigo correrias o mundo sem gastar nada na viagem. Havias de ver coisas de pasmar, coisas que só vistas e depois poderias contar às outras dunas tuas irmãs que certamente se haveriam de roer de inveja.

- Mas eu já disse que não posso sair deste sítio. Para além disso, gosto de viver aqui, de apanhar sol, de colecionar conchas, de ajudar os caranguejos a voltarem à água, de receber as pessoas que no Verão aqui se vêm bronzear. A onda ouviu com atenção tudo o que a duna tinha para lhe dizer e depois recuou devagarinho até se perder na imensidão do mar. Mas não desistiu. Todos os dias, empurrada pela maré, vinha até à praia e levava consigo um pedaço de areia da duna.

Um dia a duna acordou num sítio completamente diferente da praia onde tinha morado tantos anos. Viu à sua volta palmeiras e coqueiros, casas de pescadores e pequenas embarcações feitas de troncos de árvores. Percebeu pelas cores, pelos cheiros e pela vegetação que a rodeava que se encontrava no outro lado do mundo. A onda tinha atingido o seu objetivo, levara-a aos poucos para uma ilha distante.

Foi assim que a duna começou a mirrar, a mirrar, até ficar muito pequenina. Tão pequenina que quase ninguém a procurava para se estender ao Sol nos dias quentes de Verão.

Foi nessa altura que a onda saiu do mar e, aproximando-se dela vagarosamente, lhe disse assim: - Agora temos o tempo todo para brincar e conversar. A duna, resignada com a sua sorte, estendeu-se na areia e ali ficou de barriga para o ar a apanhar sol, como se fosse uma turista a gozar férias.

Fim