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Guilherme Amaro nº13, 12º9.Rui Pais nº25, 12º9.

Fernando pessoa

"Presságio"

Presságio

O amor, quando se revela, Não se sabe revelar. Sabe bem olhar p'ra ela, Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente Não sabe o que há de dizer.Fala: parece que mente...Cala: parece esquecer...

Ah, mas se ela adivinhasse, Se pudesse ouvir o olhar, E se um olhar lhe bastasse P'ra saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala; Quem quer dizer quanto sente Fica sem alma nem fala,Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe O que não lhe ouso contar, Já não terei que falar-lhePorque lhe estou a falar...

Analise Formal

  • A composição é formada por cinco estrofes, cada uma com quatro versos (quadras). O esquema rimático é cruzado, com o primeiro verso a rimar com o terceiro, o segundo com o quarto e assim por diante (A – B – A – B).

  • A temática amorosa, uma das mais fortes na poesia, assume contornos originais. Pessoa não versa sobre a felicidade que amor lhe traz, mas sobre a sua aflição de homem apaixonado e a impossibilidade de viver um romance correspondido.

O amor, quando se revela, Não se sabe revelar. Sabe bem olhar p'ra ela, Mas não lhe sabe falar.

1ª Estrofe

  • A estrofe inicial apresenta o mote do poema, o tema que vai ser tratado, mostrando também um posicionamento do sujeito. Com a repetição de "revela" e "revelar", o autor cria um jogo de palavras que resulta numa antítese, recurso de estilo presente ao longo da composição.

  • Nestes versos é dito que quando o sentimento amoroso surge, não sabe como se confessar. Pessoa recorre à personificação, representando o amor como uma entidade autônoma, que age independentemente da vontade do sujeito.

  • Assim, sem conseguir controlar aquilo que sente, apenas pode olhar a mulher amada, mas não consegue conversar com ela, fica sem jeito, não sabe o que dizer.

2ª Estrofe

Quem quer dizer o que sente Não sabe o que há de dizer. Fala: parece que mente... Cala: parece esquecer...

  • A segunda estrofe confirma a ideia transmitida antes, reforçando a incapacidade de expressar devidamente o seu amor. Acredita que o sentimento não pode ser traduzido por palavras, pelo menos não por ele.

  • É visível a inadequação do sujeito em relação aos seus pares, característica marcante da poesia de Pessoa ortônimo. Sua dificuldade em comunicar com os outros resulta na sensação de que está sempre fazendo algo de errado.

  • A observação e opinião dos demais restringe todos os seus movimentos. Acredita que se falar sobre seus sentimentos, vão achar que ele está mentindo; pelo contrário, se não falar, vão julgá-lo por deixar a amada cair em esquecimento.

  • Devido a esta lógica, o sujeito sente que não pode agir de nenhum modo, sendo um mero observador da própria vida.

3ª Estrofe

Ah, mas se ela adivinhasse,Se pudesse ouvir o olhar, E se um olhar lhe bastasseP'ra saber que a estão a amar!

  • Depois da gradação das duas primeiras quadras, a terceira marca um momento de maior vulnerabilidade. Triste, se lamenta e deseja que ela possa compreender a paixão que sente, apenas através dos seus olhos.

  • Em "ouvir com o olhar" estamos perante uma sinestesia, figura de estilo que se caracteriza pela mistura de elementos de campos sensoriais diferentes, neste caso, a visão e a audição. O sujeito acredita que o modo como olha a amada denuncia mais o seu sentimento do que qualquer declaração.

  • Suspira, então, imaginando como seria se ela percebesse, sem que ele tivesse que dizer por palavras.

4ª Estrofe

Mas quem sente muito, cala; Quem quer dizer quanto sente Fica sem alma nem fala, Fica só, inteiramente!

  • Parte para uma conclusão, defendendo que "quem sente muito, cala", ou seja, aqueles que estão realmente apaixonados guardam segredo sobre suas emoções.

  • Segundo sua visão pessimista, quem tenta expressar seu amor “fica sem alma nem fala”, "fica só, inteiramente". Acredita que falar do que sente irá sempre levá-lo ao vazio e à solidão absoluta.

  • Assim, é como se assumir um amor fosse, automaticamente, uma sentença de morte para o sentimento, que passasse a estar condenado. A paixão é um beco sem saída, face ao qual só pode sofrer e se lamuriar.

5º Estrofe

Mas se isto puder contar-lhe O que não lhe ouso contar, Já não terei que falar-lhePorque lhe estou a falar...

  • A quadra final, apesar do vocabulário simples, torna-se complexa devido à formulação das frases. Estamos perante o uso do hipérbato (inversão na ordem dos elementos de uma oração). O sentido dos versos também não é evidente, dando origem a diferentes leituras.

  • A conjunção adversativa "mas" marca uma oposição entre aquilo que tinha sido dito acima e a quadra que encerra o poema. Isto vem sublinhar que embora lamente não poder expressar seu sentimento, está conformado, porque sabe que não pode ser revelado, sob pena de desaparecer.

CONCLUSÃO

Em suma podemos destacar a complexidade da expressão do amor e dos sentimentos. O eu lírico explora a dificuldade de comunicar o que se sente, evidenciando que o amor, por sua própria natureza, é quase indizível. A incapacidade de verbalizar o sentimento resulta em um silêncio que, paradoxalmente, revela mais do que as palavras poderiam. O poema reflete a tensão entre o desejo de expressar o que se sente e o medo de que qualquer tentativa seja insuficiente ou incompreendida, tornando o olhar e o silêncio os verdadeiros veículos do sentimento. O texto, portanto, sugere que o amor se comunica de formas sutis, além da fala, e que, muitas vezes, o que não é dito fala mais alto que as palavras.