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Ode à diferença

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Created on March 22, 2023

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Poetas contemporâneos

Ode àDiferença

um poema de Ana Luísa Amaral que é mais que um poema

Biografia da Autora

Ana luísa amaral nasceu em Lisboa, a 5 de Abril de 1956. Escapou toda a sua vida de poetisa da homogeneidade um pouco fíciticia das gerações, e via o "transcendente" do quotidiano. Era uma académica emepenhada de boa companhia. Com um sentido de humor sagaz.

Este poema é um desabafo. Um desabafo sobre as diferenças - A autora conta-nos a sua opinião sobre o quão importante são (ou pelo menos começa com essa intenção) e o que é partilhado, para além de ser feito brilhantemente, tem uma mistura equilibrada de humor e senso comum. Que diferentes somos, de facto.

Ode à diferença
Interpretação e discussão

Felizmente. Somos todos diferentes. Temos todos o nosso espaço próprio de coisinhas próprias, como narizes e manias, bocas, sonhos, olhos que vêem céus em daltonismos próprios. Felizmente. Se não o mundo era uma bola enorme de sabão e nós todos lá dentro a borbulhar, todos iguais em sopro: pequenas explosões de crateras iguais. Assim e felizmente somos todos diferentes. Se não a terapia em grupo era um sucesso e o que é certo é sermos mais felizes a explorar solitários o nosso próprio espaço de manias, de traumas, de unhas dos pés invaloradas pela nossa cultura (que lá no Oriente o pé é o caso sério, motivo sensual e explorativo). Começa por aí: o mundo dividido por atávicos ritmos – e outras coisas somenos como guerras ou fomes

(Note Bem: a criatura é céptica e tem um gosto péssimo, mas veja-se outros textos que redimem em sério o que aqui diz. Cf. por ex. o que quiser, mas deixe a criatura regalar-se por se pensar – coitada – incómoda e sonora). Prova evidente de que somos diferentes, felizmente. Começa por aí: no mundo dividido – e continua e raças e raízes.

Tem boca como nós: não canta o fado. Tem pernas como nós: não dança o vira. Contenta-se – coitado – com flamencos chorados e falanges doridas. Somos todos diferentes, felizmente (Note Bem: [se a sua paciência ainda não fugiu despavorida – é sem dê, mas ela insiste em respeitar o ritmo –]: isto que a criatura repete e reafirma, quando em quando, não deve ser tomado em ligeireza como sinal senil [aliterou!], mas como tentativa suicida de oferecer unidade ao que o não tem, moralizar o texto a pouco e pouco, dar-lhe uma ideia igual, ser um mote formal a contrabalançar a tal prova evidente. Que de diferenças estamos todos cheios e isto pretendia-se uma ode e não foi). Felizmente

Nós somos portugueses, tão felizes, com tanta história atrás e tantos feitos, tantas coisinhas próprias de delícia: o mar que nos gerou, e o resto tudo, são bolas pequeninas de sabão a atestar da diferença do nosso irmão do lado, esse infeliz cheio de recalques de tradições e línguas, paella e calamares.

Relação Intersemiótica

Relaciono o facto de Ana Luísa "celebrar" as diferenças com a pintora tentar encontrar uma maneira de acabar com o medo que criámos de todos as termos. Uma visão entre a autora que acaba por desistir de uma ode para falar de divergências e de chegar a fazer pouco dessas mesmas, comparada com a intenção de Eri Iwasaki nas suas obras.

Obra: Distant Light, the World Begins, 2019Eri Iwasaki

"O mundo é isso. Um montão de gente, um mar de fogueirinhas. Cada pessoa com luz própria entre todas as outras."

Eduardo Galeano