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2- Português - Como interpretar um poema
Isabel
Created on September 14, 2023
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Transcript
Como interpretar um poema
Estado de espírito, atitude e tom
O texto poético
Outros aspetos estilísticos
Aspetos formais do poema
Tema, ideias e seu desenvolvimento
Símbolos e recursos expressivos
1. O texto poético
O poema lírico é um tipo de texto literário em que o sujeito poético exprime as suas ideias, os seus sentimentos, as suas impressões ou reações. A poesia lírica caracteriza-se também pela forte valorização da linguagem usada: pelos vários sentidos que desencadeia, pelas propriedades estilísticas, pela sonoridade, etc.
Num poema, as ideias expressam-se de um modo artístico e é, por isso, comum que sejam apresentadas subtilmente, como sucede no seguinte poema de Pedro Mexia (1972-). Eu amo Eu amo o teu gravador de chamadas. Ele não me abandona e repete vezes sem conta a tua voz.
Interpretação do poema
Perante um poema, temos de fazer inferências e analisar o sentido das palavras para construirmos linhas de interpretação. É fundamental começar por encontrar a ideia central do poema (“unidade”) e os sentidos a ela associados. Depois avançamos para a interpretação do modo como essas ideias são desenvolvidas e tratadas nas diferen-tes partes do poema, nos aspetos estilísticos, etc.
2. Tema, ideias e seu desenvolvimento
O tema é uma ideia central ou estruturante de um texto: o amor, a liberdade, a infância, a justiça, entre outros. Essa ideia central é desenvolvida ao longo do poema, avançando, assim, a reflexão, a expressão de sentimentos, etc. Lê o poema “O Palácio da Ventura”, Antero de Quental, que se encontra no próximo diapositivo.
O Palácio da Ventura Sonho que sou um cavaleiro andante. Por desertos, por sóis, por noite escura, Paladino do amor, busco anelante O palácio encantado da Ventura! Mas já desmaio, exausto e vacilante, Quebrada a espada já, rota a armadura… E eis que súbito o avisto, fulgurante Na sua pompa e aérea formosura!
Com grandes golpes bato à porta e brado: Eu sou o Vagabundo, o Deserdado… Abri-vos, portas d’ouro, ante meus ais! Abrem-se as portas d’ouro, com fragor… Mas dentro encontro só, cheio de dor, Silêncio e escuridão — e nada mais! Antero de Quental
O tema é a Felicidade e o poema divide-se em quatro partes: 1.ª parte: A determinação do eu na busca do Palácio; 2.ª parte: A desilusão decorrente de não encontrar o Palácio; 3.ª parte: A esperança renovada do eu ao avistar o Palácio, por acreditar que encontrou a Felicidade; 4.ª parte: A desilusão do eu ao constatar que, apesar de se tratar de um Palácio deslumbrante, o interior é vazio.
A procura da Felicidade é representada pela busca de um cavaleiro, num sonho (situação representada). Quanto às ideias mais relevantes, a Felicidade é representada como uma ilusão: o Homem procura-a, mas constata que se trata de um conceito vazio e que não a podemos conquistar.
3. Estado de espírito do eu, atitude, tom e sensações
A expressão estado de espírito alude aos sentimentos e às emoções experienciados pelo eu lírico: alegria, contentamento, melancolia, desânimo, entre outros. Associada ao estado de espírito, a atitude do eu lírico consiste no modo como este trata o tema e a posição que assume face às ideias que desenvolve: louvor, lamento, empatia, distanciamento, recusa, sarcasmo, etc.
O tom do discurso associa-se à atitude do sujeito poético: elogioso, lamentoso, grave, sóbrio, empático, distanciamento, desdenhoso, humorístico, irónico, etc. Em poemas em que o sujeito poético descreve a realidade que o rodeia, regista as impressões que lhe chegam através das sensações: visuais, olfativas, gustativas, táteis ou auditivas.
Lê o poema “Camões”, de Miguel Torga CAMÕES Nem tenho versos, cedro desmedido, Da pequena floresta portuguesa! Nem tenho versos, de tão comovido Que fico a olhar de longe tal grandeza. Quem te pode cantar, depois do Canto Que deste à pátria, que to não merece? O sol da inspiração que acendo e que levanto, Chega aos teus pés e como que arrefece.
Chamar-te génio é justo, mas é pouco. Chamar-te herói, é dar-te um só poder. Poeta dum império que era louco, Foste louco a cantar e a louco a combater. Sirva, pois, de poema este respeito Que te devo e professo, Única nau do sonho insatisfeito Que não teve regresso!
O estado de espírito do sujeito poético é de comoção e de embevecimento face à grandeza do poeta Camões. A atitude do eu lírico é de celebração (louvor) da importância da figura e da obra do autor de Os Lusíadas. O tom é elogioso e elevado, visto que o sujeito poético está a glorificar a figura que admira. As sensações são raras no poema porque se trata de uma reflexão: apenas metaforicamente se alude ao facto de o "Sol" aquecer o eu, cujos pés estão arrefecidos.
4. Símbolos e recursos estilísticos
O símbolo Um símbolo é um elemento concreto que representa uma ideia abstrata, que, num poema, ganha uma grande importância na construção de significados do texto, por ex.:
- a pomba branca simboliza a paz;
- a cruz representa o Cristianismo;
- a rosa alude ao amor;
- etc.
Recursos expressivos Os recursos expressivos são elementos linguísticos (palavras, expressões, etc.), que desencadeiam sentidos, reforçam ideias e revelam beleza literária. Exemplos de recursos expresivos são a metáfora, a personificação, a comparação e a hipérbole. Mas o uso do adjetivo e do advérbio (etc.) também é.
Conselho
"Camões", de M. Torga
Lê os dois versos iniciais do poema “Camões”, de Miguel Torga, da secção anterior (“3. Estado de espírito, atitude…”). Nem tenho versos, cedro desmedido, Da pequena floresta portuguesa! Nestes dois versos sobre Camões e a sua obra, o “cedro” (árvore muito alta e que vive muitos anos) simboliza o poeta que compôs Os Lusíadas, pela sua grandeza e pela longevidade da sua importância cultural e literária. A “floresta” também é um símbolo: como esta é pequena, pode representar a ausência de grandeza dos portugueses ou dos nossos marcos culturais (poetas, artistas, etc.) .
Como interpretar um recurso expressivo Relê os dois versos iniciais do poema “Camões”, de Torga. Nem tenho versos, cedro desmedido, Da pequena floresta portuguesa! Neste versos encontramos:
- a apóstrofe: “cedro desmedido”;
- metáforas: “cedro desmedido” e “pequena floresta”;
- a antítese: o "cedro" é "desmedido", a “floresta” é “pequena”.
Conselho
Quando interpretamos o valor de um recurso expressivo, devemos seguir três passos: a) Identificar o recurso: ex. uma antítese, uma hipérbole. b) Referir o valor do recurso: ex. contrastar, exagerar, comparar. c) Explicitar o significado que ganha no poema, usando verbos como: sugere, enfatiza, sublinha, reforça, salienta, expressa, etc. Assim, a antítese “cedro desmedido, / Da pequena floresta portuguesa!” expressa, através de um contraste, a diferença entre a grandeza de Camões e a pequenez dos demais portugueses.
5. Outros aspetos estilísticos
Na análise de um poema, devemos ainda identificar e atribuir sentidos a outros aspetos estilísticos (marcas de linguagem ou elementos linguísticos) como:
- O campo lexical: conjunto de palavras associadas pelo significado: escola, amor, etc.:
- O uso dos tempos verbais:
- O tipo de frase e a sua expressividade: ex. uma exclamação pode representar admiração;
- O emprego de conectores (articuladores) do discurso, que estabelece relação entre as ideias;
- Etc.
6. Aspetos formais
Se há poemas em prosa, certo é que a maioria é escrita em verso. Os aspetos formais relevantes a considerar são os seguintes:
- A estrutura estrófica: número de estrofes e número de versos de cada estrofe (quadras, oitavas, etc.).
- O esquema rimático: sequência e padrões de rima: rima cruzada, interpolada e emparelhada.
- A métrica: número de sílabas métricas de um verso.
Lê o poema de Luís de Camões Amor é um fogo que arde sem se ver, é ferida que dói, e não se sente; é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer. É um não querer mais que bem querer; é um andar solitário entre a gente; é nunca contentar-se de contente; é um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade; é servir a quem vence, o vencedor; é ter com quem nos mata, lealdade. Mas como causar pode seu favor nos corações humanos amizade, se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Poema
Estrutura estrófica
- O poema é um soneto, uma composição formada por duas quadras e dois tercetos.
- Nas três primeiras estrofes, o eu reflete sobre a natureza contrastiva e paradoxal do amor (que causa contentamento e infelicidade).
- O terceto final é a chave de ouro, onde se apresenta a conclusão da reflexão.
Poema
Métrica
- A métrica é regular, pois todos os versos têm dez sílabas métricas (decassílabos), um verso longo que dá "espaço" para desenvolver uma reflexão que termina na estrofe final.
- Porque sobressai o acento tónico nas sexta e décima sílaba destes versos, o ritmo do poema é binário, marcando a oposição de duas ideias contrastivas: "dói / e não se sente".
- Rima: interpolada, emparelhada e cruzada
- A rima contribui para o ritmo, além de colocar em relação certas palavras: “ver”/“doer”; “querer”/“perder”; “vencedor”/ “favor”.