SENTIMENTO DUM OCIDENTAL
"A NOITE FECHADA"
Cesário Verde
indíce
- Sobre o autor
- Poema
- Representação da cidade e dos tipos sociais
- Deambulação
- Perceção Sensorial
- Transfiguração do real
- Imaginário épico
- Recursos expressivos
Noite fechada (II)
Na parte que abateu no terremoto,
Muram-me as construções rectas, iguais, crescidas;
Afrontam-me, no resto, as íngremes subidas,
E os sinos dum tanger monástico e devoto.
Mas, num recinto público e vulgar,
Com bancos de namoro e exíguas pimenteiras,
Brônzeo, monumental, de proporções guerreiras,
Um épico doutrora ascende, num pilar!
E eu sonho o Cólera, imagino a Febre,
Nesta acumulação de corpos enfezados;
Sombrios e espectrais recolhem os soldados;
Inflama-se um palácio em face de um casebre.
Partem patrulhas de cavalaria
Dos arcos dos quartéis que foram já conventos:
Idade Média! A pé, outras, a passos lentos,
Derramam-se por toda a capital, que esfria.
Toca-se às grades, nas cadeias. Som
Que mortifica e deixa umas loucuras mansas!
O Aljube, em que hoje estão velhinhas e crianças,
Bem raramente encerra uma mulher de <<dom>>!
E eu desconfio, até, de um aneurisma
Tão mórbido me sinto, ao acender das luzes;
À vista das prisões, da velha Sé, das Cruzes,
Chora-me o coração que se enche e que se abisma.
A espaços, iluminam-se os andares,
E as tascas, os cafés, as tendas, os estancos
Alastram em lençol os seus reflexos brancos;
E a Lua lembra o circo e os jogos malabares.
Duas igrejas, num saudoso largo,
Lançam a nódoa negra e fúnebre do clero:
Nelas esfumo um ermo inquisidor severo,
Assim que pela História eu me aventuro e alargo.
Continuação
Triste cidade! Eu temo que me avives
Uma paixão defunta! Aos lampiões distantes,
Enlutam-me, alvejando, as tuas elegantes,
Curvadas a sorrir às montras dos ourives.
E mais: as costureiras, as floristas
Descem dos magasins, causam-me sobressaltos;
Custa-lhes a elevar os seus pescoços altos
E muitas delas são comparsas ou coristas.
E eu, de luneta de uma lente só,
Eu acho sempre assunto a quadros revoltados:
Entro na brasserie; às mesas de emigrados,
Ao riso e à crua luz joga-se o dominó.
Charles Courtney Curran (1861-1942), Paris at night, 1889
Sobre o autor
- José Joaquim Cesário Verde foi um poeta português, considerado um dos pioneiros, precursores da poesia em Portugal no século XX.
1887
1877
25 de fevereiro de 1855
- Primeiros sintomas de tuberculose pulmonar
- Publicação de "O Livro de Cesário Verde" por Silva Pinto.
1873
19 de julho de 1886
- Matriculou-se no ensino Superior de Letras
- Morreu de tuberculose, aos 31 anos
REPRESENTAÇÃO DA CIDADE E DOS TIPOS SOCIAIS
Neste excerto, Cesário Verde descreve Lisboa, pela qual caminha durante a noite até de madrugada, fazendo refêrencias a vários aspetos da cidade e dos habitantes que nela vivem.
- Crítica social ao clero (entrave para a evolução da sociedade)
- Antagonismo social
- Sociedade aborrecida e tóxica
- Floristas e costureiras, representam a classe social baixa que trabalha noite e dia
- Cidade confusa, ruidosa, sem interesse e sufocante
- Grande movimento noturno, nomeadamente a prostituição
- Ruas com grandes colinas
DEAMBULAÇÃO
- Cesário Verde vagueava pela cidade, repleto de emoções. Exemplo disso, é o sofrimento que lhe causa o som das grades das prisões.
- O autor demonstra também desgosto ao ver as mulheres à noite, o que reflete a sua grande preocupação com os mais desfavorecidos.
- Aborda também temas como a morte e a doença, quando faz referências à febre, cólera e aos corpos enfezados.
- Refere-se a uma desigualdade social , ao observar um palácio que indica riqueza, em frente a um casebre,que indica o contrário.
Perceção sensorial
Ao longo do poema, Cesário Verde consegue transmitir todos os pormenores que observou e sensações e emoções que sentiu, durante a sua caminhada noturna por Lisboa. As sensações causadas pelo autor são transmitidas através dos cinco sentidos, nomeadamente: -Olfato -Visão (remete para a escuridão da noite) -Audição (por exemplo os ruídos nas grades da cadeia) -Tato No entanto, ao longo do poema o autor apela aos seus leitores, sensações de morte, devido à epidemia na cidade, e sensações de prisão, pelo ambiente sombrio.
Transfiguração do real
- Cesário Verde ficou conhecido pela sua criatividade. Não se contentava com o simples e óbvio à vista de qualquer um, e tentava ir mais além com a sua imaginação.
- A sua alternativa da realidade, representava a sua fuga áquilo que acontecia realmente.
Imaginário ÉPICO
Para demosntrar a grandiosidade desta obra, Cesário Verde faz referência a Luís Vaz de Camões, considerado uma das maiores figuras da literatura lusófona e um dos grandes poetas da tradição ocidental. Um exemplo desta alusão é o seguinte: "Mas num recinto público e vulgar, Com bancos de namoro e exíguas pimenteiras,Brônzeo, monumental, de porporções guerreiras,Um épico de outrora ascende, num pilar!"
Estátua de Bronze de Victor Bastos (1860-1867)
Recursos expressivos
EXEMPLOS:
Enumeração-
“E as tascas, os cafés, as tendas, os estancos” v10
"Nelas esfumo um ermo inquisidor severo” v15
Metáfora-
COMPARAÇÃO -
"E a Lua lembra o circo e os jogos malabares. " v12
adjetivação-
“nódoa negra e fúnebre” v14
Renato Leal — “Rossio” (1997-1998)
Leonor Ramos/ Nº20 Mariana Gomes/Nº23 Rita Passão/ Nº27 Carolina Ramos/ Nº2
¡Obrigada!
"A Noite Fechada"
rittapassao
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SENTIMENTO DUM OCIDENTAL
"A NOITE FECHADA"
Cesário Verde
indíce
- Sobre o autor
- Poema
- Representação da cidade e dos tipos sociais
- Deambulação
- Perceção Sensorial
- Transfiguração do real
- Imaginário épico
- Recursos expressivos
Noite fechada (II)
Na parte que abateu no terremoto, Muram-me as construções rectas, iguais, crescidas; Afrontam-me, no resto, as íngremes subidas, E os sinos dum tanger monástico e devoto. Mas, num recinto público e vulgar, Com bancos de namoro e exíguas pimenteiras, Brônzeo, monumental, de proporções guerreiras, Um épico doutrora ascende, num pilar! E eu sonho o Cólera, imagino a Febre, Nesta acumulação de corpos enfezados; Sombrios e espectrais recolhem os soldados; Inflama-se um palácio em face de um casebre. Partem patrulhas de cavalaria Dos arcos dos quartéis que foram já conventos: Idade Média! A pé, outras, a passos lentos, Derramam-se por toda a capital, que esfria.
Toca-se às grades, nas cadeias. Som Que mortifica e deixa umas loucuras mansas! O Aljube, em que hoje estão velhinhas e crianças, Bem raramente encerra uma mulher de <<dom>>! E eu desconfio, até, de um aneurisma Tão mórbido me sinto, ao acender das luzes; À vista das prisões, da velha Sé, das Cruzes, Chora-me o coração que se enche e que se abisma. A espaços, iluminam-se os andares, E as tascas, os cafés, as tendas, os estancos Alastram em lençol os seus reflexos brancos; E a Lua lembra o circo e os jogos malabares. Duas igrejas, num saudoso largo, Lançam a nódoa negra e fúnebre do clero: Nelas esfumo um ermo inquisidor severo, Assim que pela História eu me aventuro e alargo.
Continuação
Triste cidade! Eu temo que me avives Uma paixão defunta! Aos lampiões distantes, Enlutam-me, alvejando, as tuas elegantes, Curvadas a sorrir às montras dos ourives. E mais: as costureiras, as floristas Descem dos magasins, causam-me sobressaltos; Custa-lhes a elevar os seus pescoços altos E muitas delas são comparsas ou coristas. E eu, de luneta de uma lente só, Eu acho sempre assunto a quadros revoltados: Entro na brasserie; às mesas de emigrados, Ao riso e à crua luz joga-se o dominó.
Charles Courtney Curran (1861-1942), Paris at night, 1889
Sobre o autor
1887
1877
25 de fevereiro de 1855
1873
19 de julho de 1886
REPRESENTAÇÃO DA CIDADE E DOS TIPOS SOCIAIS
Neste excerto, Cesário Verde descreve Lisboa, pela qual caminha durante a noite até de madrugada, fazendo refêrencias a vários aspetos da cidade e dos habitantes que nela vivem.
DEAMBULAÇÃO
Perceção sensorial
Ao longo do poema, Cesário Verde consegue transmitir todos os pormenores que observou e sensações e emoções que sentiu, durante a sua caminhada noturna por Lisboa. As sensações causadas pelo autor são transmitidas através dos cinco sentidos, nomeadamente: -Olfato -Visão (remete para a escuridão da noite) -Audição (por exemplo os ruídos nas grades da cadeia) -Tato No entanto, ao longo do poema o autor apela aos seus leitores, sensações de morte, devido à epidemia na cidade, e sensações de prisão, pelo ambiente sombrio.
Transfiguração do real
Imaginário ÉPICO
Para demosntrar a grandiosidade desta obra, Cesário Verde faz referência a Luís Vaz de Camões, considerado uma das maiores figuras da literatura lusófona e um dos grandes poetas da tradição ocidental. Um exemplo desta alusão é o seguinte: "Mas num recinto público e vulgar, Com bancos de namoro e exíguas pimenteiras,Brônzeo, monumental, de porporções guerreiras,Um épico de outrora ascende, num pilar!"
Estátua de Bronze de Victor Bastos (1860-1867)
Recursos expressivos
EXEMPLOS:
Enumeração-
“E as tascas, os cafés, as tendas, os estancos” v10
"Nelas esfumo um ermo inquisidor severo” v15
Metáfora-
COMPARAÇÃO -
"E a Lua lembra o circo e os jogos malabares. " v12
adjetivação-
“nódoa negra e fúnebre” v14
Renato Leal — “Rossio” (1997-1998)
Leonor Ramos/ Nº20 Mariana Gomes/Nº23 Rita Passão/ Nº27 Carolina Ramos/ Nº2
¡Obrigada!