"Trabalho português "
Margarida Ramos
Created on March 11, 2024
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Transcript
Sophia de Mello Breyner Andresen
"O hospital e a praia"
Trabalho realizado: Margarida Ramos 12ºA
Análise do poema
Índice
1
2
3
4
5
6
Biografia
Poema
Intencionalidade da poetisa
Forma e estrutura externa
Assunto e seu desenvolvimento
Figurações modernistas ou tradicionais
7
Intertextualidade
Biografia
- Nasceu a 6 de novembro de 1919, no Porto;
- Entre 1939-1940 estudou Filologia Clássica na Universidade de Lisboa;
- Publicou os primeiros versos em 1940 nos Cadernos da Poesia;
- Foi das mais importantes poetisas portuguesas contemporâneas;
- Primeira mulher a receber o prémio de Camões;
- Recebeu o prémio Sofia de Poesia Ibero-Americana- primeira vez que um português venceu este prestigiado galardão;
- Faleceu aos 84 anos, no dia 2 de julho de 2004, em Lisboa, sendo trasladada para o Panteão Nacional a 2 de julho de 2014.
Poema
E eu caminhei no hospital Onde o branco é desolado e sujoOnde o branco é a cor que fica onde não há corE onde a luz é cinzaE eu caminhei nas praias e nos camposO azul do mar e o roxo da distânciaEnrolei-os em redor do meu pescoçoCaminhei na praia quase livre como um deusNão perguntei por ti à pedra meu SenhorNem me lembrei de ti bebendo o ventoO vento era vento e a pedra pedra E isso inteiramente me bastava E nos espaços da manhã marinhaQuase livre como um deus eu caminhavaE todo o dia vivi como uma cega Porém no hospital eu vi o rostoQue não é pinheiral nem é rochedo E vi a luz como cinza na paredeE vi a dor absurda e desmedida.
O hospital e a praia
A representação sucessiva dos dois espaços nomeados no título o "hospital" e a "praia", é a linha estruturadora do texto. O confronto estabelecido entre o espaço fechado do "hospital" e o espaço aberto da "praia" é evidente ao longo do poema e o facto deste começar e acabar no mesmo sítio reforça essa oposição.
Intencionalidade da poetisa
O poetisa abre uma reflexão ao estado doentio do homem contemporâneo e a necessidade que tem de uma cura, tanto dos males fisícos como psicológicos.Neste poema existem dois espaços distintos: o "hospital" e a "praia". O "hospital" é o local da "dor absurda e desmedida" e associado ao "branco desolado e sujo" e à "luz cinza". A "praia" representa o espaço inundado pelo "azul do mar", um espaço de paz, beleza, sossego, recuperação de energias.
Forma e estrututra externa
E eu caminhei no hospital Onde o branco é desolado e sujoOnde o branco é a cor que fica onde não há corE onde a luz é cinzaE eu caminhei nas praias e nos camposO azul do mar e o roxo da distânciaEnrolei-os em redor do meu pescoçoCaminhei na praia quase livre como um deusNão perguntei por ti à pedra meu SenhorNem me lembrei de ti bebendo o ventoO vento era vento e a pedra pedra E isso inteiramente me bastava E nos espaços da manhã marinhaQuase livre como um deus eu caminhavaE todo o dia vivi como uma cega Porém no hospital eu vi o rostoQue não é pinheiral nem é rochedo E vi a luz como cinza na paredeE vi a dor absurda e desmedida.
Este poema é constituído por 6 estrofes, quatro delas com 4 versos (quadras), uma com 2 versos (dístico) e uma com 1 verso (monóstico). No que diz respeito à métrica, é diversificada, no entanto predominam versos decassilábicos.O poema não tem um esquema rimático definido no entanto, as anáforas recorrentemente usadas pela autora conferem alguma rima, musicalidade ao texto.
1º estrofe
E eu caminhei no hospital Onde o branco é desolado e sujoOnde o branco é a cor que fica onde não há corE onde a luz é cinza
Nesta estrofe o espaço físico referido remete para dor e sofrimento.Destaca-se o uso do "branco" associado a "desolado e sujo" estando, por isso, em oposição à ideia que habitualmente está associada a esta cor que é de pureza, paz...
- "Onde o branco é desolado e sujo" v2 - antítese: pois o branco está associado a limpeza e o hospital que deveria ser um espaço limpo mas que está "sujo" com a dor que se vive nesse espaço.
- "E eu caminhei" v1 e "Onde o branco é" v2 e v3- anáforas: estas anáforas presentes dão uma musicalidade ao poema e realça a(s) ideia(s) que o poema quer transmitir.
2º estrofe
E eu caminhei nas praias e nos camposO azul do mar e o roxo da distânciaEnrolei-os em redor do meu pescoçoCaminhei na praia quase livre como um deus
Nesta estrofe houve uma mudança de espaço físico, a "praia", um espaço aberto, livre claramente em oposição ao dos versos anteriores. O sujeito poético caminha com uma liberdade quase divina.
- "E eu caminhei" v5 - anáfora: esta anáfora presente dá uma musicalidade ao poema e realça a(s) ideia(s) que o poema quer transmitir.
- "O azul do mar e o roxo da distância/ Enrolei-os em redor do meu pescoço v6 e v7 - metáfora: o espaço da praia é de tal maneira libertador que o azul do mar e o roxo da distância podem ser imensos no entanto podem servir para "aconchegar", "aquecer" o sujeito poético como se de um cachecol se tratasse.
- "quase livre como um deus " v8 - comparação: esta comparação está presente no espaço, na praia onde existe uma liberdade quase divina.
3º estrofe
Não perguntei por ti à pedra meu SenhorNem me lembrei de ti bebendo o ventoO vento era vento e a pedra pedra E isso inteiramente me bastava
Nesta estrofe sobressai um sentimento de íntimo acordo com a natureza e uma satisfação plena dos sentidos. O sujeito poético aceita os elementos da natureza tal como eles são.
- "Nem me lembrei de ti bebendo o vento" v10 - metáfora: mostra o quanto "absorve" o ar da praia quase que bebendo o vento.
4º e 5º estrofe
E nos espaços da manhã marinhaQuase livre como um deus eu caminhavaE todo o dia vivi como uma cega
A liberdade quase divina da segunda estrofe fica outra vez evidente no verso "Quase livre como um deus eu caminhava".Nestas estrofes conclui-se a descrição da vivência da "praia" que se vive num estado de cegueira relativamente à realidade revelada no "hospital".
- "E nos espaços da manhã marinha v13 - perífrase: está-se a referir ao espaço, a praia.
- "Quase livre como eu deus eu caminhava" v14 - comparação: esta comparação está presente no espaço, a praia onde existe uma liberdade quase divina.
- "E todo o dia vivi como uma cega" v15 - comparação: fica evidente que estando na praia ignora a realidade dura e desolada do hospital.
6º estrofe
Porém no hospital eu vi o rostoQue não é pinheiral nem é rochedo E vi a luz como cinza na paredeE vi a dor absurda e desmedida.
Com esta estrofe o poema acaba no mesmo espaço com que começa: o "hospital". Novamente, o sofrimento e a dor vividos no "hospital" ficam em destaque com a utilização da forma verbal "vi".
"Porém" é uma conjunção adversativa que marca a oposição do "eu" na "praia" e no "hospital"
- "E vi a " v18 e v19 - anáforas: dão uma musicalidade ao poema e realça a(s) ideia(s) que o poema quer transmitir.
Figurações modernistas ou tradicionais
Sophia de Mello Breyner Andresen encontra-se ligada a várias publicações que marcaram, na história da literatura contemporânea algo que fosse além do social e do estético em que estava dividido o panorama literário.Sem deixar de dar continuidade a uma tradição lírica, representada por exemplo por Camões, a sua obra produz uma impressão global de atemporalidade. Por outro lado representa a evolução da escrita poética num caminho aberto pelo modernismo que pode ser representado por Fernando Pessoa.
Intertextualidade
Um tema recorrente na poesia de Sophia Mello Breyner Andresen é o mar. Muitos são os textos em que se exprime a beleza e a serenidade do mar e o espaço da praia é um espaço de regeneração de energias. No nosso panorama cultural - quer que se fale de poesia, pintura, música - é fácil encontrar obras em que o mar e a praia são temas centrais.
Pintura de António Carneiro - "Rochedos da Boa Nova"
Pintura de José Malhoa - "Praia das Maçãs"
Sétima Legião- "Sete Mares"