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Apresentação Oralidade e calypso afrolimonense

marialaurastephen

Created on May 1, 2021

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Transcript

My people black people, get back to our roots, we have to unite, and then we star to claim our people rights

Objetivos

Objetivos específicos

1. Realizar uma revisão conceitual da oralidade e das abordagens a partir das quais foi estudada, com base nos seguintes autores/as:Walter Ong, Erick Havelock, Martin Lienhard, Silvia Rivera Cusicanqui y Amadou Hampâté Bâ.

Objetivo geral

Analisar as contribuições epistemológicas da oralidade à luz do calypso afrolimonense.

2. Compreender algumas das causas da invisibilidade da tradição oral, como forma de transmissão e construção do conhecimento, a partir dos conceitos de violência epistêmica e racismo epistêmico.

3. Reivindicar a oralidade no campo da epistemologia, a partir dos eixos principais da filosofia intercultural latino-americana e da noção de interculturalidade epistêmica.

4. Mencionar as contribuições epistemológicas da oralidade à luz do calypso afrolimonense, no marco da filosofia intercultural latino-americana, proposta pelo Raúl Fornet-Betancourt, e da filosofia comprometida, proposta pelo Juan José Bautista Segales.

"Na África, cada ancião que morre, é uma biblioteca que se queima"

Amadou Hampâté Bâ

Conceitualização da oralidade a partir de diferentes abordagens, limites e alcances

Walter Ong (1912-2003) padre jesuíta, filósofo, filólogo, historiador cultural e lingüista estadunidense.

Martin Lienhard (1946-) de origem suíça, especializou-se na área de estudos da América Latina e africanos.

Erick Havelock (1903-1988) filólogo e filósofo, de origem britânica, especializado em literatura e filosofia clássicas.

O calypso afrolimonense como exemplo de tradição oral das comunidades afro-caribenhas

Amadou Hampâté Bâ (1900-1991) escritor e etnólogo do Mali.

Silvia Rivera Cusicanqui (1949-) Ativista aymara e socióloga da imagem.

Fetichização da escrita alfabética ocidental

Sem querer participar diretamente desse debate, desejo esclarecer que, nas sociedades ameríndias, a "oralidade" era - e continua sendo - um sistema semiótico multimídia complexo, que não se baseava apenas na comunicação verbal oral, mas também na mídia -plástica, gráfica, coreográfica, gestual, musical, rítmica- mais variada. Falar de "sociedades sem escrita" é, portanto, tendencioso. Longe de ignorar a comunicação gráfica, várias culturas “orais” ameríndias até contemplaram a possibilidade de usar a “escrita” para a notação de palavras ou discursos inteiros. Pense, por exemplo, nos glifos mesoamericanos ou no sistema -tátil e visual- dos kipus andinos (ver capítulo I). O que pode e deve ser admitido, em vez disso, é que nenhuma dessas sociedades fetichizou a notação gráfica (ou tátil) do discurso (LIENHARD, 1991, p. 25).

Raúl Fornet-Betancourt afirma que:A oralidade não somente transmite conteúdo, mas também os processa, diferencia e discerne. A oralidade na escola não se limita a transmitir conhecimento: ela sanciona o conhecimento; não é simplesmente tradição: é futuro, por isso processa o conhecimento. Por isso oralidade não deve ser confundida com analfabetismo, mas também não deve ser vista como uma tradição fechada (2007, p. 38).

"Nací calypsero y moriré calypsero" Walter “Gavitt” Ferguson

  • Fiz uma breve contextualização sócio-histórica do calypso afrolimonense, suas raízes, principais influências e manifestações na Costa Rica.
  • Aprofundei na definição do Calypso e em conceitos como calypsonians, storytellers e a ligação entre os dois últimos e os griots.
  • Incorporei na análise os conceitos de comunidade diaspórica e negritude transnacional, trabalhados por Dorothy Mosby (2003/ 2012).

Neste IV capítulo

Referentes

Dorothy Mosby, que tem se dedicado aos estudos da diáspora africana, especialmente no campo literário

Manuel Monestel Ramírez (Cantor e compositor costarriquenho, sociólogo e pesquisador de música e culturas afro-descendentes)

Quince Duncan Moodie, escritor e historiador afro-costarriquenho

Valeria Grinberg Pla, doutora e professora especializada em literatura e cultura afrodescendente em América Central

Everard Mark Phillips, filósofo trinitariano

Fontes orais

A experiência do “Pai do calypso costarriquenho” Mista Walter “Gavitt” Ferguson, por meio de vídeos e as suas músicas.

Danny Williams, calypsonian da CahuitaVocalista do grupo musical "Kawe Calypso"

A terra do calypso

Com respeito às raizes do calypso, Phillips (2005) afirma o seguinte: Os ritmos do Calypso remontam aos primeiros africanos escravizados que foram trazidos para trabalhar nas plantações de açúcar de Trinidad. Proibidos de se falar em sua própria língua e despojados de todos os laços com a família e com o lar, esses africanos escravizados começaram a entoar músicas que expressavam seu descontentamento e seu anseio por suas terras e famílias ancestrais. Eles usaram este tipo inicial do Calypso como um meio de comunicação entre eles e como um meio para zombar-se dos escravistas (p.13).

A terra do calypso

O calypso se origina "nas ilhas Antilhas, especificamente em Trinidad, durante o período colonial, no contexto das explorações escravagistas (Monestel, 2005, p. 22).

Como o aponta Monestel (2005) o calypso se espalhou por diferentes áreas do Caribe, devido às migrações em face da crescente demanda por mão de obra barata nas últimas décadas do século XIX e nas primeiras décadas do século XX.

Calypso surge neste contexto de opressão e escravidão, mas também de resistência e emancipação, e como parte disso se caracteriza por ser:

“Uma música de denúncia, informação e transmissão de fatos sobre a vida e a história social do povo afro-caribenho” (MONESTEL, 2005, p. 22), na voz dos calypsonians

Calypso afrolimonenseDe onde soam as suas raízes?

Em cada uma das localizações por onde o calipso chegou, ele adquiriu uma série de características particulares

Segundo fontes orais coletadas pelo Monestel (2005), o calypso circula em Limón desde, aproximadamente, 1930. A partir de 1980 passou a marcar presença na capital do país, San José.

Puerto Limón

Aspectos históricos, culturais, econômicos e sociais relacionados à população afrodescendente na Costa Rica.

O calypso afro-limonense transmite as experiências e os problemas da população afrodescendente da Costa Rica.

Racismo do Estado costarriquenho no final do século XIX e início do século XX.

Exclusão da província de Limón, e sua população, do imaginário da "identidade nacional costarriquenha".

A música limonense também foi enriquecida pelos processos migratórios

Ligação com o mento jamaicano

Influências caribenhas

O calypso afrolimonense recebeu influências do mento, da origem jamaicano, do calypso panamenho e, do nativo, calypso trinitário, do son cubano e influências mais contemporâneas, a partir dos anos 80, do reggae e da salsa (MONESTEL, 2005, p. 27).

Monestel afirma que o calypso do caribe costarriquenho é produto da fusão entre o mento jamaicano e o calypso de Trinidad (2005, p. 33).

A relação de Limón com o Caribe insular e continental

Comunidade diaspórica e negritude transnacionalMosby (2012):

Conexões mantidas por pessoas, povos, localidades, entre outros, ao longo do Caribe insular e continental, que vão alem das fronteiras impostas pelos Estados-Nação.

Banjo

Conga

Quijongo Limonense

Quijongo limonense

Quijongo guanacasteco

Epistemologia y tradição oral afro-caribenha: mecanismos usados no calypso afrolimonense para a transmissão dos conhecimentos

Hampâté Bâ (2010), as comunidades onde a tradição oral persiste têm gerado mecanismos para regular o processo de transmissão do conhecimento. Por exemplo: os guardiões da memória.

Essas pessoas gozam de grande prestígio na comunidade, pois a palavra, dentro das culturas orais, é algo sagrado e mágico.

Calypsonians, storytellers e os griots: guardiões da memória e do conhecimento

No calypso os calypsonians representam os guardiões da memória e do conhecimento

Os calypsonians assumem o papel de cronistas, repórteres, críticos sociais, pessoas dedicadas a transmitir as experiências de sua comunidade através da música, com o objetivo de gerar consciência social e cultural (MONESTEL, 2005).

Os calypsonians trinitários consideram o calypso parte da tradição oral de raízes africanas (GRINBERG PLA, 2008)

O calypsonian Brother Valentino expressa o seguinte no documentário “Calypso Dreams” (2004) sobre o conceito de calypsonian:

“Eu considero o kaisoniano como o velho contador de histórias africano, você sabe, aquela pessoa que vai de aldeia em aldeia apenas espalhando a palavra ... e como o velho contador de histórias africano ele é apenas o homem que deveria andar por aí e manter as boas ações e ações dos heróis vivos".

O calypsonian é mais do que um compositor convencional. Existe uma relação dos calypsonians com figuras ancestrais muito poderosas, como os griots, Obeah Man e Anansi (Monestel, 2005).

Quem são os griots?

Os Griots, segundo Amadou Hampâté Bâ (2010), são contadores de histórias ou animadores públicos, em geral pertencem à casta dos Dieli (pertencentes aos Bambara, localizados na África Ocidental, principalmente no Mali, mas também no Guiné, Burkina Faso e Senegal).

“O nome dieli em bambara significa sangue. De fato, tal como o sangue, eles circulam pelo corpo da sociedade, que podem curar ou deixar doente, conforme atenuem ou avivem os conflitos através das palavras e das canções” (Hampâté Bâ, 2010, p. 178).

A ligação entre calypsonians, griots, Anansi y Obeah man, não é uma abordagem nova. No caso do calypso afrolimonense, já foi indicado por Grinberg Pla (2008), Monestel (2005, 2010, 2012), Mosby (2003), para apontar alguns exemplos.

No entanto, considero que essa relação e suas implicações epistemológicas não foram estudadas em profundidade.

Alguns calypsonians afrolimonenses:

Walter "Gavitt" Ferguson Byfield

Robert Kirlew Kirlew "Buda"

Joseph Darkings "Papa Tun"

Herberth Glinton "Lenky"

Edgar Hutchinson "Pitún Ollé"

Reynaldo Johnson y Grupo Ashanti

Reynaldo Kenton "Shanty"

Donald "Danny" Williams Shirley

Cyril Silvan

As fotos deJoseph Darkings Papa Tun, Edgar hutchinson Pitún, Reynaldo Johnson y Grupo Ashanti foram tiradas do livro do Monestel (2005) "Ritmo, canción e identidad. Una historia sociocultural del calypso limonense".

Kawe Calypso

Alfonso Goulbourne

Danny Williams

Junior Álvarez

A história de Limón através do calypso

A história de Limón através do calypso

Walter Ferguson, denuncia, por meio das suas músicas:

  • Os impedimentos sofridos pela população afro-caribenha para obter a nacionalidade e o direito à cidadania na Costa Rica.
  • Como, no discurso oficial, ser afrodescendente e ser cidadão costarriquenho eram vistos como incompatíveis.

Muitos dos calypsos afrolimonenses denunciam, implícita ou explicitamente, várias situações injustas que os afrodescendentes têm vivido em território costarriquenho.

“One pant man” de Mista Ferguson

She made complain to the authority Tell them I am a foreigner They came with soldiers and artillery Compelling me to show them me cédula

Ela reclamou para as autoridades, dizendo que eu era estrangeiro, eles vieram com soldados e artilharia para exigir que eu mostrasse minha carteira de identidade.

One Pant Man: é um insulto, para referir-se a uma pessoa em extrema pobreza.

A história de Limón através do calypso

“Tacuma and Anansi’s party”

“Monilia”

“Cabin in the wata”

“Callalo”

Narra como a população de Cahuita foi despojada de seu território pelo Estado costarriquenho para a criação de um parque nacional, bem como a interferência de empresas transnacionais voltadas para o turismo.

Trata-se da praga de um fungo que afetou as lavouras de cacau da população de Cahuita na década de 1970.

É sobre uma comida afro-caribenha. É preparada, por exemplo, na Costa Rica, na Jamaica e em Trinidad.

Refere-se a vários personagens da tradição oral dos contos de Anansi.

"Zancudo" de Papa Tun

Tema: o problema da malária no Caribe costarriquenho

“Nowhere like Limón. Limón is the land of freedom” de Lenky

Tema: narra o sentimento de pertencer à comunidade afro-caribenha e a Limón.

“Marcus Garby” de Shanty y su calypso

Tema: figura histórica Marcus Garvey, líder jamaicano que lutou pelos direitos dos afro-descendentes.

Nova geração de calypsonians

Segundo Monestel “os novos calypsonians dão testemunho das mudanças e modificações sofridas pela vida e pela consciência social e cultural do povo Limonense ”” (p. 89).

Alguns dos seus calypsos:

  • Pandemia
  • Segundo
  • Buda Bands
  • Back to our roots (no novo CD)

Um exemplo é o calypsonian de Cahuita Danny Williams e o grupo musical Kawe Calypso

Outro aspecto de grande relevância é que o calypso é cantado em crioulo.

Como aponta Fanon "Falar é usar uma certa sintaxe, possuir a morfologia desta ou daquela língua, mas é, antes de tudo, assumir uma cultura, suportar o peso de uma civilização" (2009, p. 334).

Isso permite-lhes ter o poder de agenciar sua auto-representação.

Helen Simons, que foi regidora de Cahuita, destaca no documentário da UNED “El trovador de Cahuita”: "Muitas pessoas não conhecem Cahuita, mas conhecem a música de Don Gavitt e conhecem a nossa história através dessa música" (1999).

Em suma, o calipso afrolimonense é uma memória viva de uma comunidade diaspórica, que nos permite conhecer e aprender sobre múltiplos acontecimentos que, geralmente, não são contados ou documentados na chamada "história oficial".

CONCLUSÕES

Nesse contexto de violência e racismo epistêmico:

A oralidade tem sido classificada como um sistema de comunicação pré-lógico, primitivo e selvagem.

Ong (1996) afirma que a tradição oral não permite o pensamento abstrato, portanto, para que a humanidade tenha acesso a formas mais complexas de pensamento, é necessário o surgimento da escrita.

Ong (1996) e Havelock (1996), argumentam que a escrita alfabética ocidental é um marco importante e determinante na passagem para a civilização e a história.

Conclusões

  1. Práticas mnemônicas, ritmo e movimento corporal têm sido estratégias cruciais para garantir a lembrança e a memória.
  2. Ong (1882/1996) e Havelock (1986/1996) argumentam que os fundamentos das culturas ocidentais estão na tradição oral, por exemplo: poemas homéricos, personagens como Jesus e Sócrates, a bíblia judaico-cristã.
  3. O paradoxo do estudo da oralidade e o paradoxo da linguagem, apontado por Havelock (1996).

Lienhard e Rivera Cusicanqui

As perspectivas com as quais estabeleci maior afinidade

  • Em sua análise, partem do contexto de conquista e colonização do continente americano.
  • A invisibilidade da tradição oral e a imposição da escrita como sistema único e oficial.
  • A matriz colonial deve ser levada em consideração no estudo da oralidade e da escrita, para entender a dinâmica de poder que coloca uns como superiores aos outros.
  • Amadou Hampâté Bâ,a tradição oral como memória viva e valor sagrado da palavra.
  • A oralidade é conhecimento total, não fragmentado.
  • Mecanismos de culturas orais para manter o rigor e fidelidade aos fatos.

Quais são as contribuições epistemológicas da oralidade, à luz do calypso afrolimonense?

Contribuições epistemológicas da oralidade à luz do calypso afrolimonense

Segundo García “Si leemos nuestra historia a través de los libros oficiales, no nos encontramos sino con la visión del otro. Por eso la tradición oral es una forma de reconstruir la historia y también de resistencia” (17 de setiembre, 2006).

Juan García, afro-equatoriano, "guardião da memória afro" ou “bambero”, falou que: “nos negaron la palabra, pero no el conocimiento” (17 de setiembre, 2006).

A oralidade permite o acesso a histórias, eventos, práticas, experiências, entre outros, que de outra forma não seria possível acessar. Muitas destas não aparecem na chamada “história oficial”.

Contribuições epistemológicas da oralidade à luz do calypso afrolimonense

Isso gera não só uma contribuição epistêmica, mas também educativa, pelo conhecimento que transmite e que preservou sobre a vida da população afro-costarriquenha e seu legado.

Conforme afirma Monestel (2005), podemos conhecer a história de Limón e do povo afrolimonense por meio desses contos cantados, ou seja, o calypso.

Contribuições epistemológicas da oralidade à luz do calypso afrolimonense

  • Rivera Cusicanqui (1987) aponta que a oralidade vai além da lógica instrumental e permite ao sujeito oprimido retomar o caráter de sujeito da história.
  • Isso implica um exercício de desalienação e descolonização.

Gera processos epistêmicos coletivos, nos quais a comunidade faz parte da construção do conhecimento e isso não se impõe como alheio a ela.

O calypso afrolimonense devolve a agência epistêmica à população afrodescendente na voz dos calypsonians.

Contribuições epistemológicas da oralidade à luz do calypso afrolimonense

O conhecimento que se transmite e se produz por meio dessa tradição oral cantada não é estático, está em constante renovação, respondendo ao ritmo da vida cotidiana.

Eles geram uma grande contribuição para a preservação da memória, através da criação de uma série de mecanismos para a transmissão oral do conhecimento.

Criação de práticas mnemônicas.Rimas, versos, décimas, contos, histórias, fábulas, poemas, músicas, entre outros onde o canto e o ritmo são vitais.

Contribuições epistemológicas da oralidade à luz do calypso afrolimonense

Os calypsonians são personagens realmente importantes, são os guardiões das experiências dos(as) afro-costarriquenhos (as) e afrodescendentes, preservadores de saberes e práticas ancestrais, e além disso exercem o valioso papel de manter vivo o calypso afrolimonense, declarado patrimônio cultural imaterial da Costa Rica.

É fundamental ouvir e a saber identificar todos(as) aqueles(as) griots que mantêm a palavra viva e com ela a memória.

O Calypso em geral e o afrolimonense em particular, como grande exemplo de tradições orais, tem conseguido sobreviver ao ataque dos sistemas de opressão

Pela eficácia dos mecanismos de transmissão do conhecimento: como o respeito à cadeia de transmissão, aos guardiões da memória, à própria língua e um aspecto fundamental é o seu caráter transfronteiriço, que o tornou até uma língua caribenha.