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EVOLUÇÃO DA EMPATIA

Aline Karen Cristina Canella

Created on August 30, 2021

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Transcript

Por: Aline Karen Cristina CanellaMestranda em Filosofia pela Universidade de Caxias do Sul.

A EVOLUÇÃO DA EMPATIA E IMPLICAÇÕES ÉTICAS

Segundo a teoria evolucionista, as nossas capacidades sociais se modificaram pelas pressões sentidas em ambientes pré-históricos. Exercitamos as habilidades que nos eram úteis e a cooperação permitiu para além das atividades em função da sobrevivência um acréscimo de tempo livre que pôde ser preenchido com outras capacidades. Dividir alimento e proteção otimizou e permitiu avanços tecnológicos importantes para o desenvolvimento da sociedade .

No cérebro humano uma rede neural especializada, que compreende áreas límbicas e neocorticais , é responsável por processar a empatia, que é estimulada por neuropeptídeos como a oxitocina (GONZALEZ-LIENCRES, et al.,2013, p. 1537). Estudos no âmbito da neurociência sugerem a empatia resulta de mecanismos cerebrais envolvidos no cuidado parental – tipicamente exercido por mamíferos com seus filhotes.

As habilidades empáticas, nesse contexto, devem ser entendidas como aquelas necessárias para compartilhar estados afetivos entre um agente e um terceiro. A neurociência também estuda essa relação – o cérebro teria sofrido modificações que permitiram estimular comportamentos pró-sociais, como ajudar, compartilhar, doar e cooperar.

Compara o cérebro humano com uma boneca matrioska

Frans de Waal

(WAAL, 1948, p.68)

Frans de Waal, primatólogo e etólogo classificou a empatia como um instinto que remontaria de antes mesmos do surgimento do ser humano moderno. Segundo o autor, a dependência dos filhotes de mamíferos foi essencial para o surgimento de tal instinto (WAAL, 1948, p.67), desenvolvido, conforme supramencionado, através do sistema límbico: o responsável pelo lado emotivo do cérebro. Nas palavras do autor:

[...] a evolução adicionou camada após camada, até nossos ancestrais não apenas sentiram o que os outros sentiram, mas compreenderam o que os outros poderiam querer ou precisar. A capacidade total parece ser montada como um Boneca russa. Em seu núcleo está um processo automatizado compartilhado com uma infinidade de espécies, cercado por camadas externas que ajustam seu objetivo e alcance.

David hume

A impressão moral é verificada do ponto de vista social

A filosofia vai começar tratar a empatia como um fenômeno que pode ser aplicado às questões éticas no século XVIII através da teoria de David Hume (1711-1776). Hume, um filósofo, economista e historiador, argumentou que a base da moralidade era a emoção, não a razão. Hume inovou em seu tratado, propondo a empatia como um canal para a ética – e nesse sentido, foi um pioneiro a descrever as propriedades da empatia, que ele chamará de simpatia. David Hume foi um elemento essencial para explicar questões morais. Portanto, uma breve introdução ao autor é necessária para incorporar o contexto fornecido nesta explicação. Em resumo, David Hume entende a ética com base em sua teoria empírica da mente. Essa teoria acredita que o conhecimento vem por meio da experiência sensorial (HUME, 2000, p.12).

As distinções morais estão enraizadas por sentimentos como aprovação e respeito ou desaprovação e culpa. Nesse caso, os vícios e virtudes são considerados impressões, não ideias. A impressão do vício é para a dor e a impressão de virtude é para o prazer (HUME, 2000, p.12).

Adam Smith

Concepção inerentemente social da empatia

Smith também desempenhou um papel importante no desenvolvimento histórico da chamada teoria do sentimentalismo moral. Para ele, a teoria moral evoluiu a partir da noção de que a sociedade é essencialmente ontológica. Para Smith, todas as emoções egoístas ou benevolentes surgem da socialização. Outra distinção de Adam Smith é seu profundo respeito pela individualidade das pessoas e sua capacidade de livre arbítrio. Assim, a autotransformação moral é impulsionada por pressão social, mas realizada por indivíduos.

Na visão de Smith, avaliamos moralmente a partir da internalização de nossas percepções sobre os espectadores imparciais. Isso porque agimos moralmente pela demanda de sermos amados, uma vez que parte da felicidade humana, na visão do autor, surge da consciência de ser aceito e amado, querido socialmente. A violação desta demanda pelo agir antiético causaria por si mesma um desconforto interno que impossibilita o self a encontrar harmonia, componente importante para se obter tranquilidade e com ela a felicidade. Como a moralidade gera a felicidade, para Adam Smith, não existe conflito entre a moral e a busca pela felicidade – pautada em demandas sentimentais.

Charles Darwin

Um viés evolucionista sobre o tema da moralidade

Na época dele, as vertentes tendiam a apontar que o senso moral seria adquirido ao longo da vida. Mas Darwin defendeu uma posição diferente – que os sentimentos sociais, responsáveis em última análise pelos julgamentos morais, possuem uma origem instintiva inata que se desenvolve através de processos biológicos. São os chamados instintos sociais (DARWIN, 1871, p. 81-82). Esses instintos levariam os indivíduos a terem satisfação em integrar determinado grupo – adquirindo empatia por seus companheiros e vontade de executar tarefas em benefício do grande grupo. É importante ressaltar, no entanto, que esse mecanismo funciona melhor entre membro do mesmo grupo, da mesma tribo. Não necessariamente entre todos os membros da mesma espécie. Tais habilidades, quando desenvolvidas, permitem ao indivíduo criar imagens de experiências passadas que criam impressões vivas e duradouras.

Com o desenvolvimento da linguagem os desejos da comunidade/tribo, vindos a partir dessas experiências, são expostos e entendidos como uma opinião comum de como cada membro daquele ciclo social deve agir pelo bem público. Ou seja: cria-se uma moralidade que se torna um guia para ações. Por mais que a racionalidade esteja envolvida neste processo, é a nossa consideração pela aprovação ou desaprovação dos companheiros que delimita nosso agir, pautado na simpatia, que para fins dessa exposição estaremos usando como sinônimo de empatia. Para Darwin este seria um mecanismo responsável pela sobrevivência do eu em um grupo de indivíduos (DARWIN, 1871, p. 81-82).

Imagine que estamos assistindo a queda de um acrobata de circo e são capazes apenas de empatia com base na recordação de experiências anteriores. Meu palpite é que não reagiríamos até o momento em que o acrobata se deita em uma poça de sangue no chão. Mas é claro que não é isso que acontece. A reação do público é absolutamente instantânea: Centenas de espectadores proferem "ooh" e "aah" no mesmo instante em que o pé do acrobata escorrega. (WAAL, 1948, p.66)

Frans de Waal, já citado anteriormente, apresenta a empatia por uma perspectiva otimista: ele entende esta como um mecanismo para a construção de uma sociedade solidária. Para o autor, assim como Darwin, a empatia também possui um aspecto instintivo, quase que automático. Uma das questões ressaltadas por ele foi a do imediatismo das reações empáticas.

CONCLUSÕES

As pesquisas em torno da empatia normalmente tomam o cuidado de exemplificar o que se quer dizer ao se utilizar deste termo. Isso porque o conceito de empatia é amplo. No presente caso, a empatia foi utilizada para se referir a um conceito que se refere à uma capacidade psicológica ligada a saber o que outros membros da espécie estão pensando para além da comunicação oral - a partir de percepções emocionais cultivadas por experiências anteriores.

Em conclusão prévia é possível reforçar o valor e a necessidade da pesquisa interdisciplinar como fomentadora de discussões no âmbito da filosofia. A neurociência, a biologia e ciências sociais podem ser aliadas indispensáveis para a criação e elaboração de novas hipóteses filosóficas pertinentes para o estudo de questões éticas. Entender comportamentos humanos – e também, porque não, de outros mamíferos – é de extrema necessidade para o avanço das pesquisas sobre comportamentos morais.

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001. Endereço eletrônico para contato: akccanella@ucs.br.