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EXPLORAÇÃO DE OBRA DE ARTE MÓDULO VII

Diogo

Created on January 13, 2024

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Transcript

EXPLORAÇÃO DE OBRA DE ARTE

TESEU E O CENTAURO - ANTONIO CANOVA

ITÁLIA - 1819 – NO ATELIER DE ANTONIO CANOVA COM O ENCOMENDADOR DA OBRA TESEU E O CENTAURO Ao receber a notícia de que António Canova havia finalmente dado por terminada a escultura Teseu e o Centauro, o encomendador apressa-se a dirigir-se poucos dias depois ao seu atelier, a convite do próprio pintor, a fim de analisar com os seus próprios olhos o resultado final da tão expectada obra. ENCOMENDADOR - Não vou mentir, tem aqui pinturas impressionantes! Talvez um dia destes ainda venha a requisitar-lhe uma se for caso. ANTONIO CANOVA - Venha antes por aqui meu bom homem! Esqueçamos as pintura que Davids já os há aos montes. A escultura é todo um outro mundo. Na pintura pode acrescentar um remendo aqui ou ali e ninguém repara, mas a arte do desbastamento é bem mais minunciosa. Cada golpe pode ser fatal. E os homens clássicos faziam-no com a maior das habilidades.

Repare nisto, hein? Diga-me lá se esta obra não é de outro século que não o nosso!

Tenho de admitir que me surpreendeu, Canova. É, de facto uma obra arrebatadora. E o talento é notável, não há dúvida que seja o maior escultor da atualidade. Um significativo pioneiro!

ANTONIO CANOVA

ENCOMENDADOR

Muitos anos de prática, meu amigo. A verdade é que, tendo nascido (em 1757)...

ANTONIO CANOVA

ENCOMENDADOR

ANTONIO CANOVA: VIDA E OBRA

... fui, criado pelo meu avô, pessoa que guardo com grande carinho em mim, pois foi ele quem me abriu a portas ao mundo da arte, quando me tornei aprendiz numa marmoraria, ainda em tenra idade. E à medida que ia crescendo percebi que tinha encontrado ali a verdadeira vocação da minha existência, que a razão me abria um caminho que teria de seguir em busca da minha verdadeira felicidade.

ENCOMENDADOR - E a verdade é que o seu prestígio foi tal que chegou mesmo a fazer obras encomendadas pelo próprio Napoleão, assim é? ANTONIO CANOVA - É verdade sim, facto que me traz grande orgulho. Ainda tinha 16 anos e já recebia as primeiras encomendas, primeiramente ainda bastante influenciado pelas características da arte barroca, como o exemplo de Orfeu e Eurídice, sendo que vivi num período bastante transitório, como deve imaginar. Mas a verdade é que, com as novas descobertas que mais tarde surgiram em Pompeia e Herculano, que trouxeram novamente ao mundo as grandes obras do clássico, rapidamente me vi interessado por estudar a grandeza da arte clássica greco-romana e a perfeição das técnicas com que representavam as formas e expressões do corpo humano. Com o Neoclacissismo troquei o sentimento pela razão e a partir daí nunca mais o larguei, sendo que esse foi o momento em que as minhas obras começaram a ganhar o devido reconhecimento, não apenas em Itália, a minha terra natal, mas também por outras regiões europeias, como em França, acabando mesmo por chegar aos ouvidos do Napoleão e da sua família, como bem referiu há pouco, para os quais fiz diversas obras que me peritiram alcançar o seu prestígio e patrocínio, como Napoleão como Marte, por exemplo.

Lembro-me bem de toda a discórdância de opiniões que se gerou em volta de Teseu e o Minotauro, que até há pouco vimos na outra sala, quando inicialmente os espectadores entendiam que se tratava de uma cópia romana e não de uma escultura contemporânea, tal era a minúncia e a precisão da sua técnica e o compromisso com os ideais artísticos clássicos.

Foi precisamente no ano de 1871, que também coincide com o ano em que abri este mesmo estúdio em que nos encontramos. Ah! Como eu bem me lembro da mixórdia de pensamentos e de ideias que surgiam efusivamente na minha cabeça mal dei o primeiro passo dentro deste estúdio, que acolhi com relativa familiaridade, pois foi como se já conhecesse este espaço.

Foi precisamente neste espaço que fiz também as minhas obras mais importantes e que desenvolvi a minha técnica e o meus estudos, que me fizeram ver a escultura neoclássica de forma menos tradicional, digamos assim. Também influenciado pelas minhas origens barrocas, entendi que deveria atribuir ao Neoclassicimo mais sentimentalismo, dando mais destaque à ação e à expressão das figuras em causa, mas mantendo-me sempre fiel à racionalidade das regras clássicas. Desta forma podemos afirmar que o meu Neoclassicismo é um pouco distinto das convenções tradicionais também pelo facto de ter conseguido tornar as minhas obras mais humanas, fazendo com que se estabelecesse uma relação mais profunda entre a obra e o observador.

A verdade é que ainda hoje é reconhecido como uma figura crucial para o desenvolvimento do Neoclassicismo pelas mais ilústres figuras do nosso tempo e não há como negá-lo. Nesta mesma obra do Teseu e o Centauro observam-se precisamente essas características que o tornam tão único, desde logo a habilidade para conseguir retratar com tanta grandiosidade e explendor este feroz episódio mitológico travado entre um centauro e Teseu.

CONTEXTO MITOLÓGICO DA OBRA

Como decerto saber, Teseu, que em grego significa “o homem forte por excelência” foi o mais ilustre herói grego da cidade de Atenas. Era filho de Egeu e de Etra, tendo ficado marcado pela sua impressionante força que lhe permitia realizar inúmeros atos heróicos que a todos espantavam, com destaque para a vitória sobre o lendário Minotauro, como aquele que também representou em escultura. A batalha com o Minotauro deveu-se à impusição do rei de Creta aos atenienses de enfrentarem um sangrento tributo que envolvia catorze jovens serem entregues a um ser que habitava o sinistro labirinto de Creta, o Minotauro. Corajosamente, Teseu, como líder, enfrentou e venceu o Minotauro, embora com o auxílio de Ariadne, filha de Minos, que o ajudou a encontrar a saída do labirinto, entregando-lhe um fio de novelo. Este foi o momento que marcou a vida de Teseu, que, posteriormente, regressou a Atenas, acabando mesmo por se tornar rei. De resto a história permanece incerta, sabendo-se apenas que foi responsável por unificar as cidades da Ática, assim como um hipotético envolvimento numa batalha com o rei das Amazonas.

A verdade é que este é apenas um dos seus grandes feitos, embora tenha travado muitas mais batalhas em vida contra as mais diversas criaturas, entre elas centauros, por exemplo. Por isso mesmo o meu objetivo ao encomendar-lhe esta escultura não era o de destacar necessariamente o acontecimento mas sim o herói que enfrenta todas as batalhas com a mesma força e coragem, nunca cedendo a qualquer inimigo, e a verdade é que foi a pessoa indicada para o fazer.

Agradeço os elogios, mas acho que ainda não teve opurtunidade de observar a verdadeira essência deste trabalho. Aproxime-se um pouco mais, ...

ANÁLISE FORMAL DA OBRA

... repare na composição triangular que engloba a ação: de um lado está Teseu, o grande herói de Atenas, como já referiu, representado numa figura imponente, completamente nu, na sua verdadeira essência, embora adornado com o seu capacete ateniense e com um manto pendurado no braço e com uma arma empunhada numa das mãos. Para além disso Teseu é símbolo de força, de poder, todo ele envolvido num movimento glorioso e impiedoso, olhando com superioridade para a vítima, o Centauro, contra o qual exerce todo o peso do seu corpo numa poição inclinada determinada por eixos oblíquos. O seu olhar é determinado, porém deixa o observador na expectativa da iminência de Teseu exercer o golpe final sobre o Centauro, enquanto este último se debate inútilmente contra o herói. A forma como a sua figura se contrai e se retorce de dor perante o braço de Teseu que lhe agarra o pescoço e o outro que se ergue no intento de lhe acertar com a arma, revela-nos o estado de sofrimento e indefensabilidade em que se encontra, sem qualquer capacidade de refutar o ataque, com a sua cabeça inclidada para trás, com o seu olhar fora da ação, buscando a esperança num lugar que não aquele e tentando agarra-se ao que consegue com os seus braços, um deles apoiado no chão e o outro agarrado ao de Teseu que se entende na sua direção, quase num gesto de lhe pedir a sua misericórdia perante o destino irreversível da morte.

A própria composição está construída de modo a guiar o olhar do observador primeiramente para Teseu e pela sua figura que inspira coragem, e vai descendo até à figura indefesa do Centauro que espera a morte, quase que trazendo ao observador um sentimento de pena por aquele fim de vida dão dramático.

Para uma obra Neoclássica, a verdade é que acabamos por ver aqui uma imagem bastante poética, fruto também das suas influências barrocas que lhe são características. É de facto impressionante tudo isso que me acaba de descrever, já para não falar ...

ANÁLISE TÉCNICA DA OBRA

... do modo como conseguiu talhar o mármore branco de forma tão expressiva e ao mesmo tempo tão realista, através do uso do contrapeso em Teseu, que apoia o peso do seu corpo na sua perna esquerda, o rigor anatómico e o cuidado nas proporções e na atenção ao detalhe em ambos os corpos. Podemos observar isto, por exemplo na perna de Teseu que se encaixa na zona abdominal do Centauro, quase que o deformando, ou até no pormenor da representação dos músculos, principalmente no caso do Centauro. Também não será demais destacar a impressionante diferenciação de texturas aplicadas, desde os cabelos, os panejamentos, ou os próprios corpos em si. Tudo isso acentua a o movimento expressivo das figuras participantes na ação, intensificado ainda mais pelas emoções expressas nas faces de Teseu e do Centauro, que se comportam de modo contrastante, quase oposto mesmo.

Fico muito lisonjeado pela sua aproveção. Deveria passar por cá também quando tiver dado por terminada a obra em que estou a trabalhar atualmente, Vénus Itálica, também ela uma escultura em mármore, para que possamos também discutir as nossas ideias sobre a mesma.

Fico-lhe imensamente grato pelo convite, na esperança de vir visitá-lo o mais brevemente possível, mas por agora aguardam-me outros compromissos em Veneza, por isso não me poderei demorar muito mais tempo por aqui. Não se preocupe com o dinheiro que o receberá atempadamente tal como combinámos e para além disso tenho a certeza que esta obra vai dar muito que falar por toda a Europa!