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Transcript

António Torrado

O Pinto Pintão

Era uma vez um pinto graúdo, pançudo e carrancudo. Era o pinto pintão, um matulão.

Um dia, o pinto pintão achouum grão de milho à beira da estrada. Ia para comê-lo, quando se levantou uma grande poeirada.

Era o cortejo real,com cavaleiros e carruagens que vinha a passar.

Depois de o cortejopassar, o pinto pintão foi pelo grão de milho e não o encontrou.

De quem foi a culpa? Só podia ter sido dorei, que vinha à frente do cortejo.

O pinto pintão, furioso,pôs-se a caminho do palácio real, para exigir ao rei o seu grão de milho. Ele iria saber do que o pinto pintão era capaz, olá se ia!

No caminho, passoupor uma raposa que queria fazer-lhe frente.

O pinto pintão disse-lhe muito despachado:- Arreda-te para eu passar.

A raposa não ligou e o pinto pintão não esteve com meias medidas. Abriu o bico e - zás!- engoliu a raposa.

Mais adiante, foi dar com um pinheiro, caído na estrada. O pinto pintão disse-lhe logo, muito despachado: - Arreda-te para eupassar.

O pinheiro não se moveue o pinto pintão não esteve com meias medidas. Abriu o bico e - zás!- engoliu o pinheiro.

Ainda mais adiante, foi ter a um rio sem pontes nem barca. O pinto pintão disse-lhe logo, muito despachado:- Arreda-te para eu passar.

O rio não se afastou e o pinto pintão não esteve com meias medidas. Abriu o bico e - zás!- engoliu o rio com a água toda.

Quando chegou à porta dopalácio, o pinto pintão, graúdo, pançudo e carrancudo, estava cada vez mais matulão.

Diante da porta fechadado palácio, pôs-se a gritar:- Qui qui ri qui.O meu bago de milhoquero já aqui.

O rei ouviu-o e mandou queo metessem na capoeira das galinhas, mas o pinto pintão não esteve com meias medidas. Botou cá para fora a raposa e ela comeu as galinhas todas.

O pinto pintão voltou para a porta do palácio, sempre a gritar:- Qui qui ri qui.O meu bago de milhoquero já aqui.

O rei, muito irritado,mandou que o metessem na cavalariça, mas o pinto pintão não esteve com meias medidas. Botou cá para fora o pinheiro, que, ao cair, rebentou com a porta da cavalariça.

- Qui qui ri qui.O meu bago de milhoquero já aqui.Isto gritava outra vez opinto pintão, á porta do palácio real.

Então o rei, sem saber o que mais havia de fazer, mandou que aquecessem o forno e metessem o pinto lá dentro. Desta vez, o pinto pintão, que não era de meias medidas, botou cá para fora o rio, que apagou o forno.

Já estava o palácio quasea afundar-se, quando, finalmente, o rei ordenou que dessem um bago de milho ao pinto pintão.

Foi o que ele quis:- Qui qui ri qui. O meu bago de milho já eu tenho aqui.

E o pinto pintão, com o bago de milho no bico, virou costas ao rei e ao palácio.

FIM!