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"Ali não havia eletricidade"

Álvaro de Campos

Ali não havia electricidade. Por isso foi à luz de uma vela mortiça Que li, inserto na cama, O que estava à mão para ler — A Bíblia, em português (coisa curiosa!), feita para protestantes E reli a «Primeira Epístola aos Coríntios». Em torno de mim o sossego excessivo de noite de provínciaFazia um grande barulho ao contrário, Dava-me uma tendência do choro para a desolação. A «Primeira Epístola aos Coríntios»... Relia-se à luz de uma vela subitamente antiquíssima, E um grande mar de emoção ouvia-se dentro de mim...Sou nada... Sou uma ficção... Que ando eu a querer de mim ou de tudo neste mundo? «Se eu não tivesse a caridade». E a soberana luz manda, e do alto dos séculos, A grande mensagem com que a alma é livre... «Se eu não tivesse a caridade»... Meu Deus, e eu que não tenho a caridade!...

Ali não havia eletricidade

  • O sujeito poético encontra-se num espaço rural, sem eletricidade;
  • As opções de leitura do "eu" restringem-se a uma biblia antiquíssima:
  • Emocionalmente, o "eu" lírico sente-se desolado, abatido, com vontade de chorar;
  • O recurso às sensações ilustra uma mmetáfora, com sentido hiperbólico;
  • O verso "E um grande mar de emoções ouvia-se dentro de mim" é visível nas referências á luz da vela (visão) e ao sossego (audição)

No poema "Ali não havia eletricidade", Álvaro de Campos reflete sobre a ausência de modernidade, simbolizada pela falta de eletricidade. Essa ausência representa um vazio existencial e uma desconexão com o progresso. O eu poético sente-se alienado, dividido entre a admiração pela tecnologia e a frustração de não encontrar sentido na vida.

Estilo e linguagem:

"livre de meu enleio" (desligado do tema). Há um acto de fingimento de pura elaboração estética. O leitor deve sentir o que o poeta comunica apesar de ele próprio não sentir ("Sentir? Sinta quem lê!").

Situação a que chega o sujeito poético