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A linguagem inclusiva na prática clínica e psicossocial

Na prática clínica, a criação de uma relação terapêutica segura e empática dita muito do sucesso do processo terapêutico. Para tal, é imperativo respeitar a diversidade e promover a inclusão, contudo, todas as pessoas – mesmo as que são profissionais de Psicologia – têm os seus próprios preconceitos e estereótipos e, por isso, é importante uma pré-reflexão sobre as nossas próprias perspectivas. Sobre isto, sugere-se a checklist de auto-reflexão que aqui apresentamos.

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Considerando a reflexão anterior, é ainda importante ter em linha de conta algumas recomendações. Naturalmente, as recomendações apresentadas para a condução de investigação em Psicologia aplicam-se de forma semelhante à sua utilização na prática clínica e organizacional. Seguidamente, revisitam-se e levantam-se alguns pontos que requerem atenção.

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B. Modos de revisão das formas de comunicação

Resolução de incongruências

Evitação de termosde desequilíbrio

Desconstrução de expressões feitas

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C. Criação de espaços físicos de inclusão

  • É de maior importância contar em todos os eventos com a presença de intérpretes de Língua Gestual Portuguesa (LGP). Quando tal não é possível, deve disponibilizar-se a pessoas com dificuldades visuais ou auditivas, a possibilidade de escolherem locais para se acomodar, que facilitem o seu acesso à informação em termos de proximidade e visibilidade (para facilitar, por exemplo, a leitura labial). A utilização de múltiplos suportes de informação é de maior importância: por exemplo, uma apresentação escrita aquando da apresentação oral; legendagem ou audiodescrição.
  • Outra questão essencial é, sobretudo na divulgação de eventos ou informações gerais, ter cuidado com ligações electrónicas (links) criados com a usual indicação de “aceda aqui”. Para pessoas com usam softwares de leitura de ecrã, por exemplo, o “aqui” não explicita a que estão a aceder, sendo que se torna tanto mais complicado, quanto mais ligações “aqui” estiverem presentes. Deste modo, deve optar-se por colocar ou directamente o link visado, ou a denominação do conteúdo que se vai encontrar no link, por exemplo “Ficha de inscrição”.
  • As questões da mobilidade e acessibilidade merecem também a maior atenção. Numa divulgação de evento e até dos espaços onde praticamos ensino, formação e atendimento, deve deixar-se explícita a forma de acesso, a pessoas que se deslocam em cadeiras de rodas ou que têm condições de saúde que lhes afectam a mobilidade. Obviamente que aqui também se considera a necessidade de garantir acessos estruturais para estas pessoas, como rampas, elevadores ou outros mecanismos com este objectivo.

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D. Revisão da comunicação visual

  • Vamos imaginar que promovo os serviços de prática psicológica e que, uma das imagens que escolho para o fazer, inclui a bandeira arco-íris, um símbolo tradicionalmente associado ao apoio à comunidade LGBTQI+. Contudo, na minha prática psicológica, na formação que faço, no trabalho autodidacta de actualização constante do conhecimento profissional, não invisto nesta área do conhecimento por não a considerar tão relevante. Esta situação pode ser considerada uma forma de tokenismo, onde se visibiliza um suposto trabalho com uma comunidade de um modo estratégico, não concretizando passos necessários para a sua real inclusão e promoção do seu bem-estar.
  • Para além disso, é também importante repensar as formas de visibilidade e representação. Se quero primar por uma prática psicológica inclusiva, devo pensar, por exemplo, se tenho esse cuidado nas imagens que escolho para representar práticas e fenómenos. Não é, de todo, inclusivo representar uma população apenas quando estamos perante dias ou eventos afectos às suas características identitárias. Por exemplo, pessoas com deficiência ou outra condição de saúde, não podem ser visibilizadas apenas em dias ou eventos dedicados especificamente a estas questões. Só a representação quotidiana da diversidade nas suas múltiplas formas abre caminho a práticas inclusivas.
  • Na dúvida, recordar o princípio da autodeterminação e do respeito pelo lugar de fala de cada identidade: podemos sempre pedir a pessoas representadas num determinado contexto, a sua perspectiva sobre a representação que criamos, procurando garantir que o fizemos de forma inclusiva.

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E. Não-redução da identidade a uma só característica ou condição

Sobretudo quando falamos em processos de stress minoritário (Meyer, 2003), precisamos contribuir para uma avaliação positiva das características muitas vezes socialmente estigmatizadas da identidade da pessoa e, ao mesmo tempo, ajudar na exploração das mais diversas dimensões da identidade, para que a pessoa não se sinta resumida a apenas uma. Mas como isso se pode concretizar?

  • Recordar à pessoa as diferentes dimensões da sua identidade e os diferentes papeis sociais que ocupa;
  • Distinguir entre os processos sociais de discriminação a que a pessoa pode ter sido sujeita e aquilo que é a sua identidade e o valor da mesma (e.g., A discriminação foi algo que lhe foi dirigido, mas não define o seu valor enquanto pessoa);
  • Reflectir sobre os vieses inconscientes que podemos reproduzir em processos como avaliação psicológica, recrutamento, entre outros onde a nossa percepção pode influenciar largamente a vida da pessoa. Para tal, sugerimos a utilização de questões de auto-reflexão como as que aqui apresentamos.

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Questões de auto-reflexão

  1. Há alguma característica identitária da pessoa (e.g., género, etnia, condição de saúde, nível socioeconómico) que eu pense como uma dimensão central e de maior saliência sobre a identidade da pessoa?
  2. Considero que alguma característica da identidade da pessoa mudou as minhas expectativas em relação a ela ou ao seu desempenho?
  3. Atribuí, em algum momento, um valor diferente a determinado conteúdo da sua vida, formação, ou característica de desempenho a uma dimensão identitária da pessoa? Se sim, sobre qual e como?
  4. Em algum momento, a linguagem que utilizei com a pessoa pode ter provocado algum tipo de constrangimento ou mal-estar?
  5. Procurei respeitar a autodeterminação da pessoa e permiti a afirmação da sua identidade?
  6. Se a pessoa me disse (ou hipoteticamente dissesse) que não tive uma postura inclusiva em relação a algum ponto da sua identidade: como reagiria? Fui/era capaz de demonstrar empatia e reflectir sobre as minhas palavras, acções e representações?

A. Trate a pessoa pelo nome com que se identifica

Tratar a pessoa pelo nome com o qual se identifica e a deixa confortável – algo que deve ser questionado desde a primeira interacção.

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C. Crie espaços físicos de inclusão

Crie espaços físicos de inclusão no local onde se desenvolve a relação terapêutica/transmite conhecimento, bem como em locais de promoção de eventos, eventos e outras actividades que exigem deslocações e/ou momentos presenciais em grupo.

Quando na prática profissional enfrenta alguma incongruência entre o nome social da pessoa e o constante nos seus documentos legais de identificação: Apenas a partir dos 16 anos pode ser alterado o nome no documento de identificação legal português, nomeadamente, o cartão de cidadão. Contudo, o novo projecto-lei, ainda em discussão, aprova a mudança de nome nos documentos administrativos das escolas para o mesmo se apresentar em conformidade com o nome social. Até aqui, o Artigo 3 da Lei nº 38/2018 de 7 de Agosto indicava a inscrição das iniciais do nome próprio que consta no documento de identificação, precedido do nome próprio adoptado face à identidade de género manifestada, seguido do apelido completo e do número do documento de identificação. Este “nome próprio que consta no documento de identificação” é denominado como deadname, ou nome morto, e é considerado uma forma de violência sobre pessoas trans e pessoas não-binárias. Por isso, enquanto profissional de Psicologia informar as pessoas ou encaminhá-las para associações, centros ou espaços que o possam fazer, é uma boa prática profissional

Resolução de incongruências

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D. Reveja a sua comunicação visual

Muitas vezes, e sem uma intenção consciente de o fazer, podemos cair em comportamentos de tokenismo. Por tokenismo podemos entender uma ilusória transmissão de uma imagem progressista e inclusiva, através de concessões estratégicas e superficiais a pessoas pertencentes a grupos minoritários.

Saiba como isto pode acontecer na comunicação visual.

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E. Não reduza a identidade da pessoa a uma só característica ou condição

A identidade da pessoa é plural, mas naturalmente determinadas dimensões da identidade podem emergir com mais saliência e ser-lhes atribuída uma valência mais positiva ou negativa.

B. Reveja constantemente assuas formas de comunicação

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Faça uma revisão constante das suas formas de comunicação que podem reproduzir preconceitos e ou estereótipos.

O contexto histórico e sociocultural pauta a forma como nos comunicamos e organizamos o mundo. Há expressões e até vocábulos considerados socialmente insultuosos que, pela própria construção história da língua, ainda se mantém expressos sob formas de comunicação que, ainda que aparentemente inócuas, têm inerente um valor discriminatório. São exemplos:

  • Utilizar termos de condições de saúde para descrever comportamentos desadequados: “Uma direcção autista” (no sentido de não estabelecer comunicação com as demais pessoas); “Parece uma conversa de surdos”.
  • Recorrer a termos que associam a etnia ou a cor de pele a questões negativas: “Denegrir a imagem de alguém”; “Estar na lista negra”;
  • Utilizar provérbios ou expressões com génese capacitista ou racista, por exemplo: “Apanha-se mais depressa um mentiroso do que um coxo” ou “Um olho no burro, outro no cigano”. Mesmo em termos de género, os adágios populares assumem muitas vezes um papel discriminatório, por exemplo “À mulher brava, soga larga”.
Por partirem de transmissão geracional e de uma aparente ingenuidade, pode ser difícil a identificação do preconceito inerente a estas expressões e afirmações. Assim, é importante uma postura activa e constante de desconstrução e auto-monitorização pessoal, que culmine numa linguagem mais inclusiva e promotora da diversidade.

Desconstrução de expressões feitas

Não empregar termos como “tolerar” ou “aceitar”. Socialmente, enfrentamos barreiras estruturalmente LGBTfóbicas, patriarcais, capacitistas, racistas e de outras índoles intrinsecamente discriminatórias. Posto isto, facilmente caímos em termos linguísticos que ilustram o desequilíbrio de distribuição de poder social, entre os grupos maioritários e minoritários. Assim, usar termos como “tolerar” ou “aceitar” quando falamos da identidade de alguém pressupõe a superioridade do lugar onde nos encontramos para com a identidade da outra pessoa. Devem privilegiar-se termos como diversidade, inclusão, reconhecimento e afirmação.

Evitação de termos de desequilíbrio