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Ao Gás, Cesário Verde
Diana Cordeiro
Created on May 9, 2023
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Transcript
O Sentimento Dum Ocidental
Parte III: Ao Gás
Trabalho realizado, no âmbito da disciplina de português, por:
- Beatriz Correia, Nº4
- Diana Cordeiro, Nº7
5. Espaço
6. Tempo
7. Personagens
8. Sensações
9. Análise formal
10. Figuras de estilo
índice
1. Introdução
2. Leitura expressiva do poema
3. Poema Ao Gás
4. Interpretação do poema
Introdução
Leitura expressiva do poema
O poeta continua a vaguear e sente-se cada vez mais oprimido perante uma cidade decadente e um povo sofredor. Esta angústia provoca o sentimento de evasão por parte do "eu", que, através da imaginação e da descrição do real, explicita a hipocrisia dos burgueses perante o trabalho honesto do povo.
Longas descidas! Não poder pintar Com versos magistrais, salubres e sinceros, A esguia difusão dos vossos reverberos, E a vossa palidez romântica e lunar! Que grande cobra, a lúbrica pessoa, Que espartilhada escolhe uns xales com debuxo! Sua excelência atrai, magnética, entre o luxo, Que ao longo dos balcões de mogno se amontoa. E aquela velha de bandós! Por vezes, A sua traîne imita um leque antigo, aberto, Nas barras verticais, a duas tintas. Perto, Escarvam, à vitória, os seus mecklemburgueses. Desdobram-se tecidos estrangeiros; Plantas ornamentais secam nos mostradores; Flocos de pós de arroz pairam sufocadores, E em nuvens de cetins requebram-se os caixeiros. Mas tudo cansa! Apagam-se nas frentes Os candelabros, como estrelas, pouco a pouco; Da solidão regouga um cauteleiro rouco; Tornam-se mausoléus as armações fulgentes. "Dó da miséria!... Compaixão de mim!..." E, nas esquinas, calvo, eterno, sem repouso, Pede-se sempre esmola um homenzinho idoso, Meu velho professor nas aulas de latim!
Ao Gás
E saio. A noite pesa, esmaga. Nos Passeios de lajedo arrastam-se as impuras. Ó moles hospitais! Sai das embocaduras Um sopro que arrepia os ombros quase nus. Cercam-me as lojas, tépidas. Eu penso Ver círios laterais, ver filas de capelas, Com santos e fiéis, andores, ramos, velas, Em uma catedral de comprimento imenso. As burguezinhas do Catolicismo Resvalam pelo chão minado pelos canos; E lembram-me, ao chorar doente dos pianos, As freiras que os jejuns matavam de histerismo. Num cutileiro, de avental, ao torno, Um forjador maneja um malho, rubramente; E de uma padaria exala-se, inda quente, Um cheiro salutar e honesto a pão no forno. E eu que medito um livro que exacerbe, Quisera que o real e a análise mo dessem; Casas de confeções e modas resplandecem; Pelas vitrines olha um ratoneiro imberbe.
Estrofe 2
Título: Ao Gás
A cidade está iluminada pela luz artificial dos candeeiros a gás.
Cercam-me as lojas, tépidas. Eu penso Ver círios laterais, ver filas de capelas, Com santos e fiéis, andores, ramos, velas, Em uma catedral de comprimento imenso.
Estrofe 1
E saio. A noite pesa, esmaga. Nos Passeios de lajedo arrastam-se as impuras. Ó moles hospitais! Sai das embocaduras Um sopro que arrepia os ombros quase nus.
Deambulação pela cidade: O eu iniciou a sua digressão ao "entardecer", prolonga-a pela noite dentro; transfiguração do real condicionada pela fraca luminosidade. Efeito opressivo do ambiente da cidade
Acentua-se a ideia de aprisionamento/ clausura Metáfora: efeito opressivo do ambiente doentio da cidade O sujeito poético sensibiliza-se com o sofrimento no interior dos hospitais e com os pobres mal vestidos e doentes, expostos às correntes de ar.
Estrofe 3
Estrofe 4
Num cutileiro, de avental, ao torno, Um forjador maneja um malho, rubramente; E de uma padaria exala-se, inda quente, Um cheiro salutar e honesto a pão no forno.
As burguezinhas do CatolicismoResvalam pelo chão minado pelos canos; E lembram-me, ao chorar doente dos pianos, As freiras que os jejuns matavam de histerismo.
O sujeito poético sensibiliza-se com a sorte das burguesinhas do catolicismo, comparando a sua dependência aos deveres do seu tempo (submissão à casa, devotas e beatas, educadas para o piano e as boas maneiras, sem vontade própria…) com a das freiras do antigamente (sujeitas aos jejuns e às crises de histerismo).
O "Eu" mostra apreciar as coisas autênticas e salutares da vida. Valorização das classes sociais baixas.
Estrofe 5
Estrofe 6
E eu que medito um livro que exacerbe,Quisera que o real e a análise mo dessem; Casas de confeções e modas resplandecem; Pelas vitrines olha um ratoneiro imberbe.
Longas descidas! Não poder pintar Com versos magistrais, salubres e sinceros, A esguia difusão dos vossos reverberos, E a vossa palidez romântica e lunar!
O "eu" lírico revela a sua intenção de intervir na sociedade: fantasia escrever um livro que exacerbe, que cause impacto. Mostra pouca simpatia pelas casas de confeções e modas, crítica ao ambiente e classe dos burgueses.
O sujeito poético demonstra a sua insatisfação perante as ruas da cidade, que não pode descrever com versos salubres nem magistrais, pois estas ruas são melancólicas e associadas ao terror.
Estrofe 7
Estrofe 8
Que grande cobra, a lúbrica pessoa,Que espartilhada escolhe uns xales com debuxo! Sua excelência atrai, magnética, entre o luxo, Que ao longo dos balcões de mogno se amontoa.
E aquela velha de bandós! Por vezes, A sua traîne imita um leque antigo, aberto, Nas barras verticais, a duas tintas. Perto, Escarvam, à vitória, os seus mecklemburgueses.
O sujeito poético revela rispidez perante os que, apoiados pela sorte, são atraídos pelo luxo e pela futilidade, crítica aos burgueses.
O "eu" opõe-se à ostentação, ao luxo. Crítica aos burgueses.
Estrofe 9
Estrofe 10
Desdobram-se tecidos estrangeiros;Plantas ornamentais secam nos mostradores; Flocos de pós de arroz pairam sufocadores, E em nuvens de cetins requebram-se os caixeiros.
Mas tudo cansa! Apagam-se nas frentes Os candelabros, como estrelas, pouco a pouco; Da solidão regouga um cauteleiro rouco; Tornam-se mausoléus as armações fulgentes.
O sujeito poético diz sentir-se cansado de toda aquela loucura que é a cidade e dá atenção aos mais fracos. Decadência do ambiente social.
O sujeito poético mostra não concordar com o comportamento dos clientes das lojas da moda, crítica ao espaço e classe burgueses. Valorização das classes sociais baixas.
Resumo
Estrofe 11
Este excerto constitui uma espécie de súmula de alguns dos temas fulcrais da poesia de Cesário Verde. Assim, para além da variedade de figuras femininas presentes, as outras "personagens" ora são um meio de o poeta expressar a sua solidariedade pelos excluídos, ora um meio de concretizar a pintura da cidade, que aqui aparece, como é constante nos poemas de Cesário, como símbolo de dor, sofrimento, solidão, até de vencidismo - "Mas tudo cansa!". Por oposição, surge, implicitamente, uma ténue alusão ao campo, modelo de saúde, vida, força - "Um cheiro salutar e honesto a pão no forno". Finalmente, dever-se-á ainda referir a fuga imaginativa presente na segunda estrofe ("Eu penso / Ver círios laterais, ver filas de capelas...") e na décima estrofe ("Tornam-se mausoléus as armações fulgentes").
"Dó da miséria!... Compaixão de mim!..."E, nas esquinas, calvo, eterno, sem repouso, Pede-se sempre esmola um homenzinho idoso, Meu velho professor nas aulas de latim!
O sujeito poético mostra compaixão pelos desfavorecidos, no caso concreto do seu velho professor de latim, e repulsa pelo desprezo a que, simbolicamente, foram deitados os valores culturais do país. Decadência do ambiente social.
- As impuras que se arrastam nos passeios de lajedo.
- Um cauteleiro regouga, solitário.
- Personagens imaginadas: santos em capelas, com círios, andores, ramos, velas.
- Um forjador de avental e os padeiros no fabrico do pão.
- O ratoneiro imberbe que olha pelas vitrinas.
ESPAÇO
Este poema desenvolve-se com o deambular do sujeito poético nas ruas da cidade.
TEMPO
Num determinado período da noite.
SENSAÇÕES
PERSONAGENS
- Táteis ("Um sopro que arrepia os ombros quase nus");
- Auditivas ("...ao chorar doente dos pianos"; "Da solidão regouga um cauteleiro rouco"; "Pede-me sempre esmola");
- Olfativas ("exala-se, inda quente / Um cheiro salutar e honesto a pão no forno"; "Flocos de pós-de-arroz pairam sufocadores");
- Visuais ("E a vossa palidez romântica e lunar!")
- As burguesinhas do catolicismo (seres desprezíveis, insignificantes, que se deslizam pelo chão dos canos).
- A velha, de bandós, de vestido com traine, e os mecklemburgueses.
- Pessoa lúbrica comparada a uma cobra.
- O homenzinho idoso que exclama "Dó da miséria!...Compaixão de mim!...", e nas esquinas pede esmola, que é o velho professor de latim do Poeta.
análise formal
figuras de estilo
- Apóstrofe “Ó moles hospitais! Sai das embocaduras”, v. 3
- Enumeração “Com santos e fiéis, andores, ramos, velas”, v.7
- Sinestesia “Um cheiro salutar e honesto a pão no forno”, v.16, “moles hospitais”, v.3 e “lojas tépidas” v. 5
- Tripla adjetivação “Com versos magistrais, salubres e sinceros”, v. 22;
- Metáfora “Que grande cobra, a lúbrica pessoa”, v. 25
- Dupla adjetivação “E nas esquinas, calvo, eterno, sem repouso”, v. 42.
O poema é constituído por onze quadras, com versos decassilábicos (1º verso de cada quadra) e alexandrinos (restantes versos). A rima é emparelhada (2º e 3º verso de cada quadra) e interpolada (1º e 4º verso de cada quadra). Esquema rimático: ABBA
obrigada pela vossa atenção!