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autopsicografia

corina.jesus

Created on September 22, 2024

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Transcript

O poeta é um fingidor Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente. E os que lêem o que escreve, Na dor lida sentem bem, Não as duas que ele teve, Mas só a que eles não têm. E assim nas calhas de roda Gira, a entreter a razão, Esse comboio de corda Que se chama coração.

Poema Autopsicografia

1ª quadra - dores do poeta 1ª dor - a dor sentida - a real 2ª dor - dor fingida ( a dor intelectualizada)

Poema Autopsicografia

O poeta é um fingidor Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente.

Escreve uma emoção fingida, pensada, fruto da imaginação e da razão. Não escreve a emoção sentida pelo coração, porque ela chegou ao poema transfigurada.

Poema Autopsicografia

O poeta é um fingidor Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente.

A criação poética é fingimento, isto é não traduz o que o poeta sente, traduz o que ele imagina/ intelectualiza a partir do que sentiu

Poema Autopsicografia

O poeta é um fingidor Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente.

2ª quadra - dores do leitor 1ª dor - a dor lida 2ª dor - dor que julga perceber

Poema Autopsicografia

E os que lêem o que escreve, Na dor lida sentem bem, Não as duas que ele teve, Mas só a que eles não têm

E assim - anuncia a conclusão do poema

Brinquedo = coração ==> Metáfora Mas o coração gira a entreter a razão, ou seja o coração fornece os temas / as emoções que a razão elabora

E assim nas calhas de roda Gira, a entreter a razão, Esse comboio de corda Que se chama coração.

3ª quadra - Conflito: Razão/coração Pensar/ sentir

Poema Autopsicografia

Análise formal

Poema Autopsicografia

Composição poética com estrutura estrófica regular (3 quadras). Rima cruzada, segundo o esquema rimático ABAB/CDCD/EFEF. Cada verso tem 7 sílabas métricas (redondilha maior)

Dizem que finjo ou minto Tudo que escrevo. Não. Eu simplesmente sinto Com a imaginação. Não uso o coração. Tudo o que sonho ou passo, O que me falha ou finda, É como que um terraço Sobre outra coisa ainda. Essa coisa é que é linda. Por isso escrevo em meio Do que não está ao pé, Livre do meu enleio, Sério do que não é. Sentir? Sinta quem lê!

Poema isto

Dizem que finjo ou minto Tudo que escrevo. Não. Eu simplesmente sinto Com a imaginação. Não uso o coração.

Acusado de fingir ou de mentir o "eu" lírico responde, defendendo-se que não mente, mas que utiliza a imaginação. Não expressa emoções.

Poema isto

Enquanto poeta, o sujeito lírico vive entre dois mundos: o mundo material da experiência e o mundo ideal. Mundo material , mas o "eu" define-se como alguém que vive esa realidade limitada, mas que sonha.

Tudo o que sonho ou passo, O que me falha ou finda, É como que um terraço Sobre outra coisa ainda. Essa coisa é que é linda.

Poema isto

É através da RAZÃO que o sujeito poético trabalha as emoções.

Quando compõe um poema, o eu lírico distancia-se do mundo imperfeito. No verso final, esclarece que é o leitor quem sente as emoções representadas no poema quando lê.

Por isso escrevo em meio Do que não está ao pé, Livre do meu enleio, Sério do que não é. Sentir? Sinta quem lê!

Poema isto

Análise formal

Poema Autopsicografia

Composição poética com estrutura estrófica regular (3 quintilhas) Rima cruzada e emparelhadas e apresentam o esquema : ABABB/CDCDD/EFEFFOs versos são hexassilábicos: Di/zem/que/fin/jo ou/min/to

Fernando Pessoa apresenta o processo de fingimento artístico como base da sua arte poética. Ao defender que um poema é um produto intelectual, o poeta expõe o seu conceito de poesia, enquanto intelectualização da emoção. Este processo caracteriza-se pela contrução de sentidos que o labor poético implica, apartir de sentimentos criados ou recriados. Assim, a sinceridade artística mais não é do que um fingimento, uma transfiguração da emoção. Nos poemas que abordam esta temática "Isto" e "Autopsicografia", o verbo fingir não significa mentir, significa modelar, transformar. Por isso, "o poeta é um fingidor" e elabora conceitos que exprimem emoções. Em suma, o trabalho poético é o resultado da consciencialização da impossibilidade do poeta fazer coincidir o que sente com o que pensa que sente: o pensar domina o sentir, logo a poesia é um ato intelectual.

Texto expositivo